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Este não é esse tipo de texto

por Zlatan, em 21.05.16

 

Há uns 20 anos, a SIC transmitia um programa de grande sucesso para a altura chamado “Perdoa-me”. Para o leitor que não está familiarizado com o programa, o título do mesmo é auto-explicativo. Duas pessoas, amigos, irmãos, familiares, iam ao programa numa tentativa de fazerem as pazes, após se terem afastado por qualquer motivo. Era tudo muito bonito. Os dois reconheciam que tinham errado, que tinham dito coisas sem pensar, que deviam ter tido mais paciência e que se calhar até exageraram nas reacções. Acho que já perceberam onde quero chegar. Mas não vai ser esse tipo de texto que vou escrever.

 

Isto não é um pedido de desculpas ao Rui Vitória, ao Vieira, ao plantel do Benfica ou a todos aqueles que sempre acreditaram no sucesso desta equipa. Eu nunca acreditei, nunca escrevi em caps a exigir apoio ou respeito, nem nunca me senti sereno e calmo à espera de resultados. Sofri à minha maneira, perdi cabelo, envelheci 24 anos, enfim, o normal. Por isso não, isto não é um pedido de desculpas nem um “eu sempre acreditei”. É mais um agradecimento, até.

 

Não era adepto do Rui Vitória, nunca o fui. Fiquei naturalmente preocupado quando veio para o Benfica. Não pela saída do anterior treinador, mas pela entrada do novo. Mas a partir do momento em que é o meu treinador, terá mais um apoiante do seu lado.

 

Vi todos os jogos da pré-época e esforcei-me - a sério que me esforcei - para me manter positivo. Aguentei noitadas até às 5 da manhã para ver 1 remate à baliza em 90 minutos, aguentei ver o desnorte em campo e eu próprio me senti com jet-lag. Destaquei, neste mesmo espaço, o quão importante era vencer a Supertaça, entrar bem na época e vencer pelo Benfica, mas tudo isso passou. O tempo foi passando, as coisas foram mudando, mas o Benfica não. Sentia uma vontade impotente na equipa em querer alterar as coisas, mas tudo o que podia correr mal, corria. Só faltou aparecer um jogador grávido.

 

A breve ilusão rapidamente se deprimiu e não via a hora deste malvado ano chegar ao fim. Não havia nada por onde se pegasse, nenhum ponto positivo, nenhum vislumbre de melhorias. Percebi, mais depressa do que gosto de reconhecer, que esta época estaria condenada.

 

Mas o tempo foi passando, as coisas foram mudando e o Benfica também. Por este, por aquele ou até pelo outro motivo. Aquilo que parecia uma utopia tornou-se numa realidade. O Benfica alcançou o feito mais importante dos últimos anos e fê-lo como é seu apanágio – de uma forma épica, orgásmica, sofrível por vezes. À Benfica.

 

E então (agora sim) quero agradecer ao Rui Vitória, por ser melhor do que eu. Por ter sido forte, por ter mantido sempre a postura, por ter um discurso que não envergonha o Sport Lisboa e Benfica e por, como eu e vocês, compreender a dimensão e exigência que impera no clube. Mais do que qualquer outra pessoa, o Rui Vitória podia ter extravasado, dado resposta a quem não merece ou até mudar o tom, mas nunca o fez. Soube perder e soube ganhar. Quero agradecer-lhe por ter sido o protagonista de uma das épocas mais satisfatórias a que já assisti e por me ter dado uma das maiores alegrias da minha vida, senão mesmo a maior. É a pessoa que mais merece esta vitória.

 

Quero agradecer ao melhor plantel que passou pelo clube nos últimos largos anos. Agradecer-lhes por se terem unido, por terem percebido o que estava a acontecer, por terem suportado tantas adversidades e por terem honrado a camisola do Benfica. Obrigado por terem defendido o clube em todos os jogos e terem dado a volta por cima. Com vocês, ia ver um jogo a qualquer lado. Jogaram à Benfica, foram e são Benfica. Eu, enquanto adepto, confesso que, além de ganhar títulos, não há mais satisfatório do que ver um jogador compreender e identificar-se com a grandeza e mística do clube, e vi isso neste grupo. Em todos, sem excepção. Até no Taarabt, que está a festejar o 35 desde Agosto.

