Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Os sete ingredientes mortais de Rui

por Aloutre, em 05.09.15

 

Era uma vez…


Um pasteleiro de seu nome Jorge, conhecido como o melhor pasteleiro na zona na arte de fazer pastéis de nata. Aqueles pastéis de nata tipicamente portugueses, que encantavam qualquer um que tivesse a oportunidade de os apreciar. A história do Jorge é algo caricata, ele foi subindo na vida a pulso, de empresa em empresa, até que surgiu a oportunidade de integrar a maior pastelaria de Portugal.


A pastelaria era a mais conceituada e reconhecida em Portugal (doravante pastelaria B) e tinha uma imagem muito positiva além fronteiras, devido a mais de 100 anos de história e de sucessos alcançados ao longo da sua vida, no entanto encontrava-se numa situação algo moribunda, à deriva e sem conseguir alcançar nos anos precedentes todo aquele sucesso que lhe era reconhecido. Andava a perder prémios, prestígio e reconhecimento para uma outra empresa situada mais a norte (doravante pastelaria P), que aliava qualidade a uma postura menos correta no nicho de mercado em que se encontra, algo que as autoridades competentes deixaram passar em branco (e amarelo, e mulato, e etc.), porque as suas pastelarias se faziam acompanhar de um café com leite e uma frutinha da época, capaz de fazer qualquer um atingir momentos de puro prazer.


Com a chegada do Jorge à pastelaria B, esta sofreu um safanão tal que começou novamente a voltar a encantar os seus clientes, a ganhar prémios e a mostrar o porquê de ser a mais conceituada e o porquê de merecer ser a maior e melhor pastelaria do país! Com altos e baixos entre 2009 e 2015, altura em que Jorge esteve à frente da pastelaria B alcançado alguns êxitos devido aos seus pastéis de nata maravilhosos, a pastelaria conseguiu colocar-se como a maior potência doceira nacional e o futuro prometia alguma estabilidade e confiança. Entre este período existiram algumas crises entre Jorge e a entidade patronal, que acabou por lhe dar a mão e manter no cargo mesmo contra a vontade de grande parte dos clientes que demonstravam algum descontentamento devido à qualidade dos seus croissants ter vindo a decair e a desiludir, batendo no fundo em 2013. A partir daí assentaram os pés no chão e até 2015 foi um regabofe de prémios e prestígio alcançados, que Jorge voltou ao trono com os seus pastéis de nata, altura em que… Foi vê-lo partir naquela estrada.


A empresa rival da área metropolitana de Lisboa (doravante pastelaria S) decidiu ir atrás do Jorge, e num golpe de charme conseguiu contratá-lo com um chorudo ordenado, deixando ao mesmo tempo a pastelaria B ferida no orgulho. Há lá coisa mais gostosa que conseguir uma estrela para a empresa, ao mesmo tempo que se enfraquece a empresa rival! Os pastéis do Jorge também são gostosos, mas isto é um gostoso daqueles que acontece muito raramente quando há um eclipse solar, e a empresa S bem que precisava de um ânimo renovado, depois de anos e anos na penumbra e na sombra das principais doçarias nacionais B e P. O Jorge também não fica isento de culpas, demonstrando toda uma falta de humildade e respeito perante quem lhe deu muito mais a ganhar que a perder, defeitos que lhe tinham sido apontados ao longo dos anos, sendo também por aí que os seus pastéis de nata serviam algumas vezes para um brilharete interno, mas além fronteiras acabavam por ser esmagados e fazer má figura. O seu ego era enorme mas os factos não o justificavam, e Jorge nunca viu isso dessa forma nem aceitaria algo nesses termos. Para si mesmo, ele era o maior e melhor pasteleiro de Portugal (até que o mundialmente reconhecido e emigrado José).


Passado todo este episódio e assente a maior poeira, o grande líder da empresa B, Luís, procura desesperadamente um substituto para Jorge. A clientela levou uma facada no coração ao perder o seu pasteleiro de renome nacional a seu lado já há alguns anos, e chorava pelos pastéis de nata maravilhosos que nos últimos anos tinham voltado em força às mesas da pastelaria B. Era Jorge ou o caos, nas fileiras da pastelaria B. Sem meias medidas e numa postura cuja intenção de Luís seria demonstrar que Jorge alcançou o sucesso devido à empresa e não o contrário, ele tomou uma decisão da sua (quase) inteira responsabilidade. Fazendo orelhas moucas a tudo e todos que o rodeavam, escolheu para substituto de Jorge um homem que trabalhava numa empresa mais a norte, em Guimarães, chamado Rui.


