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Foi a 11 de Dezembro do ano passado que escrevi aqui, pela primeira vez, sobre Pedro Rodrigues. Na altura, e no seu último ano de júnior, subiu para a equipa B, mas não era opção regular nessa mesma equipa, baixando por vezes para jogar nos juniores. Naquele artigo, alertava para a necessidade de um talento destes precisar de jogar, nesta fase do seu desenvolvimento, num nível superior e a não estar parado, pois não jogava num escalão nem no outro com regularidade.
A indefinição manteve-se durante mais algum tempo e, só já bem perto do final de temporada, o jogador começou a ser utilizado com maior regularidade na equipa B, acabando o ano competitivo a bom nível. Esta época, continua nessa mesma equipa, mas as coisas mudaram. É totalista daquela equipa, fazendo todos os minutos até agora. Não é apenas o tempo que joga, mas a qualidade que tem mostrado nesses jogos que importa destacar. É, até este momento, o melhor jogador da equipa B neste arranque de época, fazendo jogos fantásticos e sendo um dos melhores jogadores da Ledman Liga Pro.
Como Rúben Dias e Guga Rodrigues (os últimos jogadores aqui analisados), Pedro Rodrigues também pertence à fantástica geração de 1997. Chegou ao Benfica ainda muito novo e tem brilhado em todos os escalões por onde tem passado. No Verão anterior, representou a selecção nacional no Euro sub-19, onde esteve em bom plano, como por exemplo no jogo contra a Alemanha em que, com bola, a partir da posição 6, deu um recital (também mereceu destaque aqui no blogue, juntamente com o João Carvalho). Também neste Verão passado, apesar de ser ainda sub-19, representou a selecção de sub-20 no torneio de Toulon. Mais recentemente, foi naturalmente convocado para o estágio da selecção de sub-20, mas devido à lesão de André Horta, Rui Jorge decidiu chamar o jovem médio para o escalão acima, inserindo-o desta feita nos trabalhos dos sub-21.
Pedro Rodrigues joga como médio defensivo, mas é um pouco diferente da ideia que muita gente tem de um jogador que faz aquela posição. Ele não é um destruidor de jogo, que está ali apenas para roubar bolas e estancar os ataques adversários, mas sim um construtor e criador do jogo ofensivo da sua equipa. Nessa vertente, a jogar com bola e a pensar o jogo, é do melhor que apareceu, desde sempre, em Portugal.
Anda pelo campo sempre de cabeça levantada e percebe, assim, o que pode ou não pode fazer quando recebe a bola, sabendo sempre os posicionamentos dos colegas de equipa e adversários. É um jogador que tem uma visão de jogo inacreditável, que consegue ver linhas de passe onde poucos conseguem e que faz tudo aquilo com uma tremenda sensação de facilidade. A sua capacidade de passe é notável. A 2, 5, 10 ou 40 metros, a bola sai sempre redonda do seu pé direito (também usa o esquerdo, mas o direito é o mais forte) e vai quase sempre ajustada ao que é preciso, caindo redonda junto aos seus companheiros ou da forma que mais se ajusta ao lance (ou mais para o pé ou mais avançada, para aproveitar o espaço que o colega tem para receber adiantado). Coloca imensas bolas dentro do bloco adversário, deixando os companheiros de equipa enquadrados nessas zonas, assim como tem uma tremenda facilidade em virar o flanco com qualidade e também em colocar a bola nas costas da defesa contrária. Os seus passes verticais queimam constantemente linhas adversárias e ele arranja quase sempre maneira de os fazer. Vê muitas soluções, mas procura sempre a melhor e a que, na teoria, colocará a equipa mais próxima do sucesso, e não aquela que é mais fácil. Sabe gerir os ritmos de jogo, quando deve acelerar ou quando tem de dar primazia à segurança, guardando assim o esférico.
É forte nas combinações com os colegas de equipa e muitas vezes entrega logo de primeira já que, na cabeça dele, a solução já estava encontrada antes de receber. Move-se muito bem em campo para dar linha de passe aos colegas e tenta nunca os deixar sem solução de passe. Não é um jogador que progrida muito com a bola, apesar de por vezes o tentar fazer. Como já disse, ao nível do passe é muito bom, mas em outros capítulos técnicos também o é como na recepção, no controlo de bola ou até mesmo na forma como consegue sair no drible curto (apesar de nunca com muita velocidade). Outro capítulo onde é muito forte é no remate, embora considere que possa ainda melhorar a forma como o faz e passar a fazê-lo mais vezes durante o jogo, já que tem um pontapé com muita qualidade. Os duelos aéreos no meio-campo são algo onde também pode melhorar, já que tem uma boa estatura para ganhar mais do que aqueles que consegue por agora. É uma opção muito válida para os lances de bola parada. Bate muito bem livres (frontais e laterais), assim como cantos ou grandes penalidades.
A parte defensiva sempre foi o seu calcanhar de Aquiles, já que era pouco agressivo e facilitava em muitos lances, abstraindo-se dessas disputas. Fruto destes estímulos maiores a nível sénior, tem melhorado nesse aspecto. É claro que nunca vai ser um Fejsa, porque as características dele não são essas, mas está melhor que no passado. O seu posicionamento em campo também está melhor. Faz várias coberturas ofensivas e ocupa bem o corredor central, mas precisa ainda de por vezes bascular mais rápido para o lado da bola e fazer as coberturas defensivas aos colegas, já que em algumas situações ainda o demora a fazer.
Fisicamente, não é um jogador dotado de grande velocidade e aceleração e, devido a isso, tem dificuldades em, por vezes, recuperar defensivamente caso esteja adiantado. Tem alguma agilidade e um bom volume corporal, o que o ajuda a proteger a bola e em duelos mais físicos (onde ainda se esconde muitas vezes). Não tem medo de assumir nada em campo e tem uma maturidade acima da média. Gosta de ter a bola e comandar a sua equipa, sendo também um elemento muito inteligente, calmo, concentrado e que lida bem com a pressão.
Pedro Rodrigues tem um potencial extraordinário e é um dos meus jogadores preferidos da formação do Benfica. O que ele faz a partir daquela posição 6, é o que mais gosto de ver e o que, na minha opinião, deve ser o 6 de uma equipa grande, que tem sempre muita bola. Claro que o jogador não terá o mesmo rendimento inserido em qualquer modelo de jogo, já que esse modelo terá de proteger as suas fraquezas e tentar evidenciar as suas enormes valias. Se isso acontecer, o rendimento dele será assombroso, já que o potencial e qualidade que tem está ao nível dos melhores. Oxalá o Benfica aproveite isso e ele continue a trabalhar e evoluir, conseguindo depois agarrar as oportunidades que surgirão, já que tem mais que capacidades para o fazer.
Vídeo feito por mim sobre o Pedro Rodrigues. Se quiserem subscrever o canal do blogue no YouTube, como agradecimento, ficaríamos muito satisfeitos.
Do futebol ao hóquei, do basquetebol ao voleibol, uma visão livre, imparcial e plural do Sport Lisboa e Benfica.
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