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Problemas na noite europeia

por R_9, em 10.12.16

 

Na passada terça-feira, o Benfica recebeu o Nápoles na derradeira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. O resultado acabou por não ser o melhor, já que a equipa italiana acabou por vencer por duas bolas a uma, mas devido à vitória do Dinamo de Kiev frente ao Besiktas, o Benfica apurou-se para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, ficando no 2º lugar do grupo B.

 

Este não é o melhor momento vivido pela equipa de Rui Vitória. Não foram apenas os últimos resultados que têm deixado a desejar, mas também as exibições. Neste jogo isso foi ainda foi mais notório e a equipa do Nápoles colocou a nu muitas das fragilidades do Benfica, dominando e vencendo o jogo com inteira justiça.

 

Neste jogo os problemas foram muitos. Foi uma defesa tremendamente insegura: problemas na linha defensiva, confusões no equilíbrio defensivo, mistura de referências individuais com referências zonais, uma construção de jogo muito débil, assim como um ataque posicional que deixou muito a desejar.

 

A dupla de ataque nunca se conseguiu entender e tentou procurar sempre a profundidade, não houve ligação de jogo entre o sector intermédio e o sector atacante - estando muitas vezes os dois avançados (ou até eles os dois e mais um ou outro colega de equipa) no mesmo espaço. Depois Salvio, na direita, continua a acumular más decisões colectivas, cada vez que ele toca na bola, e isso aumenta-me, a cada jogo que passa, os níveis de desespero.

 

Depois, a equipa nunca conseguiu contrariar os movimentos do Nápoles, transmitindo a imagem de que não estavam preparados para aquilo que os comandados de Sarri apresentaram: o domínio foi total, e percebeu-se que o treinador italiano estudou bem o Benfica. Desde o lado que preferiam atacar, ao lateral que mais projectavam, o jogador do meio-campo que tentavam desposicionar, ou os cruzamentos atrasados… tudo estava bem pensado e trabalhado. Mesmo a partir do banco, nenhuma solução foi encontrada pelo treinador do Benfica para alterar algo em campo. Vi muita gente preocupada e a criticar o discurso de Rui Vitória na flash interview mas, na minha opinião, ainda mais preocupante foi a forma como, no banco, assistiu a tudo sem fazer qualquer ajuste ou mudança.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agora vem aí mais um duro teste amanhã para o Benfica, recebendo o Sporting no Estádio da Luz, isto depois de duas derrotas seguidas.

 

Penso que Rui Vitória tem gerido mal a equipa e tem feito escolhas que não se percebem. Não entendo porque Jardel anda entre a bancada e o banco de suplentes, quando é o melhor central do campeonato (apesar de dar pouco com bola) e faz com Lindelöf uma dupla muito forte. Enquanto isso, vemos Luisão a arrastar-se em campo, a fazer várias coisas mal feitas, a descompensar a equipa e a obrigar Lindelöf (que também não tem estado muito bem) a esforços extra, como no jogo com o Nápoles em que teve de vir do outro lado para fechar Luisão, que não conseguiu acompanhar Mertens, e teve de parar. Jardel até poderia nem ter entrado logo a titular, mas já deveria ter minutos.

 

Outra questão é a constante titularidade de Salvio. O extremo tem sido um jogador que tem prejudicado muito mais a equipa do que a tem beneficiado. Em sua defesa, aparece gente a mostrar números (alguns deles do fantasy da Champions League, o que é uma barbaridade) tentando mostrar que afinal está tudo bem. E onde estão todas as inúmeras decisões erradas dele ao longo do jogo? Todas as vezes que a tomada de decisão é a pior? Todas as vezes que ele decide ir em situações de desvantagem numérica? Pois, não estão. E o argentino a partir de uma certa altura deixa de ser o maior culpado, já que faz todos os jogos a mesma coisa e continua por lá. Na cabeça dele deve estar a fazer bem, por isso o cenário não muda de jogo para jogo.

 

Gosto de Gonçalo Guedes, mas ele ainda demonstra muitas dificuldades em ligar os sectores, em ser o jogador que é preciso em muitos momentos de jogo e ainda tem muito a aprender. Em jogos como o Nápoles, onde há menos espaço, isso ainda se torna pior. Raúl também continua a entender pouco do jogo. Não percebe a posição que cada momento do jogo pede, onde tem de estar, que solução tem de dar, e quando joga como homem mais adiantado, acaba várias vezes por atrapalhar quem joga atrás deles. Guedes e Mitroglou são uma dupla que acaba por se entender melhor. No meio-campo, Pizzi em jogos como contra o Nápoles notam-se as enormes fragilidades defensivas que tem num meio-campo a 2, sem que se consiga fazer algo para proteger a equipa disso. Os jogadores da frente não pressionam, os alas apenas se preocupam com os corredores laterais e isso desequilibra muito a equipa e faz com que haja problemas naquela zona do campo. Ao termos menos bola e com a maior qualidade do lado contrário, naturalmente que os problemas são maiores.