Rui é um pasteleiro mais novo e com menos experiência, tinha ganho algum bom nome devido ao trabalho feito na empresa de Guimarães, onde com poucos recursos tinha conseguido manter alguma qualidade no trabalho apresentado. A sua maior virtude tinha sido a aposta com sucesso em ingredientes caseiros, que mais tarde dariam um belo retorno financeiro à empresa. Contrariamente aos pastéis de nata que o Jorge confecionava, Rui habitualmente era especialista na arte dos croissants, algo mais internacional e requintado, utilizado na maior parte das grandes pastelarias europeias e mundiais. Já tinha trabalhado numa das sub empresas da pastelaria B, era conhecido e homem da confiança do patrão Luís, e foi em si que recaiu a escolha para assumir o cargo. Os clientes e associados da pastelaria B não ficaram muito satisfeitos com a escolha, na sua maioria, porque não lhe viam o perfil e a qualidade necessária para manter a batuta, e consequentemente o Luís perdeu alguma (muito pouca, diga-se) falange de apoio.


Eu, como cliente associado que sou da pastelaria B, confesso que fiquei contente quando na altura foi comunicado oficialmente este facto. Era um dos dois pasteleiros da minha preferência, juntamente com outro de seu nome Marco, que rumou à Grécia. Defendo que a pastelaria nacional está boa e recomenda-se, estes dois nomes estavam disponíveis e julgo que dariam conta do recado se lhes fosse dada essa oportunidade. Estava confiante que a mudança para os croissants seria o rumo certo por ser o meu alinhamento pasteleiro preferido, e via qualidades na confeção do Rui.


Poucos meses se passaram, o Rui fez o seu estágio na América, começou a trabalhar a doer, e eu sinceramente estou com algum receio neste momento. Acredito que pode dar certo, lá no fundo acredito, mas já acreditei muito mais. O que se tem visto nos últimos tempos a sair da mui nobre pastelaria B, não faz jus ao nome que acarreta. Os doces têm sido bons q.b. à rasquinha, já perdemos um dos prémios de início do ano e logo para o Jorge e a empresa S que bateu cá forte no orgulho. Seguem-se aqueles que para mim são os sete ingredientes mortais para o que aconteceu, acontece e infelizmente acho que acontecerá no mundo da empresa B:

 

  1. O estágio de Rui foi muito mal planeado, prejudicando seriamente o seu início a doer na pastelaria B. Sendo um pasteleiro novo na empresa, sem conhecer os seus colaboradores, começando um trabalho do zero, exigia-se que o estágio se pautasse por outros fatores. Sim, porque o fator em causa escolhido pelo patrão da empresa foi puramente económico quando se exigiam outros, nomeadamente o processo de dificuldade gradual, a proximidade e reconhecimento das suas próprias infraestruturas e ingredientes disponíveis, os testes de 3 em 3 dias.

  2. A desconfiança dos clientes e associados da empresa B. Por vezes diz-se que é por dentro que uma casa cai, e foi um pouco o que aconteceu com Rui. Desde início que uma grande parte dos clientes não concordaram com a escolha do novo pasteleiro, não lhe reconheciam a qualidade necessária para levar a pastelaria pelo caminho da fama e do sucesso. O problema é que por todo o lado se começou a transmitir este sentimento (fóruns, blogues, televisão, nos cafés, etc) propagando-se e conquistando os mais incertos e até os que confiavam na escolha. Não raras vezes foram as circunstâncias em que se chegou mesmo a colocar o Rui como alvo de chacota e de ridicularização em praça pública com o intuito de levar a sua ideia avante, criando instabilidade não só desnecessária como digo mesmo estupidamente prejudicial. E prejudicial não é problema para muitos, que preferem mesmo que tudo corra mal na pastelaria B para mais tarde poderem dizer “eu tinha razão, eu avisei, eu bem sabia”.

