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Desta vez foi a sério e o Benfica voltou a jogar pouco. Muito pouco. Já se passaram 5 semanas e ainda há muito trabalho pela frente, a equipa continua muito desgarrada, muito fraca ofensivamente e com os sectores a jogar muito longe uns dos outros. Na frente Jonas recebe a bola, vira-se e tem a equipa quase no seu meio-campo, muito longe para o apoio, obrigando-o a temporizar para sofrer uma falta ou ficar sem a bola. Passar ao Talisca não é opção, é preferível chutar logo a bola para a bancada. O Talisca é, para mim, um dos casos mais enigmáticos dos últimos anos, porque passa constantemente por bom jogador - jogos a titular e o primeiro a saltar do banco quando lá está - e continua a mostrar uma banalidade constrangedora. Arrisco dizer: o Talisca, neste momento, não seria titular numa equipa que luta para não descer à 2ª Liga. E o problema dele não se resume exclusivamente ao plano técnico, o Talisca é um jogador pouco inteligente; e não vou dizer de outra forma para não ser ofensivo com ele, já que para todos os efeitos é 'jogador' do Sport Lisboa e Benfica.
Com a análise ao jogo, começo por uma jogada que em 3 imagens mostra bem o que é o Benfica de Rui Vitória em 3 momentos do jogo distintos. Isto é tudo na mesma jogada, passam apenas alguns segundos entre todas as imagens:
Na primeira imagem o Benfica perde a bola, organiza-se em 4-2-3-1 e Samaris é o primeiro a sair para pressionar. É incrível o buraco que se forma atrás dele. Incrível. Neste momento há uma linha de passe para o João Mário e o jogador que está mais próximo e que deveria fazer a pressão é o Talisca. É preciso explicar? Desenrolar da jogada: o João Mário recebe a bola tranquilamente, tem em cima uma pressão sufocante do Talisca com os olhos e acelera o jogo, e põe facilmente na linha. Assim não há pressão que resista, o Sporting com alguma segurança a sair a jogar, conseguiu criar um momento ofensivo.
Na imagem seguinte, é a continuação da jogada, o jogador do Sporting recebe na linha e tem logo uma linha de passe no meio para o Slimani, que desceu no terreno para fazer a ligação. A jogada só não deu mais porque as lacunas técnicas de Slimani sobressaíram e ele embrulhou-se com a bola. Excelente movimento do Sporting, péssimo movimento do Benfica. O buraco no meio-campo continua lá.
Depois o Benfica recupera e sai a jogar por Gaitán. Mas é o Nico contra o mundo, a equipa do Benfica não subiu, Gaitán teve que arriscar levar a bola e acabou por conseguir pôr na linha em Sílvio que entretanto subiu. A equipa do Benfica tem que subir em bloco para dar apoio ao transportador da bola, desta forma só criamos perigo através de jogadas individuais.
Momento defensivo do Benfica na saída da bola do Sporting: Jonas sai na bola, Samaris sobe no terreno para fechar linhas de passe interiores, Gaitán por dentro para fazer campo mais curto e Talisca a fazer qualquer coisa que não consigo perceber o que é, mas é útil para a equipa de certeza. Este momento parece-me bem defendido e o Benfica recuperou a bola rapidamente.
O Benfica recupera a bola na sua zona defensiva, Samaris é quem tem a bola e não tem ninguém para passar em segurança pois a equipa continua muito distante entre sectores. A única solução era para Fejsa, mas Slimani está por perto e um passe interior naquela situação seria sempre arriscado. O grego acabou por bater a bola porque era a única opção que tinha. Bola recuperada pelo Sporting.
Num lançamento lateral, Semedo põe no Talisca que cabeceia para trás, mas aqui sem grande responsabilidade do brasileiro, o Benfica está partido em dois e ele não tem ninguém com quem trocar a bola. É urgente resolver este problema do Benfica; é preciso atacar e defender com um único bloco, jogar com uma equipa que defende e outra que ataca, não favorece o nosso jogo.