 

Em Setembro, a quente (ou então não), escrevi que esta época, para o bem ou para o mal, teria Vieira escrito na testa e que em Maio saberíamos todos para onde olhar. E hoje, Maio, sei bem para onde olhar. Para o bigode do Luís. Quero e devo agradecer-lhe e dar-lhe os parabéns (este ano sim) por ter conseguido, e de que maneira, o que queria. Provar que ninguém é maior que o clube e que temos a obrigação de dar as condições a qualquer treinador para vencer. O Benfica tem sempre de vencer. Esta época foi uma ideia sua, uma aposta pessoal, portanto, se estou cá para criticar, também tenho de estar para reconhecer méritos e este ano Vieira tem muitos para recolher.

 

Mas para isto não ser tudo uma choraminguice, quero também dizer que não é por isto que vou deixar de ser exigente com o treinador, com o presidente e com a equipa. Vou criticar e colocar coisas em causa se assim o entender. Vou manifestar o meu desagrado se concluir que o clube não foi competente. E se isso significar que tudo se resolva meses depois, então que o seja. Nunca me vou conformar com o Benfica, nem nunca me vou encostar na sombra de sucessos anteriores. Não esqueço o passado, mas irei sempre precoupar-me com o presente e o futuro do clube e irei sempre dizer o que penso, mesmo que possa vir a não ter razão. Nunca teremos títulos a mais e nunca uma vitória será suficiente. Porque é o Benfica. É isto que se exige quando se vive o Benfica, quando só se vive Benfica.  

 

Queria dizer muitas mais coisas, mas acho que todos sentimos o mesmo neste momento. Ser do Benfica é uma coisa magnífica. Obrigado a todos, parabéns a todos, viva o Sport Lisboa e Benfica.

 

#RumoAo36

 

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publicado às 12:40

Estrutura para totós

por Zlatan, em 02.09.15

  1. Modo como as diferentes partes de um todo estão dispostas.
  2. Construção e disposição (de um edifício).
  3. Disposição (no seu conjunto) das partes do corpo humano.
  4. O que permite que uma construção se sustente e se mantenha sólida.
  5. O que serve de sustento ou de apoio.
  6. Objecto que se construiu (ex.: o edifício é uma estrutura sólida).
  7. Força física ou psicológica (ex.: ela não tem estrutura para aguentar tanta responsabilidade).

 

A palavra já não é vulgar para ninguém. Está na moda. Esteve durante muitos anos associada a outro clube, mas parece ser tendência no Benfica.

 

Esta época o Benfica decidiu colocar em prática aquilo que o presidente tem proclamado há vários anos - o desinvestimento equilibrado no futebol e a integração de jovens da formação no plantel principal. Os muitos milhões realizados em transferências ao longo dos anos certamente que contribuíram para a consolidação das finanças do clube, promovendo uma abordagem cada vez mais sustentável, e os jovens da formação já não serão vendidos prematuramente, envoltos em supostos empréstimos e cláusulas duvidosas, mas sim incluídos no plantel principal.

 

Polémicas à parte, a direcção do Benfica entendeu que podia abdicar do anterior treinador. De repente surgiu a necessidade de provar que não existia uma dependência de alguém que até parecia ganhar maior dimensão do que o próprio clube, algo que nunca pareceu incomodar o Benfica. Alguém a quem se permitiu e ofereceu tudo. De repente, o Benfica decidiu provar que venceu com Jesus e não devido a Jesus.

 

Sem surpresa, Rui Vitória foi o treinador escolhido. Antigo treinador da equipa de juniores do Benfica, conhecido por “apostar” na formação em Guimarães, Benfiquista e amigo de Vieira. É uma escolha exclusiva do presidente do Benfica, que se sente no direito de se isolar nesta decisão, já que acertou em 2009 com Jesus.

 

Anestesiando os adeptos através de reportagens de autopromoção, a estrutura foi vendendo a ideia de uma enorme máquina de competência, criando um modelo que permite a um treinador ser vitorioso. Hoje vemos claramente que não é assim.

