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Depois de Jonas ter sido ontem a capa do jornal “A Bola” devido à sua entrevista, hoje foi a vez de Rui Vitória conceder uma extensa entrevista ao jornal “Record” e ser também o destaque de capa.
Esta grande entrevista, foi mais daquilo que Rui Vitória nos tem habituado no seu discurso desde que chegou. Alguém confiante mas com os pés assentes no chão, com um discurso positivo, trabalhador e de muito realismo. Está completamente identificado com o rumo que quer trazer para o clube.
O novo treinador do Benfica não quis abrir muito o jogo, e também ainda não há muito a falar. Conseguiu fugir a algumas “ratoeiras” que lhe colocaram nas perguntas e foi muito inteligente nas respostas. Não vou estar a falar mais do que ele tem falado nos últimos tempos, vou apenas falar naquilo que mais interessa, o que vai ser a equipa dele, ou melhor, aquilo que ele quer para a equipa dele.
«Quando chegamos a um clube temos de olhar para o contexto onde estamos. Não vale a pena ter uma ideia muito estereotipada e balizada, porque depois pode ser um caminho errado. É preciso analisar o contexto, ver as nossas limitações, as nossas potencialidades e, a partir daí, ter um plano de acção. Quando era médio-centro o que menos gostava era de ver a bola a passar por cima de mim sem poder tocar nela… Tendo recursos, como eu estou a ver que tenho, a equipa vai ter de ter a preocupação em jogar bem, com grande dinâmica, muita agressividade, com enorme vontade de querer conquistar este mundo e o outro, mas olhando sempre para o jogo com uma realidade muito específica»
O treinador português sempre foi criticado pelo futebol que a sua equipa em Guimarães praticava, toda a gente dizia que era um futebol muito pobre, ao contrário do “seu” Paços de Ferreira. Aqui, e mais uma vez, tenta acabar com essa ideia. Com os recursos que agora tem, ele vai tentar obviamente meter a equipa a jogar um bom futebol, e como ele diz, agora tem meios para isso. No Guimarães era diferente, ele tinha poucos meios e uma exigência de conseguir a manutenção, aquele foi o futebol que ele achou adequado para conseguir os objectivos propostos, e que tão bem resultou. A ideia de jogo deve ser feita mediante os recursos que se tem e não vir já definida previamente, e é isso que ele parece trazer pensado.
«Se olharmos bem para um jogador como Jonas, percebemos que a forma de jogar da equipa tem de ir num determinado caminho»
Aqui, reconhece a importância que o melhor jogador do campeonato tem na equipa. O forte de uma equipa é sempre o colectivo, mas nem nós nem o treinador do Benfica somos ingénuos, e sabemos que o Benfica tem de saber potenciar a qualidade que Jonas tem, estando com isso mais perto da vitória e fazendo a diferença.
«O Pizzi já era um belíssimo jogador quando o vi pela primeira vez. (…) Não fiquei muito surpreendido com a forma como se adaptou a um novo posicionamento porque é um jogador muito inteligente, com técnica apurada. Rodeado de jogadores que o protegessem de uma ou outra limitação que pudesse ter, obviamente que acabaria por ter sucesso. Num Benfica com o lote de jogadores que tem, e atendo à qualidade que o jogador também tem e ainda à sua inteligência, não estranho assim tanto esta adaptação. Possivelmente, jogará mais por dentro do que pelas alas»
Pizzi é um jogador muito conhecido de Rui Vitória. A dúvida que ele nos tira aqui, é que o jogador português vai continuar a jogar mais vezes no meio do que nas alas, e a posição 8, independentemente da táctica utilizada, será aquela onde continuará a jogar. Acredito que pode por vezes avançar no terreno, caso o Benfica jogue apenas com um avançado.
«Com o que temos internamente estou satisfeito, temos soluções (relativamente aos substitutos de Maxi Pereira)»
Parece que Rui Vitória ainda tem algumas esperanças que Maxi fique, mas também deixou claro que acha que pensa haver soluções internas para o substituir. Nos treinos, tem sido Sílvio a fazer esse lugar, apesar de eu achar que Sílvio rende mais na esquerda. Caso Sílvio seja a primeira opção para o lado direito da defesa, penso que o Benfica deve procurar um lateral esquerdo para assumir a titularidade.
