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Naquele que era, em teoria, o teste mais exigente para o Benfica 16/17 até agora nesta pré-época, os encarnados defrontaram o Wolfsburg, equipa que na época passada chegou, assim como os comandados de Rui Vitória, aos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Para este jogo, Rui Vitória apresentou uma equipa que já começa a estar muito próxima daquela que eventualmente iniciará a época oficial, no jogo da Supertaça. Paulo Lopes, André Almeida, Lisandro, Jardel, Grimaldo, Fejsa, André Horta, Pizzi, Franco Cervi, Guedes e Mitroglou foram os eleitos de Rui Vitória para o 11 titular.
O jogo começou de uma forma morna, com ambas as equipas a tentar trocar a bola a um ritmo mais baixo. Benfica a tentar pressionar a 1ª fase de construção contrária e a jogar com um bloco muito curto em amplitude e profundidade, recuperando várias bolas. O esférico estava mais perto da baliza de Diego Benaglio que da de Paulo Lopes, mas a primeira situação de perigo é criada pelos alemães aos 9 minutos, tendo o guardião benfiquista evitado o golo de Bas Dost com uma bela intervenção.
Pouco depois, a primeira grande oportunidade do Benfica. Grande jogada na esquerda de André Horta, servindo Mitroglou na área que, mesmo estando em grande inferioridade numérica, consegue receber, rodar e rematar. A bola, no entanto, sai por cima do alvo. Os alemães tinham agora mais bola e iam chegando mais perto da baliza de Paulo Lopes. O bloco do Benfica estava muito curto, mas a equipa tinha dificuldades em controlar a amplitude quando o centro do jogo era virado, sendo aí que o Wolfsburg causava os maiores desequilíbrios ofensivos.
A equipa de Rui Vitória foi deixando de pressionar a 1ª fase de construção contrária, e por isso o adversário tinha uma maior liberdade para sair a jogar. Quando a bola entrava em diversas zonas, como perto do meio-campo ou em zonas centrais, havia logo pressão forte, tentando recuperar a bola. A defesa continuava muito alta, mas por vezes com pequenas falhas, como aos 21 minutos onde, felizmente, a bola saiu depois ao lado.
Os minutos iam passando e o jogo mantinha-se igual a si próprio. O Benfica mostrava dificuldades em conseguir criar lances de perigo, demonstrando algumas faltas de ideias no processo ofensivo. Com Guedes naquela posição atrás de Mitroglou, o Benfica ganha outra arma que foi demonstrando na 1ª parte: o ataque de Guedes à profundidade, servido por passes longos desde trás. É certo que só é mais viável contra defesas subidas, mas foi tentado várias vezes, E foi num destes lances que o Benfica quase marca aos 28 minutos, mas o passe de Guedes não chega depois a Mitroglou.
O Wolfsburg volta a criar perigo aos 33 minutos, depois de mais uma bola em profundidade para os corredores laterais. Felizmente, depois Paulo Lopes volta a defender o remate, evitando o golo adversário.
O jogo caminhava para o intervalo, sem existirem grandes motivos de interesse, sem ser as organizações de cada equipa em campo, com algumas coisas para serem faladas. O Benfica melhorou e acabou a 1ª parte por cima, tendo mais posse de bola e chegando perto da baliza de Diego Benaglio.
Contudo, não existiram golos e o nulo mantinha-se no final dos primeiros 45 minutos.
Esta foi uma boa 1ª parte do Benfica. Mostrou ser um colectivo com ideias e que sabia o que fazer dentro das quatro linhas. É claro que nem tudo esteve perfeito, mas a exibição na globalidade foi positiva. Não tivemos tanta bola como aquilo que estamos habituados, mas soubemos jogar sem ela, fechando os espaços com qualidade (uns melhor que outros). Do outro lado estava também uma equipa com ideias e que sabia o que fazer em campo. Ofensivamente, mobilidade na frente de ataque, com os jogadores a percorrerem diferentes espaços e com isso a darem soluções aos colegas (faltou sempre algo, como por exemplo o último passe ou a decisão final). Os extremos muitas vezes dentro, com os laterais a aparecerem, sendo Grimaldo o elemento mais incisivo neste aspecto. Alguma falta de presença junto a Mitroglou, estando o avançado grego várias vezes sem apoio. Na 1ª fase de construção, primazia pela segurança como tem sido habitual. Defensivamente, bloco pouco amplo e pouco profundo, com a defesa bem alta. A equipa a saber que zonas deveria pressionar e a ser efectiva nesse aspecto. Algumas falhas no controlo da amplitude e em alguns movimentos de ataque contrários à profundidade, assim como algumas situações de igualdade ou inferioridade numéricas na grande área defensiva.