  3. A pressão da chegada de Rui à pastelaria B em nada se compara à pressão que Jorge encontrou aquando da sua chegada. É algo natural, e parece-me que é por aqui que o pecado mortal anterior tem origem. Quando Jorge chegou à pastelaria B para assumir o cargo de pasteleiro, a empresa encontrava-se numa situação de depressão, instabilidade e quase de acomodação a um segundo plano. Portanto, tudo o que Jorge pudesse fazer de positivo seria um sucesso, caso não conseguisse nada por aí além basicamente era mais do mesmo e continuar-se-ia na mesma senda. É algo que Rui não tem a seu favor, a margem de manobra. Este chega à pastelaria B após esta vir de um período positivo em termos de prémios e reconhecimento, de estreita relação com os seus clientes, de um mar de rosas à tona da água. Qualquer passo dado em falso por parte do Rui, é logo colocado como uma questão de vida ou de morte. As coisas ou correm bem, ou correm bem, porque nos últimos dois anos correram bem. E Rui tem de saber lidar com esta pressão enorme que lhe recai sobre os ombros, não tem alternativa.

  4. A pastelaria B era reconhecida pela especialidade do Jorge, os pastéis de nata. Estes pastéis de nata conjugavam ali uma mescla de 4 natas, 2 camadas de massa folhada, 3 ovos e 1 pitada de canela. Depois há sempre aqueles segredos que são alma do negócio e que caracterizam cada um dos bons pasteleiros, a sua imagem de marca. Ora, Rui não é especialista nesta arte, é especialista nos internacionais croissants, vistos nas melhores e campeãs pastelarias alemã, inglesa, espanhola, francesa, etc, onde se cozinham e namoram entre si 4 camadas de massa folhada, 3 pitadas de farinha e 3 retoques de gila, ovo, chocolate, é ao gosto. Um dos principais problemas reside aqui, pois Rui não foi suficientemente corajoso para cortar com o passado. Neste momento a pastelaria B não vê servir aos seus clientes o bom croissant com que ele foi evoluindo ao longo dos anos e que ele melhor domina. Não, Rui optou por ceder à pressão e quis tentar continuar a produzir os pastéis de nata que existiam antigamente, quis manter o paradigma já existente, correndo o risco de não ter o conhecimento e a experiência necessárias para a confeção do mesmo.

  5. Os ingredientes não se fundem de forma coesa e natural. Em virtude do que foi dito anteriormente. Quando os pastéis de nata de Rui chegam à mesa nos dias de hoje, não se denota um fio de sabor fluido e natural. Não se exige numa fase inicial um paladar esmagador e de levar aos céus os maiores críticos, mas pelo menos que demonstre alguma qualidade no controlo e no assumir de estatuto que tem necessariamente de lhe ser reconhecido. Não é com um pastel de nata confecionado aos trambolhões de início ao fim que se vai conseguir levar a nau a bom cais. Ou melhora muito a forma como todo um pastel de nata é elaborado do início ao fim como um todo, ou terá sérios problemas. Ou então começa novamente do zero e num ato racional e de coragem e pulso firme, assume que é bom a fazer croissants e é por aí que deve apostar. Já vai tarde, diga-se, porque deveria ter sido a sua postura desde início, é nisso que ele é bom, é nisso que tem de apostar, é na qualidade e no imediato que lhe vão recair as exigências e os fatores que lhe podem fazer alcançar o sucesso. Porque a pastelaria B ou começa em breve a apresentar qualidade aos seus clientes, ou corre o sério risco de entrar numa nova crise.

  6. Dispõe de muitos ingredientes de qualidade mediana. Sejamos francos, para não correr o risco de ser desonesto, no último ano de Jorge também já se denotou uma clara quebra de qualidade no que aos ingredientes diz respeito, ainda que ele tenha conseguido disfarçar esse facto e tenha conseguido alcançar alguns prémios. No entanto a toada mantém-se. A pastelaria B está muito longe de apresentar hoje em dia a qualidade de ingredientes que apresentou durante o passado recente, ainda mais que no ano passado. E fazer um brilharete com ovos puros do campo de reconhecida qualidade, não é a mesma coisa que com ovos de aviário. Culpa de quem deixou a empresa B chegar a este ponto, de quem gere os stocks, de quem olha para os recursos e assume que está bom como está.