 

A saída de Jesus permite, para já, tirar várias conclusões acerca da forma como o Benfica prepara as suas épocas. Continua a não existir uma linha de orientação relativamente à forma como o clube se movimenta na pré-época.

 

O pack de contratações que se apresenta no Seixal, qual casting do Ídolos, voltou a chegar, o que me leva a concluir que o suposto desinvestimento é uma farsa. O Benfica não decidiu gastar menos, nem contratar melhor. Todos os anos continuam a chegar jogadores que não vestem, sequer, a camisola do clube. Todos os anos se realizam contratações que me fazem comissão na orelha. Obviamente que estes negócios são decisivos para as contas do clube. Continuar a ignorá-los não é solução.

 

Vieira garantia em Junho que Rui Vitória teria as mesmas condições que Jesus. Hoje também vemos que isso está longe de ser verdade. A direcção encostou-se ao facto de manter, praticamente, o plantel campeão, esquecendo-se que este já era curto com Jesus e que precisava de reforços cirúrgicos, mas significativos. O Benfica vende Enzo em Janeiro, mas rapidamente se percebe que Pizzi não seria solução. Nem com a prolongada lesão de Salvio e a venda de Sulejmani, o Benfica decide trazer um extremo de qualidade inegável. Mais. O Benfica termina o mercado de transferências atrás de Siqueira, o mesmo lateral sobre o qual não foi exercida a opção de compra em 2014. Depois de considerar várias alternativas e de analisar o mercado com a devida calma, o Benfica não faz mais nenhuma contratação. Dos muitos jogadores que chegaram, poucos ficaram no plantel e ainda menos terão funções relevantes na equipa. Chegamos ao último dia e percebemos que os problemas que tínhamos em Maio são os mesmos de hoje.

 

É compreensível a alteração da política e que Rui Vitória não sinta que tem “autoridade” para exigir reforços, mas assiste-se actualmente a uma quebra gritante da qualidade global do plantel. Um exemplo esclarecedor: em 2014 o Benfica tinha Gaitán, Salvio, Markovic e Sulejmani para as alas. Hoje tem Gaitán, Victor Andrade, Gonçalo Guedes e Carcela. Naturalmente que não se impõem investimentos desmedidos, nem que um jovem da formação seja forçado a render no imediato, mas tem de existir um meio-termo. Esta loucura de 8 ou 800 é injustificável, sobretudo num clube que é bicampeão.

 

Questiono-me se os dirigentes do Benfica estiveram demasiado distraídos este Verão. Se com as batalhas pessoais que João Gabriel decide travar nas redes sociais, não tendo pudor de utilizar o nome do clube para se socorrer, se com os espectáculos a que o funcionário Pedro Guerra (Fernando Santos para os mais distraídos) se dispõe no canal do clube, onde agora defende ferozmente a aposta na formação, contrastando com a sua prévia opinião de que “o Benfica não é o Sporting”, ou se estariam maravilhados com as entrevistas de Domingos Soares de Oliveira, que no último mês ainda não tinha garantido a existência de um milagre financeiro, apesar de todos os anos existir uma insólita necessidade de vender jogadores. Certo é que passaram três meses e a estrutura não conseguiu resolver nenhuma das principais lacunas do plantel. É de lamentar que as reportagens do Nuno Luz não tenham conseguido captar estes momentos.

 

Percebe-se, portanto, que, mesmo sem Jesus, nada mudou. O Benfica continua a ser gerido ao sabor do vento, com base em crenças, instintos e impulsos. Não existe nada que caracterize a liderança e o projecto que a estrutura tanto se tem esforçado em vender aos adeptos. Não há nada que identifique o clube. Continuamos na mesma política de fogo-bombeiro: é preciso deixar que tudo corra mal, para se chegar à conclusão que é preciso fazer alguma coisa. Depois de acontecer, decide-se agir. Foi preciso o Benfica ser humilhado na Emirates Cup de 2014 para que jogadores como Júlio César, Samaris e Jonas finalmente fossem contratados, por exemplo. A habitual incompetência e negligência do Benfica nas pré-temporadas foi castigada com a perda de um título oficial, num jogo em que uma equipa se preparou para vencer e a outra andou perdida nas Américas à procura e à espera de qualquer coisa.