É das poucas coisas positivas que se pode tirar do jogo do Benfica: a pressão na saída da bola do adversário; começamos mal mas com o passar do tempo adaptámo-nos bem e conseguimos obrigar o Sporting a ter que ir batendo a bola. Samaris saiu sempre para formar uma primeira barreira e Fejsa fechou bem as suas costas para a bola não entrar entre linhas. O Sporting teve que jogar longo e perdeu a bola.
Está assim apresentado o Benfica ofensivamente. Boa subida no terreno de Nélson Semedo, ganha espaço para cruzar, faz um bom cruzamento e os jogadores do Benfica presentes estorvam-se na área em momento de finalização. Não há grandes comentários a fazer quando isto acontece numa equipa como o Benfica.
E só para esclarecer, não estava ninguém na área para finalizar. Sintomático.
Na análise que fizemos da Eusébio Cup, o P1nheir8 mostrou uma imagem do Sílvio completamente desposicionado a marcar na linha e a dar todo o interior do campo para a bola entrar; parece que isso lhe serviu de aviso já que desta vez não repetiu o erro, não encostou na linha e ficou por dentro, como resultado teve um excelente corte a um passe de desmarcação para o Carrilo que o ia deixar entrar na área com grandes possibilidades de criar perigo. Muito bem o Sílvio neste movimento. A imagem é no momento do passe para o Carrilo, o Sílvio ainda não cortou a bola.
Esta imagem é já na segunda parte e nota-se logo uma alteração no Benfica: Talisca é encostado à esquerda e Gaitán fica a 10, a tentar ligar o jogo entre Jonas e o resto da equipa. Ola John mantém-se na direita.
Movimento ofensivo do Sporting, a bola entra com facilidade em Carrilo em zona mais interior, que mesmo com Sílvio e Talisca posicionados para defender, a bola entra em profundidade na linha em João Pereira que se desmarca bem. O lance acaba com um cruzamento bombeado que o Sporting não aproveitou. Bom movimento ofensivo e mais uma vez o Benfica defende com muita gente e defende mal. Talisca tem que ser mais ativo a defender, não pode simplesmente ficar a olhar para a bola a entrar.
Benfica recupera a bola e tenta sair a jogar. Sílvio joga na linha em Talisca que tem linha de passe completamente aberta para Sílvio e dá logo para perceber que ele vai devolver, mas Talisca resolve segurar a bola mais um pouco e faz o passe para o Silvio quando ele já tem um jogador adversário em cima. Talisca esteve mal, muito mal, mas também dá para perceber que o Benfica continua com os setores muito longe uns dos outros e era difícil sair a jogar.
Começa assim o golo do Sporting. Carrilo vem buscar a bola por dentro e consegue passar para Gutiérrez que recebe a bola entre as linhas do Benfica. É um movimento típico das equipas de Jorge Jesus, mas parece que ainda há quem não o conheça. Teo recebe a bola, roda, acelera e joga em Carrilo que depois remata. Custa-me entender como é que o Benfica permitiu sempre este movimento ao Sporting, os dois avançados desciam entre linhas para receber a bola com a maior facilidade do mundo. O Benfica não pode ser apanhado desprevenido num movimento destes, é imperdoável.
Depois de sofrer o golo, Rui Vitória tira do jogo Talisca e põe Pizzi. O Benfica passa a defender em 1-2 no meio-campo com Fejsa atrás, Samaris e Pizzi mais à frente. O Benfica teve mais jogo porque Pizzi circula melhor a bola, mas o Sporting também baixou linhas e deu espaço ao Benfica.
