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Viagem para o 35

por MonstroDasCuecasRotas, em 17.05.16

 

Foi com a mala cheia de sonhos que parti para Lisboa. Fazer uma viagem sozinho pelo Benfica é algo que acaba por nunca acontecer, porque há sempre mais gente a fazer o mesmo que nós. Entrar num avião e ver tanta gente equipada à Benfica logo de madrugada já nem sequer é surpreendente, é a coisa mais natural do mundo. Ia à espera de ser feliz, acreditava muito que o seria, mas não imaginava quanto. E se fora do estádio companhia já sabia que teria, dentro dele achei que veria o jogo sem ela. Parvoíce minha, claro, tal não é possível, estamos a falar do Benfica. Fiquei no meio de dois grandes benfiquistas, também eles de viagem, de longe, cantando juntos, que me ofereceram cervejas, que me abraçaram nos festejos como se fôssemos amigos de longa data, que me abraçaram sem festejos na mesma só porque sim, porque era o Benfica, porque não há irmandade igual, porque estávamos todos em casa, entre família. Não sei o nome deles, mas não me devo esquecer das suas caras tão cedo, afinal foi com eles que testemunhei e festejei o épico 35.

 

Já tive momentos de grande euforia na Luz, mas nunca senti felicidade tão genuína como no primeiro e segundo golo. No segundo, percorreu-me um tal sentimento de realização que parecia que ia desmaiar. Já via estrelas, não sei se de gritar para além daquilo que seria recomendável, se de alegria, se de alívio, se de tudo isso junto. Foi fantástico ver aquela gente toda descomprimir um pouco e começar finalmente a sentir-se campeã, depois de uma época tão insuportavelmente desgastante. Todas as pessoas com quem falei diziam que já só queriam que aquilo acabasse depressa. O apito final deixou isso claro, pouco tempo depois de soar e de se ouvir a grande celebração, já poucos tinham força para mais, parecíamos maratonistas acabados de passar a meta, deitados no chão a ofegar.

 

A época foi novidade pela quantidade, variedade e regularidade com que as dificuldades e desafios se foram apresentando. Ninguém estava preparado para tanto jogo sujo, tanta baixeza e falta de respeito como aqueles de que fomos vítimas toda a época. Creio que nem a Estrutura do Benfica estava preparada para isso, e como tal muito menos estariam os adeptos. Contra um rival capaz de abdicar da honra para alcançar a glória e que acabou sem glória e honra muito menos, fomos capazes de manter o nível e conseguir alcançar a glória sem beliscar a honra, que é algo que nos deve encher de orgulho a todos.

 

Tentando individualizar os méritos o menos possível, quero antes de mais realçar a existência de uma criatura mitológica que afinal provou existir e cujos méritos são cada vez mais incontornáveis. Uma tal de Estrutura, cada vez mais feita de Nós, de Todos e não de Eu. E isto acontece quer no discurso da equipa técnica, quer no discurso da direção, como deve ser.

 

Rui Vitória tornou-se um caso sério de popularidade entre os benfiquistas, não apenas porque ganhou, mas pela forma como ganhou. Não há mais à Benfica do que o seu percurso desde que chegou. Conquista o seu lugar e a confiança de todos a pulso, à custa do seu trabalho, do seu mérito, sem qualquer tipo de campanha artificial, sem mimos. E em gestos como aquele que teve com Paulo Lopes se percebe que a sensibilidade de um treinador vai muito para além da parte meramente técnica. Enorme em toda a linha.

 

Na linha de Rui Vitória, aliás, coloco Jardel, que quero absolutamente individualizar, por obedecer ao mesmo padrão. Há algum jogador com um percurso mais à Benfica do que Jardel? Não creio. Mérito absoluto na forma como passa de um jogador dispensável a um jogador de alta fiabilidade, um autêntico capitão, às portas de se tornar um imortal do clube. Uma palavra também para Renato, que, a certa altura da época, graças à sua qualidade, irreverência e liderança, levou a equipa para a frente e, mesmo sendo vítima de uma campanha baixa e reles, foi capaz de não perder o foco e a confiança, acabando já mais tarde por ceder, mas ao cansaço. E, como não poderia deixar de ser, Jonas. Mais do que um goleador de exceção, um futebolista de exceção, que joga, faz jogar e faz o futebol parecer algo muito simples. Uma técnica sublime, mas uma leitura de jogo melhor ainda, é um jogador que me enche completamente as medidas. Ficarei bastante preocupado se o vir sair no fim da época. Outros jogadores foram essenciais, numa ou noutra fase da época, com maior ou menor regularidade, como Nélson Semedo (e mesmo Gonçalo Guedes), Victor Lindelöf, Eliseu, André Almeida, Fejsa, Samaris, Pizzi, Nicolás Gaitán, Mitroglou, Raúl, Júlio César, Ederson, mas creio que Jardel, Renato e Jonas merecem uma palavra especial.

 

Agora é ganhar a Taça da Liga, que quero e adoro ganhar. E começar a pensar no 36. Será muito pedir que o Benfica chegue primeiro aos 40 títulos nacionais do que o Sporting aos 20 e o FC Porto aos 30? Talvez sim. Ou talvez não. Sonhar não custa.

 

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publicado às 14:00


2 comentários

De João Paulo Gonçalves a 17.05.2016 às 22:10

Muito boa análise.
Subscrevo tudo.
Sexta feira há mais uma taça para ganhar.

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