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«Os jogadores vão e vêm e o clube fica.» «No futebol moderno não dá para ter ídolos.», já disse as frases feitas, já não precisam de comentar isso.
Não tenho ídolos, muito menos futebolistas e, talvez por ter nascido mulher, nunca tive aqueles ideais de “quando for grande quero ser como o Nuno Gomes”. No entanto há jogadores que nos marcam - lembro-me de gostar muito do Thierry Henry, por exemplo -, mas quando os jogadores que nos marcam são atletas do nosso clube do coração, essa admiração ganha uma dimensão emocional maior.
Para mim todos os jogadores do Benfica são os maiores do mundo, até os que não são, e como tal devem ser bem tratados e respeitados. Bem sei que o futebol é o negócio de milhões e que o que interessa é o dinheiro na conta no final do mês, mas gosto de acreditar que nem todos são assim.
Depois de saírem do Benfica, para mim, há 3 caminhos, o “vou gostar de ti para todo o sempre”, o “que sejas muito feliz, mas xau” e o “tu desaparece da minha frente e nunca mais tenhas a lata de olhar para a cor vermelha”. Normalmente quem entra na primeira porta são aqueles jogadores que pouco a pouco ganharam um espaço no meu coração por sempre terem tratado o Benfica, o meu Benfica, o amor da minha vida, com (quase) o mesmo carinho com que eu o trato. Jogadores como o Cardozo ou o Aimar a quem emprestei a minha camisola favorita e ma devolveram lavada, passada a ferro, dobrada e cheirosa.
Na segunda porta entram os jogadores que cumpriram o contrato, mas que não consegui ter uma afinidade emocional com eles, por exemplo o Garay ou o Melgarejo. Foram aqueles a quem emprestei a minha camisola favorita e depois de a usarem devolveram-ma da mesma forma que a encontraram. Na terceira porta entram aqueles a quem emprestei a minha camisola favorita e ma devolveram rasgada, cheia de lama e dentro de um saco do lixo rodeada de todos os cocós que o cão fez num mês, que esteve ao sol durante uma semana.
maxi (não mereces a maiúscula), eu gostava de ti, eu gostava verdadeiramente de ti. E sempre achei que a nossa relação ia seguir o rumo que eu tinha planeado: jogavas até ao fim com a camisola que eu te emprestei e depois devolvias-ma lavada, passada a ferro, dobrada e cheirosa - e até podia ser cheirosa com aqueles perfumes horrorosos que os sul-americanos usam nos carros. Começaste a ameaçar ir embora e eu fui, à pressa, buscar a camisola mais cara que tinha, pois era o melhor que tinha para te oferecer, porque acreditei que merecias mais e melhor, porque acreditei que o “não é muito, mas é de coração” que tinha para te dar chegava, depois de tudo o que tínhamos passado juntos. Eu, tu e a minha camisola favorita. Disseste que tinhas que pensar e eu aceitei. Crente em ti. O tempo foi passando e nunca mais decidias. Todos me diziam que já não querias a camisola que te emprestei com tanto carinho. Eu negava, não fazia sentido, tu tinhas dito que sim e eu acreditava em ti. A data em que prometeste dar-me a resposta passou e eu continuava à espera. Crente em ti.
Hoje atiraste-me com um saco do lixo que esteve ao sol durante uma semana e continha os cocós que o teu cão fez num mês a rodear a minha camisola favorita rasgada e cheia de lama. Tinhas outra vestida, tão mais feia, mas bordada a diamantes. A que eu te entreguei não tinha diamantes, mas tinha muito amor por ti. Perguntei-te porquê. Porque preferiste os diamantes ao amor, mas não respondeste. Sorriste ironicamente e cuspiste-me para cima.
Agora vou continuar a minha vida sem perceber porquê, porque não vale a pena. Tu não vales a pena. E esta é a última vez que te dirijo a palavra. Adeus, maxi.
Do futebol ao hóquei, do basquetebol ao voleibol, uma visão livre, imparcial e plural do Sport Lisboa e Benfica.
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