A partir daqui não há muito a assinalar. O jogo foi mais pelo coração do que pela cabeça, o Benfica dominou mas sem criar grande perigo, continuou desorganizado e a tentar explorar as alas, onde Nélson Semedo foi importante porque dá mais balanceamento ofensivo à equipa. Boa exibição do Nélson. Rui Vitória foi tentando mexer no jogo entrando Mitroglou e Gonçalo Guedes, mas o resultado prático não foi nenhum, pois o Sporting foi defendendo com mais gente e sempre organizado.
Em resumo, o Benfica tem que dar mais, muito mais. No plano ofensivo a equipa praticamente não existiu, e jogar com Talisca a avançado para fazer a ligação com Jonas simplesmente não funciona. É preferível jogar com o Guedes porque é mais incisivo e tem vontade de fazer qualquer coisa, já que o Talisca parece que está em campo a fazer um favor a todos os Benfiquistas. Não é só ele, mas é o jogador que mais se destacou pela negativa.
Depois do golo de Jonas ao PSG, o Benfica só marcou 1 golo em 498 minutos. Sintomático.
No plano defensivo, a equipa esteve melhor, mas também era mais fácil porque defendeu com mais gente e teve sempre muito trabalho pela frente, nunca dando espaço para que existissem desconcentrações. A dupla Fejsa/Samaris dá robustez ao meio-campo, mas deixa a equipa muito distante entre setores, porque nenhum deles é um jogador típico de ligação. Na minha opinião, Rui Vitória deveria apostar num sistema 1-2 no meio-campo, como fez depois de estar a perder. Nesse sistema pode jogador Fejsa - Samaris e Pizzi, por exemplo. Pizzi seria o jogador de ligação.
Com a chegada de Rui Vitória ao Benfica, muito se tem falado do sistema e modelo que será usado pelo novo treinador. A dúvida é se o novo treinador irá manter o 4-4-2 que Jorge Jesus usou durante grande parte das suas 6 épocas no Benfica. Nas entrevistas dadas por Rui Vitória até ao momento, deixou sempre no ar a ideia que iria continuar a utilizar o sistema do seu antecessor, mas com alternância de sistema entre competições ou mesmo durante o próprio jogo.
É verdade que Rui Vitória já utilizou o 4-4-2 em vários momentos da sua passagem pelo Vitória, mas será extremamente difícil imprimir a dinâmica das equipas de Jorge Jesus, até porque o modelo de jogo adoptado por Rui Vitória é diferente. Enquanto que Jorge Jesus privilegia o apoio frontal de um dos avançados e o jogo interior, Rui Vitória prefere o jogo exterior e a entrada de um dos médios para procurar a profundidade.
O jogo a analisar será o que ditou o 34º título, o Vitória vs Benfica. Um jogo de grande pressão para as duas equipas: de um lado o Campeão à procura do Bi, do outro uma equipa que com pouco a ganhar na classificação, queria evitar a todo o custo que o Benfica fizesse a festa em sua casa. É assim Guimarães, são assim os Vitorianos.
O então treinador do Vitória preparou bem o jogo porque sabia que Benfica ia encontrar - Jorge Jesus nunca mudou a forma de jogar - e por isso começou o jogo em 4-4-2:
A ideia é simples: o Benfica na saída de bola projeta os laterais e fica com 3 defesas - Samaris vai para o meio dos 2 centrais -, com os 2 avançados o Vitória consegue pressionar mais à frente, dificultando a troca de bola entre os defesas, Otávio e Sami nas alas fecham os laterais e André André fica próximo de Pizzi para que a bola não entre no número 8 do Benfica - como se vê na 2ª imagem. Rui Vitória pensava ter fechado assim todos os caminhos para a saída de bola do Benfica. Este sistema do Vitória obrigou um trabalho de maior sacrífico de Jonas e Lima, foram eles que tiveram que descer no terreno e baralhar o bem trabalhado meio-campo do Vitória. E que bem fizeram esse trabalho, nos primeiros 20 minutos foram eles que impulsionaram o Benfica, mas Rui Vitória responde a esta mexida tática do Benfica e readapta-se:
O Vitória muda para 4-3-3. Ricardo Valente vai para a esquerda e Sami continua na direita. No meio-campo fica Josué no vértice defensivo do meio-campo e André André juntamente com Otávio ficam com a missão de transportar jogo e dificultarem a saída de bola do Benfica. E é neste momento que o Benfica deixa de criar perigo da mesma forma sufocante que o tinha feito antes. Josué fica com uma missão importante: vigiar de perto o avançado do Benfica que desce no terreno; nesta sequência de imagens dá para ver Josué a seguir de muito perto Lima, não o deixando ficar com espaço para o apoio frontal tão típico do Benfica de Jorge Jesus:
Josué foi a chave para bloquear grande parte das tentativas de ataque do Benfica. Nota mais para esta alteração tática de Rui Vitória.