  7. As condições orçamentais oferecidas são menores. Sim, sei que o Rui não está a conseguir manter a bitola nos pastéis de nata. Mas também não é menos verdade que naquela casa já houveram melhores condições para se fazer algo melhor, através de ingredientes de qualidade reconhecida, como eu disse anteriormente. Com a diferença que quando não os havia, compravam-se nem que fosse em cima do prazo de validade, e com Rui isso não aconteceu. O patrão cortou-lhe e de que maneira o orçamento disponível para abastecer o armazém de ingredientes de qualidade inegável. Parece até que longe vão os tempos recentes em que haviam ingredientes sérvios, brasileiros, argentinos, espanhóis de qualidade inegável, alguns até que não passaram muitas vezes de reserva no decorrer do ano. Hoje em dia existem ingredientes de primeira linha a serem utilizados constantemente que nem se aproximam da qualidade de alguns desses que por vezes eram meras reservas de ocasião. Capacidade para melhorar, não existiu. Outrora eram compradas verdadeiras especiarias a peso do ouro, hoje é vê-las a virem pesadas como o ouro.

Veremos o que acontece no futuro. Eu já confiei mais que a minha estimada pastelaria B tinha feito uma boa escolha, e que o homem escolhido tinha capacidade para o cargo. Continuo a ir lá tomar o pequeno-almoço diariamente, mas ainda denoto muita falta de açúcar para me adoçar o paladar ao meu gosto.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:13

Estrutura para totós

por Zlatan, em 02.09.15

  1. Modo como as diferentes partes de um todo estão dispostas.
  2. Construção e disposição (de um edifício).
  3. Disposição (no seu conjunto) das partes do corpo humano.
  4. O que permite que uma construção se sustente e se mantenha sólida.
  5. O que serve de sustento ou de apoio.
  6. Objecto que se construiu (ex.: o edifício é uma estrutura sólida).
  7. Força física ou psicológica (ex.: ela não tem estrutura para aguentar tanta responsabilidade).

 

A palavra já não é vulgar para ninguém. Está na moda. Esteve durante muitos anos associada a outro clube, mas parece ser tendência no Benfica.

 

Esta época o Benfica decidiu colocar em prática aquilo que o presidente tem proclamado há vários anos - o desinvestimento equilibrado no futebol e a integração de jovens da formação no plantel principal. Os muitos milhões realizados em transferências ao longo dos anos certamente que contribuíram para a consolidação das finanças do clube, promovendo uma abordagem cada vez mais sustentável, e os jovens da formação já não serão vendidos prematuramente, envoltos em supostos empréstimos e cláusulas duvidosas, mas sim incluídos no plantel principal.

 

Polémicas à parte, a direcção do Benfica entendeu que podia abdicar do anterior treinador. De repente surgiu a necessidade de provar que não existia uma dependência de alguém que até parecia ganhar maior dimensão do que o próprio clube, algo que nunca pareceu incomodar o Benfica. Alguém a quem se permitiu e ofereceu tudo. De repente, o Benfica decidiu provar que venceu com Jesus e não devido a Jesus.

 

Sem surpresa, Rui Vitória foi o treinador escolhido. Antigo treinador da equipa de juniores do Benfica, conhecido por “apostar” na formação em Guimarães, Benfiquista e amigo de Vieira. É uma escolha exclusiva do presidente do Benfica, que se sente no direito de se isolar nesta decisão, já que acertou em 2009 com Jesus.

 

Anestesiando os adeptos através de reportagens de autopromoção, a estrutura foi vendendo a ideia de uma enorme máquina de competência, criando um modelo que permite a um treinador ser vitorioso. Hoje vemos claramente que não é assim.

 

A saída de Jesus permite, para já, tirar várias conclusões acerca da forma como o Benfica prepara as suas épocas. Continua a não existir uma linha de orientação relativamente à forma como o clube se movimenta na pré-época.

 

O pack de contratações que se apresenta no Seixal, qual casting do Ídolos, voltou a chegar, o que me leva a concluir que o suposto desinvestimento é uma farsa. O Benfica não decidiu gastar menos, nem contratar melhor. Todos os anos continuam a chegar jogadores que não vestem, sequer, a camisola do clube. Todos os anos se realizam contratações que me fazem comissão na orelha. Obviamente que estes negócios são decisivos para as contas do clube. Continuar a ignorá-los não é solução.