Paulo Lopes esteve muito bem, respondendo presente sempre que foi chamado. André Almeida a mostrar competência defensiva e a não se aventurar tanto no ataque como Grimaldo. O espanhol sempre muito afoito em termos ofensivos, mas defensivamente com alguns problemas. Os dois centrais com boa assertividade nos movimentos em conjunto, conseguindo também várias intercepções e duelos ganhos.
Fejsa não fugiu ao que costuma ser. Ainda por cima aparece em grande forma neste início de época. Ocupou bem o espaço, roubou várias bolas e mostrou a competência defensiva que é a imagem de marca dele. Quem também esteve muito bem foi André Horta. Não teve tanta bola como será de esperar nos jogos do nosso campeonato, mas nas acções que teve com ela, mostrou qualidade. Muito forte em qualquer relação com a bola, estando muito bem no passe. Mostrou muita mobilidade e capacidade de percorrer, e bem, os espaços. Pizzi voltou a mostrar a competência no equilíbrio do meio-campo e na forma como vem dentro para receber. Também ajudou André Almeida no controlo daquele corredor lateral. Franco Cervi foi outro jogador bastante móvel, o que abre espaços para outros jogadores aproveitarem. Combina bem com os colegas e é muito bom de bola, mas nota-se que ainda se está a adaptar.
Gonçalo Guedes tem sido um dos melhores jogadores do Benfica na pré-época, mostrando ser uma alternativa credível. Muito bem no ataque da profundidade e na verticalidade que dá naquela zona, faltando-lhe perceber melhor alguns movimentos. Mitroglou também esteve bem, segurando muitas vezes sozinho os centrais adversários e abrindo espaços.
Para a 2ª parte, Rui Vitória fez algumas alterações, fazendo entrar Júlio César, Nélson Semedo, Salvio e Carrillo para os lugares de Paulo Lopes, André Almeida, Cervi e Pizzi. O Benfica entrou bem na 2ª parte e após uma excelente combinação entre Salvio e Nelsinho, o extremo argentino quase marca aos 49 minutos.
O jogo mantinha-se igual ao que tinham sido os primeiros 45 minutos. Em processo defensivo, tudo igual no Benfica, com a defesa muito alta, com o bloco a jogar em poucos metros e com pouca pressão ao adversários, deixando jogar até determinada zona. Rui Vitória volta a mexer aos 54 minutos, fazendo entrar Victor Lindelöf para o lugar de Jardel.
Aos 63 minutos, o Benfica adianta-se no marcador. Excelente passe de André Horta para Gonçalo Guedes e o jovem do Benfica com a recepção sai logo do adversário e entrega em Mitroglou que, de baliza aberta, não perdoa.
Rui Vitória volta a mexer aos 66 minutos, fazendo entrar Celis, Jonas e Raúl para os lugares de Horta, Guedes e Mitroglou. Aos 70 minutos, excelente arrancada de Grimaldo, percorrendo quase o campo todo com a bola e depois a não conseguir desfeitear o guarda-redes adversário. O Benfica estava agora mais solto, circulando melhor a bola e com mais à vontade no campo (havia também mais espaço para jogar). Jonas já dava outras coisas diferentes de Guedes, vindo buscar em apoio e menos na profundidade.
Celis entrou para se juntar a Fejsa, fazendo quase um duplo pivot na zona central do meio-campo, dando mais segurança à equipa. O ritmo de jogo ia baixando à medida que nos aproximávamos do final, com ambas as equipas a não quererem forçar muito a nota.
O Benfica ia dominando o jogo nos minutos finais, não permitido também facilidades ao adversário. Aos 91 minutos, o segundo golo do Benfica, por intermédio de Jonas depois de uma bela transição ofensiva.
E foi com uma boa vitória do Benfica por 2-0 que o jogo terminou.
Nesta segunda parte, houve um pouco mais de espaço para jogar e com as substituições o ritmo baixou um pouco. O Benfica marcou dois bons golos: um num passe para as costas da defesa e outro numa transição muito rápida. Nestes segundos 45 minutos conseguimos chegar mais vezes à baliza contrária e baralhar as marcações da equipa alemã, com a mobilidade e dinâmica do ataque, as boas combinações e as subidas constates de Nelsinho e Grimaldo. Defensivamente, continuámos a tentar ter um bloco defensivo como na 1ª parte, mas a continuar com alguns problemas em controlar a amplitude. Mesmo assim, a defesa depois conseguiu resolver tudo, apesar de alguns espaços terem podido ser melhor aproveitados pelos alemães.
