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Com a chegada de Rui Vitória ao Benfica, muito se tem falado do sistema e modelo que será usado pelo novo treinador. A dúvida é se o novo treinador irá manter o 4-4-2 que Jorge Jesus usou durante grande parte das suas 6 épocas no Benfica. Nas entrevistas dadas por Rui Vitória até ao momento, deixou sempre no ar a ideia que iria continuar a utilizar o sistema do seu antecessor, mas com alternância de sistema entre competições ou mesmo durante o próprio jogo.
É verdade que Rui Vitória já utilizou o 4-4-2 em vários momentos da sua passagem pelo Vitória, mas será extremamente difícil imprimir a dinâmica das equipas de Jorge Jesus, até porque o modelo de jogo adoptado por Rui Vitória é diferente. Enquanto que Jorge Jesus privilegia o apoio frontal de um dos avançados e o jogo interior, Rui Vitória prefere o jogo exterior e a entrada de um dos médios para procurar a profundidade.
O jogo a analisar será o que ditou o 34º título, o Vitória vs Benfica. Um jogo de grande pressão para as duas equipas: de um lado o Campeão à procura do Bi, do outro uma equipa que com pouco a ganhar na classificação, queria evitar a todo o custo que o Benfica fizesse a festa em sua casa. É assim Guimarães, são assim os Vitorianos.
O então treinador do Vitória preparou bem o jogo porque sabia que Benfica ia encontrar - Jorge Jesus nunca mudou a forma de jogar - e por isso começou o jogo em 4-4-2:
A ideia é simples: o Benfica na saída de bola projeta os laterais e fica com 3 defesas - Samaris vai para o meio dos 2 centrais -, com os 2 avançados o Vitória consegue pressionar mais à frente, dificultando a troca de bola entre os defesas, Otávio e Sami nas alas fecham os laterais e André André fica próximo de Pizzi para que a bola não entre no número 8 do Benfica - como se vê na 2ª imagem. Rui Vitória pensava ter fechado assim todos os caminhos para a saída de bola do Benfica. Este sistema do Vitória obrigou um trabalho de maior sacrífico de Jonas e Lima, foram eles que tiveram que descer no terreno e baralhar o bem trabalhado meio-campo do Vitória. E que bem fizeram esse trabalho, nos primeiros 20 minutos foram eles que impulsionaram o Benfica, mas Rui Vitória responde a esta mexida tática do Benfica e readapta-se:
O Vitória muda para 4-3-3. Ricardo Valente vai para a esquerda e Sami continua na direita. No meio-campo fica Josué no vértice defensivo do meio-campo e André André juntamente com Otávio ficam com a missão de transportar jogo e dificultarem a saída de bola do Benfica. E é neste momento que o Benfica deixa de criar perigo da mesma forma sufocante que o tinha feito antes. Josué fica com uma missão importante: vigiar de perto o avançado do Benfica que desce no terreno; nesta sequência de imagens dá para ver Josué a seguir de muito perto Lima, não o deixando ficar com espaço para o apoio frontal tão típico do Benfica de Jorge Jesus:
Josué foi a chave para bloquear grande parte das tentativas de ataque do Benfica. Nota mais para esta alteração tática de Rui Vitória.
No momento ofensivo, realce para a projeção dos laterais que o Vitória usou. Uma equipa com medo de sofrer golos, a querer apenas defender, nunca entraria numa situação de risco deste tipo:
Centrais a sair a jogar e os laterais completamente abertos na ala. É aqui que cai por terra a ideia de que Rui Vitória apenas joga para defender. No jogo com o Sporting em Guimarães, esta projeção causou muitos problemas à equipa leonina. Nesse jogo o resultado final foi 3-0 e uma exibição de sonho para o Vitória.
Na próxima sequência será possível ver novamente a projeção que Rui Vitória pede aos laterais. Num momento de pressão alta do Vitória, a bola é recuperada no meio-campo do Benfica e vê-se Luís Rocha - o lateral esquerdo - a subir no terreno para dar profundidade na esquerda:
A bola não entra em Luís Rocha porque Otávio resolve segurar a bola e perde o tempo de passe. Má decisão do brasileiro emprestado pelo FC Porto aos Vitorianos.
Noutra situação de ataque, é possível ver uma das caraterísticas do modelo de Rui Vitória - e onde difere de Jorge Jesus. O médio 'box to box' procura a profundidade para criar perigo. Na próxima imagem está André André a jogar no limite do fora de jogo para receber a bola e com isto baralhar a organizada defesa do Benfica:
O Vitória atacou sempre com muitos homens, mas nem assim criar grande perigo porque tinha do outro lado uma das mais bem organizadas defesas do campeonato.
Se no meio-campo do Benfica o Vitória defendia com 4-4-2 para pressionar mais à frente, quando o Benfica entrava no meio-campo do Vitória, estes transformavam o sistema num 4-1-4-1 bem definido. Um bloco bastante junto para evitar as rotações de posições do Benfica, limitando espaços e tentando controlar a profundidade dos Bicampeões. Este lance aconteceu ainda antes da alteração para 4-3-3:
É isto que espero do Benfica de Rui Vitória. Uma equipa que ataque e defende no meio-campo adversário com 4-4-2 e que defende no seu meio-campo com 4-1-4-1 ou 4-2-3-1. Será este o pensamento do novo treinador do Benfica para a época que se avizinha.
No lado psicológico do jogo, Rui Vitória esteve bem neste jogo. Ambiente infernal nas bancadas e objetivos a atingir para os dois lados, o Vitória esteve sempre bem no jogo, tentando sair a jogar e nunca despejando bolas sem sentido, facto que poderia denunciar alguma ansiedade. O Vitória deu sempre a sensação que estava confortável e conseguiu manietar o Benfica durante grande parte do jogo. Boa preparação da equipa por parte da equipa técnica comandada por Rui Vitória.
Falta saber como será o percurso de Rui Vitória no Benfica, mas isso, só os resultados o dirão. Porque pode jogar da forma A ou B, mas são sempre os resultados que classificam o trabalho de um técnico, por muito injusto que isso às vezes possa ser.
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