Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Tempo para reflectir

por Miguel Martins, em 03.08.15

xtcaGgI.png

 

Depois de conquistar o bi-campeonato, Luís Filipe Vieira viu sair o treinador para o grande rival de Lisboa. Apesar da história não ser ainda totalmente clara, o que se deu a entender foi que Jorge Jesus sentiu que não era mais desejado no Benfica e preferiu sair. O presidente do Benfica ter-lhe-á oferecido as mesmas condições contratuais, mas o treinador preferiu dar novo rumo à sua carreira. A história das exigências dos jogadores da formação e de um máximo de 25 jogadores no plantel que tinham sido exigidas a Jorge Jesus, foram desmentidas pelo próprio, e isso vale o que vale.


Se isto poderia ser um caos para muita gente, para o presidente do Benfica não o pareceu tanto. Com a saída de Jorge Jesus, foi permitido a Luís Filipe Vieira tentar dar o tão desejado novo rumo para o Benfica - desinvestimento e aposta na formação -, depois de 6 anos em que teve inúmeros sucessos mas também insucessos, no entanto foram 6 anos que elevaram imenso o nível de exigência do Benfica, para patamares que não se viam há décadas. Para o comando técnico foi escolhido Rui Vitória, um homem da confiança do presidente, que já tinha passado pelas camadas jovens do Benfica e que vinha de trabalhos positivos, tanto em Paços de Ferreira como em Guimarães, lançando para a ribalta inúmeros jovens talentos oriundos da formação, aquilo que Vieira tanto deseja.


No entanto, para perceber a missão de Rui Vitória é preciso ver para além do óbvio. O futebol não é uma ciência e também não é mecânica onde se substitui uma peça por outra e as coisas continuam a rolar sem sobressaltos. O futebol é algo mais simples, mas também muito volátil. Em todos os clubes do mundo quando se procede a uma alteração no comando da equipa depois de muitos muitos anos com o mesmo técnico, os primeiros tempos são sempre complicados. Para se agravar a situação, chega-se com uma pré-época já programada e feita muito longe de casa, em condições muito complicadas e tudo a troco de uns bons milhões de euros que tanto jeito dão. Para agravar ainda mais, o Benfica passa quase 3 semanas de treinos sem um único jogo particular, apenas treinando, e só já na digressão pela América disputa o seu primeiro teste. As outras grandes equipas também o fazem, mas é preciso perceber o contexto desses plantéis milionários e das suas soluções. 


Para esta época, era importantíssimo o Benfica ter tido uma pré-época serena, com boas temperaturas, sem grandes viagens. Isso seria possível no conforto do Seixal, onde se ia facilitar a integração do novo treinador e a assimilação dos novos métodos de trabalho do mesmo, por parte de jogadores que estão habituados a algo diferente. Aqui, a tão propalada estrutura do Benfica falhou em toda a linha e, provavelmente, falhou porque nunca esperou uma alteração no comando técnico da equipa, para além dos óbvios motivos financeiros.


A tão propalada estrutura não garante títulos, a tão propalada estrutura facilita a obtenção de títulos, dando condições para os mesmos serem possíveis. Ao contrário daquilo que Jorge Jesus tantas vezes dizia, a estrutura nunca foi apenas ele. Ele era mais um elemento da estrutura, o mais importante, pois o que define uma boa ou má estrutura são os resultados.

Na minha opinião, o que caracteriza esta pré-época não é apenas a saída de Jorge Jesus, é um estágio e uma série de jogos que deram um cachet milionário, mas que podem custar uma época decisiva na afirmação definitiva do Benfica a nível nacional depois de um bi-campeonato. Os dirigentes do Benfica não podem pensar que depois de dois campeonatos seguidos partem com uma vantagem sobre todos os outros, que não é preciso melhorar nada, que tudo está bem e que não há pressão, porque no Benfica vai haver sempre pressão para ganhar. Esta época juntou-se tudo no Benfica, um novo treinador, um estágio em condições duvidosas, e ainda a saída de jogadores decisivos na manobra da equipa. Assim é muito complicado, seja para que equipa for. 

 

Rui Vitória é neste momento um técnico dividido. Entre o alterar de forma drástica a forma de jogar do Benfica e ficar mais confortável na sua missão, ou dar continuidade ao trabalho de Jorge Jesus, algo extremamente complicado, porque a forma de jogar do Benfica era extremamente complexa.

O Benfica fez a sua escolha, cometeu os erros em cima apontados, mas é hora de cerrar fileiras, trazer verdadeiros reforços e dar tempo a Rui Vitória para tentar dar o seu cunho pessoal.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:20


2 comentários

De Pesaresi a 03.08.2015 às 21:44

Miguel, excelente texto. Podia ter sido eu a escrever, é exactamente o que penso.

Partilhado no nosso FB. Também vos adicionámos à lista de leitura.

De Lisbonera a 03.08.2015 às 22:04

Na mouche.

Comentar post



Sobre nós

Do futebol ao hóquei, do basquetebol ao voleibol, uma visão livre, imparcial e plural do Sport Lisboa e Benfica.



Contacte-nos por e-mail


Licença Creative Commons


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.




Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D