Júlio César fez a sua estreia nesta pré-época, mas não teve muito trabalho. Grimaldo continuou o seu bom trabalho do lado esquerdo, mostrando muita competência ofensiva. Nelsinho veio dar outra qualidade ofensiva ao corredor direito, combinando bem com Salvio muitas vezes. Jardel continuou bem até ser substituído. Lisandro fez um bom jogo, melhorando naquilo que tanto lhe falta. Apesar de ainda demonstrar problemas em perceber os movimentos defensivos mediante as referências zonais, tem mostrado melhorias nesse aspecto. Victor Lindelöf entrou e mostrou logo qualidade com bola na 1ª fase de construção. Defensivamente quase não foi colocado à prova.
Fejsa fez o jogo todo. Não há muito a acrescentar ao que disse na 1ª parte. Muita qualidade em campo do jogador sérvio. André Horta continuou a mostrar qualidade, atingindo o auge no passe para Gonçalo Guedes na jogada do primeiro golo. Guillermo Celis entrou para estar mais junto a Fejsa e fechar o meio-campo, compensando as subidas dos laterais e a equipa estar mais balanceada ofensivamente. Mostra muito bom trato de bola e competência ao nível do passe, sendo agressivo na procura da bola (nada que não tenha dito na análise que lhe fiz). Quanto a Carrillo nota-se que ainda procura o melhor ritmo, e está ainda muito preso e algo pesado. Alguns bons pormenores, mas vai ser capaz de muito mais. Salvio apareceu bem, desequilibrando no corredor lateral direito, estando a crescer em níveis físicos e anímicos.
Gonçalo Guedes esteve muito bem no golo, assistindo Mitroglou, que também se movimentou bem nos 20 minutos que jogou. Jonas ainda está com falta de ritmo e com uns quilos a mais, mas a classe dele salta logo à vista em cada gesto técnico e tomada de decisão. Raúl veio dar mais mobilidade e velocidade ao ataque, aproveitando o desgaste que Mitroglou causou nos defesas contrários. Algumas boas movimentações, mas ainda a pisar terrenos desnecessários.
Este foi um bom teste para o Benfica. Depois do jogo com o Sheffield Wednesday, começaram a levantar-se algumas dúvidas na capacidade que a equipa demonstrava, já por esta altura. É claro que nem tudo está bem. Mas contra a equipa de Carlos Carvalhal deu para perceber que os jogadores tinham andado a puxar pelo físico e estavam muito cansados, e isso era perceptível em algumas acções em campo. Também é certo que, com este 11 mais próximo daquilo que será o mais forte, a equipa melhora logo.
Defensivamente a equipa tem crescido bastante e nesta pré-época dá para perceber isso. Quem me acompanha aqui sabe que, defensivamente, foi sempre algo deste género que defendi, com uma defesa à zona com a referência bola, colega de equipa, espaço e só depois o adversário. Claro que na teoria será melhor, é preciso depois operacionalizar com qualidade e esperar que os jogadores cumpram o que lhes é pedido (o que me parece estar a acontecer). Teremos de ter atenção ao controlo da amplitude, já que isso precisa de ser melhorado, sendo que depois o bloco não pode demorar a bascular e apresentar quebras. Também são de evitar situações de igualdade ou inferioridade numérica que aconteceram algumas vezes perto ou mesmo dentro da nossa grande área.
Ofensivamente, continuo a achar que é preciso mais. Continuamos um pouco previsíveis, com alguma falta de presença e podemos melhorar muito. A 1ª fase de construção continua com muita gente e depois é um pouco difícil ligar os sectores, assim como faltam outros movimentos na criação. Vamos aguardar pelos próximos jogos.
Este plantel tem muitas e boas soluções. E parece que hoje vai ser apresentada mais uma para o meio-campo. Rui Vitoria tem à sua disposição um leque de jogadores fortíssimos, ainda por cima com gente como Celis, Guedes ou Horta a mostrarem-se a um nível bem mais alto que os adeptos e eventualmente o treinador esperavam, dando maiores dores de cabeça a Rui Vitória. Mas dores boas e que qualquer treinador quer ter. Ainda será preciso reduzir o leque de jogadores e estou muito curioso para ver o “bolo” final. Espero que não saia nenhum elemento dos que considero imprescindíveis.
Bem, o texto já vai muito longo e hoje há mais um jogo. Sobre isso, parabéns ao Benfica por ter finalmente convidado o Torino para a Eusébio Cup.
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