«Taarabt pode jogar numa faixa, de fora para dentro com muita capacidade de vir para zonas interiores como pode estar numa zona central, a pensar o jogo, e a progredir com alguma facilidade. Vejo-o a jogar em qualquer uma dessas posições (médio esquerdo e número 10). Gosto de jogadores versáteis e ele tem isso»
O esperado em relação a Taarabt. O marroquino deverá jogar no lado esquerdo do ataque quando o Benfica jogar com dois avançados, fazendo muitos movimentos interiores, e outras vezes ser o apoio mais directo ao avançado, que deverá ser Jonas, usando os seus movimentos de ruptura.
«Temos uma baliza de 24 a 26 (jogadores que farão parte do plantel). Eventualmente se acharmos que fará bem a um jogador continuar connosco, podemos alargar até aos 27. Não fugirá muito a isso»
Tiradas as dúvidas em relação ao número dos jogadores do plantel. Não deixa também de parte que qualquer jogador da equipa B alterne entre a equipa principal e a B.
«Ainda podemos ter de olhar para as posições dos corredores laterais à frente e, eventualmente, para a zona do ataque. Mas temos mais que observar o que temos e como podemos valorizá-los do que estar nessa procura obsessiva de jogadores. Primeiro quero ver toda a gente e depois fazer a minha escolha»
A nível de reforços, e à primeira vista, parece que Rui Vitória tem a ideia de trazer mais alguém para as alas do ataque e para o lugar de avançado. Claro que tudo isto depende muito das saídas, que deverão acontecer, mas acho que o Benfica precisa de contratar alguém para uma das laterais defensivas. Com isto, parece-me que as posições centrais do meio-campo estão fechadas.
«Seria redutor se dissesse que uso só um sistema e já houve treinadores no futebol português que pensaram assim e, se calhar, tiveram problemas. A minha equipa tem mecanismos de trabalhos para podermos trabalhar com qualquer dos sistemas. A única coisa que sei é que é preciso de olhar para o contexto. Há hábitos que estão enraizados e não se mudam de um dia para o outro. O modelo é muito mais do que o sistema, que no fundo é a disposição táctica, mas há mais coisas que uma equipa tem como suporte. O meu Benfica vai ter particularidades diferentes, mas não quero ser taxativo. Se utilizei mais vezes o 4x3x3, foi porque muitas vezes achei que era o que se adaptava, mas se analisarem um pouco o Vitória de Guimarães vão reparar que houve alternâncias tácticas significativas e momentos em que o 4x3x3 não era assim tão claro»*
Para acabar, cá está uma afirmação muito interessante. O futuro é este, uma equipa conseguir alternar o seu modelo durante um jogo, fazendo com que se faça aquilo que o jogo lhe pede e que com isso esteja mais perto da vitória. Não é fácil fazer com que isto resulte com eficácia total, mas caso Rui Vitória consiga, será um ponto muito bom a favor da equipa do Benfica. Nenhuma equipa no futebol moderno pode ter só uma táctica e uma forma de jogar, passando o jogo todo, mesmo que este esteja a correr mal, a fazer sempre a mesma coisa para conseguir atingir os seus objectivos e não procurar outras alternativas. Há que arranjar maneira de se dar a volta às dificuldades e criar dificuldades aos adversários. Rui Vitória, e como bem diz, já fez isso no Vitória de Guimarães. O nosso blog já escreveu um artigo sobre isto, e no fim deste artigo estará o link para os eventuais interessados.*
Foi mais do mesmo de Rui Vitória, um discurso muito agradável de ler e ouvir. Gostei de ver dissipadas algumas dúvidas em relação ao plantel e à equipa, mas sem abrir muito o jogo. Agora é passar este bom discurso para o campo, que os adeptos querem é vitórias e bom futebol. Acredito que ele pode dar isso ao nosso clube.
* http://euvistodevermelhoebranco.blogs.sapo.pt/o-4-4-2-de-rui-vitoria-2501
Do futebol ao hóquei, do basquetebol ao voleibol, uma visão livre, imparcial e plural do Sport Lisboa e Benfica.
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