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Há uns 20 anos, a SIC transmitia um programa de grande sucesso para a altura chamado “Perdoa-me”. Para o leitor que não está familiarizado com o programa, o título do mesmo é auto-explicativo. Duas pessoas, amigos, irmãos, familiares, iam ao programa numa tentativa de fazerem as pazes, após se terem afastado por qualquer motivo. Era tudo muito bonito. Os dois reconheciam que tinham errado, que tinham dito coisas sem pensar, que deviam ter tido mais paciência e que se calhar até exageraram nas reacções. Acho que já perceberam onde quero chegar. Mas não vai ser esse tipo de texto que vou escrever.
Isto não é um pedido de desculpas ao Rui Vitória, ao Vieira, ao plantel do Benfica ou a todos aqueles que sempre acreditaram no sucesso desta equipa. Eu nunca acreditei, nunca escrevi em caps a exigir apoio ou respeito, nem nunca me senti sereno e calmo à espera de resultados. Sofri à minha maneira, perdi cabelo, envelheci 24 anos, enfim, o normal. Por isso não, isto não é um pedido de desculpas nem um “eu sempre acreditei”. É mais um agradecimento, até.
Não era adepto do Rui Vitória, nunca o fui. Fiquei naturalmente preocupado quando veio para o Benfica. Não pela saída do anterior treinador, mas pela entrada do novo. Mas a partir do momento em que é o meu treinador, terá mais um apoiante do seu lado.
Vi todos os jogos da pré-época e esforcei-me - a sério que me esforcei - para me manter positivo. Aguentei noitadas até às 5 da manhã para ver 1 remate à baliza em 90 minutos, aguentei ver o desnorte em campo e eu próprio me senti com jet-lag. Destaquei, neste mesmo espaço, o quão importante era vencer a Supertaça, entrar bem na época e vencer pelo Benfica, mas tudo isso passou. O tempo foi passando, as coisas foram mudando, mas o Benfica não. Sentia uma vontade impotente na equipa em querer alterar as coisas, mas tudo o que podia correr mal, corria. Só faltou aparecer um jogador grávido.
A breve ilusão rapidamente se deprimiu e não via a hora deste malvado ano chegar ao fim. Não havia nada por onde se pegasse, nenhum ponto positivo, nenhum vislumbre de melhorias. Percebi, mais depressa do que gosto de reconhecer, que esta época estaria condenada.
Mas o tempo foi passando, as coisas foram mudando e o Benfica também. Por este, por aquele ou até pelo outro motivo. Aquilo que parecia uma utopia tornou-se numa realidade. O Benfica alcançou o feito mais importante dos últimos anos e fê-lo como é seu apanágio – de uma forma épica, orgásmica, sofrível por vezes. À Benfica.
E então (agora sim) quero agradecer ao Rui Vitória, por ser melhor do que eu. Por ter sido forte, por ter mantido sempre a postura, por ter um discurso que não envergonha o Sport Lisboa e Benfica e por, como eu e vocês, compreender a dimensão e exigência que impera no clube. Mais do que qualquer outra pessoa, o Rui Vitória podia ter extravasado, dado resposta a quem não merece ou até mudar o tom, mas nunca o fez. Soube perder e soube ganhar. Quero agradecer-lhe por ter sido o protagonista de uma das épocas mais satisfatórias a que já assisti e por me ter dado uma das maiores alegrias da minha vida, senão mesmo a maior. É a pessoa que mais merece esta vitória.
Quero agradecer ao melhor plantel que passou pelo clube nos últimos largos anos. Agradecer-lhes por se terem unido, por terem percebido o que estava a acontecer, por terem suportado tantas adversidades e por terem honrado a camisola do Benfica. Obrigado por terem defendido o clube em todos os jogos e terem dado a volta por cima. Com vocês, ia ver um jogo a qualquer lado. Jogaram à Benfica, foram e são Benfica. Eu, enquanto adepto, confesso que, além de ganhar títulos, não há mais satisfatório do que ver um jogador compreender e identificar-se com a grandeza e mística do clube, e vi isso neste grupo. Em todos, sem excepção. Até no Taarabt, que está a festejar o 35 desde Agosto.