 

Claro que este problema não é apenas dos jogadores, já que o ataque posicional do Benfica deixa muito a desejar. Se contra equipas pequenas a enorme diferença de qualidade ajuda e muito, contra equipas mais fortes a história já é diferente. A juntar a isto, somam-se as inúmeras baixas por lesão. Depois não é apenas as lesões que aparecem, mas também o tempo de recuperação. E, também referir que são demasiadas lesões musculares a aparecer por esta altura, por isso, eventualmente, haverá ali alguma coisa a não ser bem-feita ao nível da preparação ou recuperação.

 

Grimaldo foi, de muito longe, o melhor jogador do Benfica no arranque de época e continua de baixa, não se sabendo quando recupera. A lesão de Eliseu, deixa apenas André Almeida como opção para a lateral esquerda, o que é um problema. Se defensivamente ele acaba por cumprir muitas vezes (apesar de contra o Nápoles ter feito um mau jogo), ofensivamente não dá praticamente nada, o que causa problemas. Tanto o Marítimo como o Nápoles, praticamente nunca faziam grandes ajustes defensivos quando ele recebia a bola na largura, porque sabem que não vai conseguir criar quase nada dali, vindo para dentro com o seu pé direito ou jogando em segurança, não existindo ali qualquer desequilíbrio. E a equipa ressente-se disso.

 

Para o jogo de Domingo não sei se Rui Vitória vai mudar algo na equipa (gostava que sim, mas tenho ideia que mexerá no máximo em uma peça). Como já disse, penso que tem gerido mal a equipa e a cada jogo isso nota-se mais. Há muitas lesões, mas, por exemplo, neste último jogo, o Benfica tinha Jardel, Rafa, Carrillo e Mitroglou no banco, estando Zivkovic e Danilo (um grande mistério) sem serem convocados. Nada mau. Só as ausências não justificam o mau futebol, já que se exige bem mais da equipa.

 

O objectivo para esta fase foi cumprido, e isso acaba por ser de louvar. Agora é virar a página e Domingo ganhar o derby, mostrando outra qualidade em campo e quem é o tricampeão.

 

Por fim, e apesar de custar, naturalmente, a muitos adeptos do Benfica perceber isto, foi um prazer assistir ao futebol que Sarri trouxe até à Luz. Uma equipa fabulosa, que sabe o que fazer em todos os momentos e que tem o génio italiano por detrás de tudo aquilo. Não tem títulos na carreira, mas para mim é um dos melhores do mundo. Treinador fabuloso.

 

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publicado às 12:19


13 comentários

De aquaporina a 10.12.2016 às 13:17

Muito boa análise. O Nápoles é de facto uma grande equipa, a melhor de defrontamos este ano.

Não compreendi a colocação do sálvio na linha defensiva. Concordo também que é incompreensível o jardel não jogar e acrescentaria o rafa. Apesar de achar que o guedes e o sálvio jogam por razões mais defensivas, perde-se muito com bola.

De António Madeira a 10.12.2016 às 15:08

Quem é vivo sempre aparece.
É sempre um prazer voltar a ler uma crónica a um jogo feita por ti.

Se havia jogo em que o Rui teria de ter mexido na equipa, era este.
Contra um Nápoles fortíssimo (o que eu gostava de ver o Porto calhar com eles...) exigia-se que entrássemos com três jogadores no meio-campo, mas optou-se por uma receita claramente insuficiente para contrariar esta equipa, a melhor que defrontámos esta época.
Claro que o resultado acabou por ser natural, perante o que vimos no relvado, mas é contra os melhores que se aprende e se vê o que há a corrigir, e espero que esta oportunidade de ouro seja aproveitada, de preferência já no domingo.

Fosse eu treinador, levava o Pizzi para a direita e metia o Danilo a 8, mas como não sei o que se passa com o brasileiro, cheira-me que vamos entrar com o mesmo onze...

Para terminar, há 3 épocas que digo que o Jardel é o nosso melhor central. Tenho muito respeito pelo Luisão e sou-lhe agradecido por tudo o que deu em prol do clube, mas só com o Jardel poderemos estabilizar aquela defesa, e sem minutos nas pernas, não sei como irá ser.
Além dele, que falta fazem Jonas e Grimaldo...