No momento ofensivo, realce para a projeção dos laterais que o Vitória usou. Uma equipa com medo de sofrer golos, a querer apenas defender, nunca entraria numa situação de risco deste tipo:
Centrais a sair a jogar e os laterais completamente abertos na ala. É aqui que cai por terra a ideia de que Rui Vitória apenas joga para defender. No jogo com o Sporting em Guimarães, esta projeção causou muitos problemas à equipa leonina. Nesse jogo o resultado final foi 3-0 e uma exibição de sonho para o Vitória.
Na próxima sequência será possível ver novamente a projeção que Rui Vitória pede aos laterais. Num momento de pressão alta do Vitória, a bola é recuperada no meio-campo do Benfica e vê-se Luís Rocha - o lateral esquerdo - a subir no terreno para dar profundidade na esquerda:
A bola não entra em Luís Rocha porque Otávio resolve segurar a bola e perde o tempo de passe. Má decisão do brasileiro emprestado pelo FC Porto aos Vitorianos.
Noutra situação de ataque, é possível ver uma das caraterísticas do modelo de Rui Vitória - e onde difere de Jorge Jesus. O médio 'box to box' procura a profundidade para criar perigo. Na próxima imagem está André André a jogar no limite do fora de jogo para receber a bola e com isto baralhar a organizada defesa do Benfica:
O Vitória atacou sempre com muitos homens, mas nem assim criar grande perigo porque tinha do outro lado uma das mais bem organizadas defesas do campeonato.
Se no meio-campo do Benfica o Vitória defendia com 4-4-2 para pressionar mais à frente, quando o Benfica entrava no meio-campo do Vitória, estes transformavam o sistema num 4-1-4-1 bem definido. Um bloco bastante junto para evitar as rotações de posições do Benfica, limitando espaços e tentando controlar a profundidade dos Bicampeões. Este lance aconteceu ainda antes da alteração para 4-3-3:
É isto que espero do Benfica de Rui Vitória. Uma equipa que ataque e defende no meio-campo adversário com 4-4-2 e que defende no seu meio-campo com 4-1-4-1 ou 4-2-3-1. Será este o pensamento do novo treinador do Benfica para a época que se avizinha.
No lado psicológico do jogo, Rui Vitória esteve bem neste jogo. Ambiente infernal nas bancadas e objetivos a atingir para os dois lados, o Vitória esteve sempre bem no jogo, tentando sair a jogar e nunca despejando bolas sem sentido, facto que poderia denunciar alguma ansiedade. O Vitória deu sempre a sensação que estava confortável e conseguiu manietar o Benfica durante grande parte do jogo. Boa preparação da equipa por parte da equipa técnica comandada por Rui Vitória.
Falta saber como será o percurso de Rui Vitória no Benfica, mas isso, só os resultados o dirão. Porque pode jogar da forma A ou B, mas são sempre os resultados que classificam o trabalho de um técnico, por muito injusto que isso às vezes possa ser.
Do futebol ao hóquei, do basquetebol ao voleibol, uma visão livre, imparcial e plural do Sport Lisboa e Benfica.
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