Em Setembro, a quente (ou então não), escrevi que esta época, para o bem ou para o mal, teria Vieira escrito na testa e que em Maio saberíamos todos para onde olhar. E hoje, Maio, sei bem para onde olhar. Para o bigode do Luís. Quero e devo agradecer-lhe e dar-lhe os parabéns (este ano sim) por ter conseguido, e de que maneira, o que queria. Provar que ninguém é maior que o clube e que temos a obrigação de dar as condições a qualquer treinador para vencer. O Benfica tem sempre de vencer. Esta época foi uma ideia sua, uma aposta pessoal, portanto, se estou cá para criticar, também tenho de estar para reconhecer méritos e este ano Vieira tem muitos para recolher.
Mas para isto não ser tudo uma choraminguice, quero também dizer que não é por isto que vou deixar de ser exigente com o treinador, com o presidente e com a equipa. Vou criticar e colocar coisas em causa se assim o entender. Vou manifestar o meu desagrado se concluir que o clube não foi competente. E se isso significar que tudo se resolva meses depois, então que o seja. Nunca me vou conformar com o Benfica, nem nunca me vou encostar na sombra de sucessos anteriores. Não esqueço o passado, mas irei sempre precoupar-me com o presente e o futuro do clube e irei sempre dizer o que penso, mesmo que possa vir a não ter razão. Nunca teremos títulos a mais e nunca uma vitória será suficiente. Porque é o Benfica. É isto que se exige quando se vive o Benfica, quando só se vive Benfica.
Queria dizer muitas mais coisas, mas acho que todos sentimos o mesmo neste momento. Ser do Benfica é uma coisa magnífica. Obrigado a todos, parabéns a todos, viva o Sport Lisboa e Benfica.
#RumoAo36
Júlio César, Nélson Semedo, Lisandro, Jardel, Sílvio, Fejsa, Samaris, Gaitán, Ola John, Talisca e Jonas. Éderson, Carcela, Diego Lopes, Bilal Ould-Chikh, Mitroglou, Murillo, Pelé, Taarabt, Marçal, e Francisco Vera. De um lado, temos os jogadores que foram titulares na Supertaça, no outro temos os jogadores contratados para esta época. Nomes em comum? Nenhum.
Rui Vitória herdou para o início da corrente época um plantel bicampeão, mas que viu sair o titular do lado direito da defesa, um dos avançados, Lima, e ainda temos o caso de Salvio que sofreu uma grave lesão no joelho. Para juntar a isso, o treinador do Benfica não pôde contar com o capitão Luisão para o jogo da Supertaça. Já durante a época passada, em Janeiro, o Benfica tinha vendido Enzo, e a equipa sentiu-se disso na 2ª volta, não tendo tido até agora um substituto à altura. Resta ver que desde a saída de Enzo, o Benfica tem menos pontos no campeonato que o Porto, mesmo com Jorge Jesus no comando da equipa. O plantel já era de si algo fraco, todos temos a noção disso, com lacunas. Quer se queira quer não, Jorge Jesus nos dois últimos anos conseguiu montar um colectivo extremamente forte e que conseguiu mascarar muitas das lacunas que vários jogadores tinham. Não há que esconder isso, tinha muitos defeitos mas também muitas virtudes, e eu até devo ser uma das pessoas no mundo que menos gosta do agora treinador do Sporting.
Ora bem, a estrutura do Benfica achou por bem dar um avanço de um mês e meio. Para além de não se aperceber que a pré-época tinha sido preparada de um modo amador - assunto que ainda abordarei, mais uma vez -, decidiu que esta equipa só se devia começar a reforçar a sério na semana da Supertaça, mas antes disso decidiu contratar 11 jogadores, e que apenas um tem contado até agora, Carcela. Como se isso não bastasse, ainda deixou sair titulares sem se acautelar a tempo. Destes 11 jogadores que chegaram, muitos nem estão no clube, ou sequer se apresentaram. A estrutura do Benfica tem que perceber que são estes Marçais, estes Pelés, estes Veras, que roubam o lugar a jogadores da formação, não os craques que saem, e não se pode pensar que um Enzo sai e João Teixeira assume logo o lugar. Estamos com quase um mês e meio desde o início dos trabalhos e o Benfica jogou um jogo oficial sem 4 titulares do ano passado – 5 se for contar com Eliseu, mas como foi opção técnica não entra neste lote - e sem nenhum reforço na equipa. Lembrem-se, o campeonato começa esta semana.