 

Vieira garantia em Junho que Rui Vitória teria as mesmas condições que Jesus. Hoje também vemos que isso está longe de ser verdade. A direcção encostou-se ao facto de manter, praticamente, o plantel campeão, esquecendo-se que este já era curto com Jesus e que precisava de reforços cirúrgicos, mas significativos. O Benfica vende Enzo em Janeiro, mas rapidamente se percebe que Pizzi não seria solução. Nem com a prolongada lesão de Salvio e a venda de Sulejmani, o Benfica decide trazer um extremo de qualidade inegável. Mais. O Benfica termina o mercado de transferências atrás de Siqueira, o mesmo lateral sobre o qual não foi exercida a opção de compra em 2014. Depois de considerar várias alternativas e de analisar o mercado com a devida calma, o Benfica não faz mais nenhuma contratação. Dos muitos jogadores que chegaram, poucos ficaram no plantel e ainda menos terão funções relevantes na equipa. Chegamos ao último dia e percebemos que os problemas que tínhamos em Maio são os mesmos de hoje.

 

É compreensível a alteração da política e que Rui Vitória não sinta que tem “autoridade” para exigir reforços, mas assiste-se actualmente a uma quebra gritante da qualidade global do plantel. Um exemplo esclarecedor: em 2014 o Benfica tinha Gaitán, Salvio, Markovic e Sulejmani para as alas. Hoje tem Gaitán, Victor Andrade, Gonçalo Guedes e Carcela. Naturalmente que não se impõem investimentos desmedidos, nem que um jovem da formação seja forçado a render no imediato, mas tem de existir um meio-termo. Esta loucura de 8 ou 800 é injustificável, sobretudo num clube que é bicampeão.

 

Questiono-me se os dirigentes do Benfica estiveram demasiado distraídos este Verão. Se com as batalhas pessoais que João Gabriel decide travar nas redes sociais, não tendo pudor de utilizar o nome do clube para se socorrer, se com os espectáculos a que o funcionário Pedro Guerra (Fernando Santos para os mais distraídos) se dispõe no canal do clube, onde agora defende ferozmente a aposta na formação, contrastando com a sua prévia opinião de que “o Benfica não é o Sporting”, ou se estariam maravilhados com as entrevistas de Domingos Soares de Oliveira, que no último mês ainda não tinha garantido a existência de um milagre financeiro, apesar de todos os anos existir uma insólita necessidade de vender jogadores. Certo é que passaram três meses e a estrutura não conseguiu resolver nenhuma das principais lacunas do plantel. É de lamentar que as reportagens do Nuno Luz não tenham conseguido captar estes momentos.

 

Percebe-se, portanto, que, mesmo sem Jesus, nada mudou. O Benfica continua a ser gerido ao sabor do vento, com base em crenças, instintos e impulsos. Não existe nada que caracterize a liderança e o projecto que a estrutura tanto se tem esforçado em vender aos adeptos. Não há nada que identifique o clube. Continuamos na mesma política de fogo-bombeiro: é preciso deixar que tudo corra mal, para se chegar à conclusão que é preciso fazer alguma coisa. Depois de acontecer, decide-se agir. Foi preciso o Benfica ser humilhado na Emirates Cup de 2014 para que jogadores como Júlio César, Samaris e Jonas finalmente fossem contratados, por exemplo. A habitual incompetência e negligência do Benfica nas pré-temporadas foi castigada com a perda de um título oficial, num jogo em que uma equipa se preparou para vencer e a outra andou perdida nas Américas à procura e à espera de qualquer coisa.

 

Desta forma, é possível concluir que, no final, quem faz a diferença é o treinador. Chegamos a esta altura e percebemos que o que realmente definiu o Benfica durante os últimos anos foi a influência do treinador. A estrutura do Benfica foi Jesus, que mesmo com os seus defeitos e alguma incompetência, conseguiu esconder e camuflar muito do desnorte presidencial. Por este motivo, a estrutura foi uma das culpadas de tornar o clube refém do anterior treinador, já que a exclusiva competência da direcção há muito que é conhecida. Criou-se, assim, o mito de que só Jesus é que poderia fazer a diferença, quando existem outros treinadores competentes que podem fazer o mesmo. Porém, esta direcção parece empenhada em tornar isso impossível. O problema não foi Jesus sair, mas sim quem ficou e entrou.

 

Esta época tem "Vieira" escrito na testa. Para o bem e para o mal, em Maio, saberemos todos muito bem para onde olhar.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 20:45


Sobre nós

Do futebol ao hóquei, do basquetebol ao voleibol, uma visão livre, imparcial e plural do Sport Lisboa e Benfica.



Contacte-nos por e-mail


Licença Creative Commons


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.




Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D