 

Desta forma, é possível concluir que, no final, quem faz a diferença é o treinador. Chegamos a esta altura e percebemos que o que realmente definiu o Benfica durante os últimos anos foi a influência do treinador. A estrutura do Benfica foi Jesus, que mesmo com os seus defeitos e alguma incompetência, conseguiu esconder e camuflar muito do desnorte presidencial. Por este motivo, a estrutura foi uma das culpadas de tornar o clube refém do anterior treinador, já que a exclusiva competência da direcção há muito que é conhecida. Criou-se, assim, o mito de que só Jesus é que poderia fazer a diferença, quando existem outros treinadores competentes que podem fazer o mesmo. Porém, esta direcção parece empenhada em tornar isso impossível. O problema não foi Jesus sair, mas sim quem ficou e entrou.

 

Esta época tem "Vieira" escrito na testa. Para o bem e para o mal, em Maio, saberemos todos muito bem para onde olhar.

 

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publicado às 20:45

"É o Benfica"

por Zlatan, em 08.08.15

 

Sou uma pessoa extremamente pessimista. Por vezes gosto de me convencer que sou apenas realista (e sou!), mas tenho tendência para ser demasiado negativo. Levo a Lei de Murphy demasiado a sério. Talvez por isso tenha alguma dificuldade em “confiar” no Benfica. Vou quase sempre preparado para o pior e dessa maneira custará menos se correr mal. Ou pelo menos tento acreditar nisso. Sinto que vivo o Benfica de uma forma complicada. Pouco saudável, vá. Procuro um equilíbrio que sei que nunca irei encontrar. Sou capaz de delirar com uma vitória, como colocar tudo em causa depois de um empate com uma má exibição. É o Benfica, é normal.

 

Gostava de ser aquele adepto que puxa imediatamente um cântico de apoio no estádio quando sofremos um golo, que acha que é possível recuperar de uma derrota aos 70 minutos ou que acredita que o Luisão vai marcar de cabeça após livre de Petit num derby a terminar o jogo. Esse tipo de coisas.

 

Por todos estes motivos, sinto que provavelmente não sou a pessoa mais indicada para escrever este texto ou para vos dizer que acredito na vitória do Benfica. Isto é, no fundo, um desabafo.

 

Torna-se desnecessário assumir todas as semanas que o jogo desse dia é “muito importante”. Porque é sempre. É certo que surgem sempre motivos diferentes, mas cada jogo ganha um peso e um significado particular porque isso faz parte da nossa cultura. Espera-se a vitória. Vencer e convencer. Ganhar à Benfica. É isso que se exige. Todos os jogos são muito importantes, mas este é muito importante.

 

Esta Supertaça é apenas um jogo, apesar de não o ser. Depois de dois meses quase surreais, surge o nosso momento. O momento em que teremos de justificar e dar resposta a tudo o que aconteceu. Com o cérebro, mas também com o coração. Correndo o risco de ser estupidamente dramático, este jogo não é um troféu, um derby ou um início de época. Não o consigo ver dessa forma, não faz sentido assim. Precisamos de mostrar que estamos vivos, mas que não vivemos obcecados com terceiros. Que temos ainda mais vontade de continuar a vencer, que não somos reféns de ninguém e que a resposta, como sempre, é apresentada em campo. É, sobretudo, um teste à nossa honra.

 

É também um teste de peso para Rui Vitória, que terá a responsabilidade de corrigir e melhorar o que tem sido feito até agora, passando a mensagem certa para os jogadores. Sendo o nosso treinador e estando perfeitamente alinhado e identificado com a identidade e filosofia do clube, também ele quererá, certamente, mostrar que somos superiores.

 

Podia descrever detalhadamente todos os motivos que tornam este jogo numa ocasião nuclear, recorrer a chavões e frases feitas ou apresentar situações semelhantes em que fomos felizes, mas parece-me curto e até escusado. Todos temos consciência do que este jogo significa e caberá à equipa do Sport Lisboa e Benfica dar uma resposta à altura do clube.

 

Nunca nenhuma equipa perdeu um campeonato por falhar na Supertaça, mas vamos começar a vencê-lo ao conquistar estre troféu. Porque é o Benfica, é normal.

 

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publicado às 19:15


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