Rui Vitória, tem estado a desiludir-me e muito, não vou mentir. Esperava muito muito mais, porque a jogar assim, nem com Ibrahimovic e Suárez na frente. Não tem conseguido retirar quase nada dos melhores jogadores da equipa, nem fazer com que outros mostrem algo. Há muito de mau que se pode falar do jogo da Supertaça, muitos equívocos, muitas coisas que não se entendem e acima de tudo, um péssimo futebol que o Benfica tem praticado. No entanto, também muita da responsabilidade não se pode culpar exclusivamente a ele. As condições que ele teve até agora foram bastante duvidosas. O fardo que ele herdou é muito grande e pesado. Deveria ter sido acautelada a forma tranquila como a equipa trabalharia. Estar 6 anos com um treinador e depois chegar outro, não é nada fácil, há muita coisa que é preciso mudar. O padrão de exigência dos adeptos é agora, naturalmente, maior para com o treinador. Só esta semana teve direito a um verdadeiro reforço, teve uma pré-época difícil e a equipa chegou a Portugal na semana em que disputaria um título, e que representava muito para os adeptos do Benfica.
«Estivemos 16 dias fora e foi razão para muitos falarem de falta de organização da pré-temporada. Esses têm complexo de clube pequeno»
Esta foi uma das frases que Luís Filipe Vieira disse durante esta semana, e que me tocou particularmente. Não que tenha sido dirigida a mim, claro, sou apenas um simples adepto do Benfica que pensa pela sua cabeça, mas que foi dirigida a todos os que tentam entender algo e pensar pela sua cabeça. O que acha agora o presidente do Benfica depois de ver num jogo oficial, um jogo que estava um troféu em disputa, um jogo que contava bem mais que uma simples taça, ver aos 30 minutos um Samaris ou um Fejsa que já não podiam com o rabo? Isto de se vir falar e bater palmas a tudo é muito bonito, mas sem a exigência e a crítica construtiva, as coisas não melhoram. Para se melhorar, primeiro é preciso perceber que se erra, mas a estrutura do Benfica nunca vai admitir que errou nesta questão, porque precisava daquele dinheiro como de pão para a boca. Três semanas sem nenhum jogo, poucos jogos de pré-época, jogos em condições muito duvidosas para os jogadores, horários muito diferentes dos normalmente praticados, muitas viagens, o chegar a Portugal já na semana de jogo, quando os jogadores precisariam ainda de se voltar a habituar aos novos horários e clima, foi de uma incompetência atroz, ainda para mais quando a equipa viu chegar um novo treinador. E isso teve custos, não para a estrutura do Benfica, mas para a equipa e treinador, como se viu no Domingo.
Os reforços irão chegar naturalmente agora, serão bons jogadores, e isso será quase o começar de uma nova pré-época para o treinador do Benfica, isto na semana do inicio do campeonato. Quem é que ainda não tinha percebido que o Benfica precisava de reforços que entrariam de caras na equipa titular? É preferível comprar pouco e bem, que muito e mal. Preferiria um jogador que fosse titular de caras da equipa, do que todos aqueles nomes que todos os verões vemos chegar à Luz e que pouco contam. A estrutura do Benfica que não pense que por termos sido bicampeões fazem tudo bem, e que não há nada que melhorar. Que não pense que estamos na frente por termos sido bicampeões e os outros é que têm de correr atrás de nós. É preciso exigência, trabalho, não andar a viver de anos anteriores, e não utilizar sempre o mesmo discurso para qualquer situação que aconteça.
Que no fim da época nada disto pese, e que o Benfica ganhe tudo o que ainda há para conquistar internamente, é só o que peço.
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