De RS a 10.12.2016 às 15:51

Estás mesmo revoltado, pah :) e eu também estou contigo! Enquanto vamos ganhando, há muita coisa que se mascara, mas quando aparece uma equipa a sério, abana tudo. E amanhã vai ser igual. Rui Vitória parece-me muito melhor manager que treinador. É pena. Vamos esperar que a qualidade individual continue a fazer a diferença, mas quanto houver agendas para vender jogadores e decisões estranhas no escalonamento do plantel, não veremos os melhores todos juntos.

De BR a 10.12.2016 às 17:48

Gostei da análise! Continuo também sem perceber a insistência em Salvio.
Já tenho lido noutros que o pizzi nestes jogos devia jogar como interior direito ou jogar com um meio campo a 3, mas quem é que seria o substituto de pizzi no meio? Horta está lesionado, Danilo não tem jogado (Não pode jogar na Champions porque não foi inscrito tal como Zivkovic), Samaris e Celis para mim não servem para aquela posição.
Rafa já merecia ser titular e no meu ponto de vista a 2º avançado.
Já agora que equipa achas que devia jogar contra o Sporting?

De moleculasdeamorpelavida a 10.12.2016 às 19:26


O sonho que me alimenta é ver um Benfica a jogar como o Nápoles ou algo similar e continuo à espera.

De Manuel Quintas a 10.12.2016 às 19:57

Enorme capacidade de análise! Nada a acrescentar.

De Anónimo a 10.12.2016 às 21:01

O Rui Vitória, amanhã (apesar das baixas com que conta - queria ver o «partantes» cagão com baixas semelhantes), há de saber dar a volta ao que tem corrido mal nos últimos jogos. Não o faço por menos, porque é o que se exige a um treinador do Benfica, que se desenrasque e mostre serviço.

De bcool973 a 12.12.2016 às 15:16

Olá Pinheiro,

Parece-me que começa a haver um certo esgotamento e ao contrário da época passada, há jogadores que somam minutos apesar de maus desempenhos e outros que somam minutos de banco ou de bancada sem que nada faça prever a sua utilização.

Ontem ganhámos e para a maioria estará tudo bem, mas a entrada de Danilo mostrou à saciedade a diferença brutal que, neste momento, Pizzi faz no corredor central, tendo nós perdido completamente o controlo do jogo na segunda parte quando este saíu da tão criticada posição 8.

Lindelof está em sub-rendimento, por mim, por causa de Luisão, pois ambos agem como se fossem os líderes da defesa e nenhum dos dois segue as decisões do outro o que faz com que estejam sempre em linhas e movimentações diferentes. Semedo, contra avançados com técnica e velocidade, com Luisão na sua cobertura é um passador.

Guedes e Jimenez são muito lutadores, mas jogam com pouca inteligência. Vitória só quer desequilibrar pelos corredores com combinações com 2, 3 ou mesmo 4 elementos e apesar de não o mostrares, fê-lo várias vezes na primeira parte contra o Nápoles. O problema é que depois desses desequilíbrios criados no corredor, com a atracção de Koulibaly para a cobertura dum Goulham que foi um passador igual ou maior que Semedo, eram Salvio, Guedes ou Jimenez a decidir e por norma decidiam sempre mal.

Essa opção de Pizzi para a esquerda em vez de para o corredor central onde o Jimenez pedia a bola foi excelente, não consigo aqui carregar a imagem, mas após o passe de Pizzi para o Almeida, o Benfica ficou num 5x4. Infelizmente, o Nápoles recuperou muito rapidamente, os elementos do Benfica mais na ala não foram para o meio e rapidamente o 5x4 se transformou num 3x8 no corredor central.

Sarri é outro nível. Trabalha bem a equipa com bola, ao nível da construção e trabalha bem a equipa sem bola. O ponto fraco penso estar na criação, mas devido mais à diferença de qualidade das suas soluções para as melhores equipas, pois se bem que Mertens, Hamsik, Insigne, Callejón tenham qualidade, não são nem de perto nem de longe de top mundial.

A vitória contra o Sporting é capaz de dar alguma estabilidade. Espero que a recuperação de elementos como Jonas e Grimaldo venham a dar uma qualidade extra à equipa. Infelizmente penso que os estatutos irão continuar a assegurar as titularidades de Luisão e Salvio que, no meu entender, tão perniciosas são à equipa.

Um abraço,

De Anónimo a 22.03.2017 às 11:03

Meus caros, já se sente falta de mais um bom post de análise!
Regressem. Antes do jogo com o Porto seria perfeito!

De jorgen80 a 18.04.2017 às 17:25

Não percas a vontade de escrever sobre os talentos do Benfica. Ainda agora vim ver o Florentino Luis que é um craque no FM! :)

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