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E Pluribus Unum

por Aloutre, em 23.06.15

 

Quem me conhece sabe que eu sou daqueles que mais odeia esta altura do ano em que nos encontramos, o mercado de transferências. Por um lado, são os nossos melhores jogadores que partem em detrimento do factor económico, pois ter a corda ao pescoço é sempre desconfortável e exige emagrecimento que permita respirar mais um bocado (mesmo que esse emagrecimento ocorra derivado de uma doença mais profunda e que só se assumirá realmente mais tarde, mas isso são outras rezas para depois outro pegar mais tarde). Por outro lado, via imprensa somos diariamente bombardeados por rumores acerca da chegada de novos jogadores (só para este mercado já foram 67!) que trarão, dizem sempre eles, sucesso, sonho e ambição ao clube.

 

Clube a mim apenas me importa de forma apaixonada e inequívoca um, o Sport Lisboa e Benfica. E assumo-o sem rodeios e sem qualquer indício de arrogância ou prepotência, que o Sport Lisboa e Benfica sou eu. Sim sou eu, Aloutre. Eu e muitos de nós / vós que lêem este artigo neste momento. Nós somos do Benfica, mas somos simultâneamente o Benfica. Somos nós que por nossa própria iniciativa e vontade nos afiliamos a este clube sem contratos e sem ordenados, pois lhe dedicamos toda uma vida a seu lado e financeiramente é muito do nosso dinheiro que entra nos cofres do mesmo quer seja através de bilheteira, de merchandising, etc. O nosso amor assim nos obriga, sem cláusulas e sem interesses puramente individuais. Conheço eu e muitos de vós, certamente, pessoas que fazem esforços a título individual, familiar e financeiro apenas e só com o objectivo de acompanhar presencialmente o Benfica na Luz e nas deslocações nacionais e internacionais, de subscrever a Benfica TV, de pagar as quotas de sócio, de comprar Redpass. É este o nosso modo de vida. Porque nos bons e maus momentos, de tarde ou de noite, de Verão ou Inverno, ao fim de semana e a meio da semana, em Portugal e um pouco por todo o mundo, somos nós adeptos e sócios verdadeiramente apaixonados que marcamos presença de uma maneira ou de outra.

 

As câmaras e os holofotes por seu turno mostram o Luís Filipe Vieira, o Rui Costa, o Pedro Guerra (nome oficial, depois os heterónimos deixemos de parte), o Luisão, o Maxi, o Jonas, o Gaitán... E nós erradamente idolatramos estas pessoas com a ilusão de que eles são o Benfica da actualidade. Que são carregados de mística e benfiquismo, que deviam ser tomados como exemplo a seguir. Caímos na desilusão e no receio quando paira no ar a hipótese de perdermos um destes profissionais do clube, o apocalipse como que fica aqui ao virar da esquina. Nada mais errado... Estas pessoas são profissionais do clube, e como profissionais que são têm os seus próprios interesses, ilusões de carreira. Estes, meus amigos, servem-se sempre do clube por muito boa imagem que possam ter junto da massa adepta. E estão no seu direito enquanto profissionais, atenção, porque um contrato é sempre um acordo bilateral de interesses! O que ultrapassa a barreira do aceitável é a falta de comprimisso,  respeito e gratidão que os mesmos acabam por demonstrar de quando em vez sem qualquer tipo de justiça. Não duvido que muitos dos jogadores e profissionais que passem pelo Benfica acabem por criar um forte elo com o mesmo, e que dentro do desempenho das suas funções não tenham momentos em que aparentam transbordar todo esse sentimento! Não ponho isso em causa até porque pessoalmente o que me faz confusão é que isso não aconteça, afinal de contas o que é que há para não gostar num clube como este, num estádio como este, numa massa adepta como esta? Em casos mais recentes posso falar em Coentrão, Cardozo, David Luiz, Aimar, Simão, Paulo Lopes... Não tenho a menor dúvida que estes criaram laço com o clube que manterão para a vida, à sua maneira! Existem num outro patamar os denomidados Imortais como Eusébio, Chalana, Shéu, Coluna, Bento, entre outros, que indiscutivelmente e meritóriamente são colocados no topo dos profissionais que alguma vez representaram este clube.

 

Mas de uma coisa vos garanto. Eles não amam mais o Benfica do que eu, nem que tu. Podem suar a camisola e dar tudo por ela, podem ir buscar as palavras mais bonitas para o demonstrarem. Mas genuínamente, de livre e espontânea vontade, estão longe do que qualquer um de nós sente pelo clube. E por isso eles vão passando, mas nós já cá estamos desde sempre e vamos ficar para sempre. Devemos a todos eles grande respeito e gratidão, assim tenham feito por merecê-los. No desporto aceito até de forma natural que onde paixão e razão por vezes se misturam tornando impossível clarificá-las de forma distinta, se caia ocasionalmente no erro de colocar um ou outro jogador demasiadamente em foco! Idolatrar, que nos idolatremo-nos a nós, aos nossos pares, aos sócios e simpatizantes do Benfica. A nós que escolhemos o Benfica e não fomos escolhidos pelo Benfica.  A nós cujo contrato assinámos em sangue e não em tinta. A nós que na camisola privilegiamos o emblema junto ao coração e não o nome atrás das costas.

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publicado às 12:01



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