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Chegámos a 15 de Maio, o dia mais importante da época desportiva. Depois de uma longa época, tudo ia ficar decidido nestes últimos 90 minutos do campeonato. O Benfica, comandado por Rui Vitória, recebia em casa o Nacional da Madeira, onde a vitória traria a conquista do tricampeonato. O empate ou a derrota, poderia também dar o título, mas aí já estávamos dependentes do resultado do Sporting em Braga. Nenhuma surpresa no 11 escolhido pelo treinador do Benfica, com Grimaldo e Talisca a ocuparem os lugares dos castigados Eliseu e Renato Sanches, enquanto que Gaitán voltou ao 11. Ederson, André Almeida, Victor Lindelöf, Jardel, Grimaldo, Fejsa, Talisca, Pizzi, Nico Gaitán, Jonas e Mitroglou, o 11 escolhido para o derradeiro jogo da liga.
Como era de esperar, o Benfica desde cedo começou a dominar o jogo. O Nacional dava a iniciativa, tentando depois as rápidas transições ofensivas ao recuperar a bola. Nenhuma surpresa na disposição em campo da equipa de Rui Vitória, com Talisca na posição 8. Apesar da maior posse de bola, as redes da baliza de Gottardi continuavam seguras, pois o Benfica não conseguia causar grandes lances de perigo próximo da baliza dos madeirenses. O Nacional, numa rápida transição, arranja espaço e cria uma boa oportunidade de remate, mas Salvador Agra não acerta bem na bola e atira ao lado aos 10 minutos.
Havia uma grande mobilidade na frente de ataque do Benfica, com Jonas, Gaitán e Pizzi a vagabundearem por diversas zonas do campo, não estando fixos nas suas posições. Bons movimentos, mas que depois se perdiam, fruto de maus passes, más recepções ou más decisões. Alguma dificuldade em conseguir fazer algo na zona de criação nestes minutos iniciais, não conseguindo criar situações de finalização.
A primeira grande situação de golo para o Benfica surge aos 19 minutos. Bom passe de Talisca para as costas do lateral contrário, mas depois o cruzamento de Pizzi não chega a nenhum dos 3 jogadores na área e a bola sai a rasar o poste direito da baliza do Nacional.
Boa jogada do Benfica aos 22 minutos, com Gaitán a não conseguir finalizar. A bola foi perdida e recuperada depois por Victor Lindelöf , com a jogada a desenvolver-se para o primeiro golo da partida. Mitroglou serve Pizzi com um belo toque, o médio isola-se mas Gottardi defende, sobrando depois a bola para Gaitán que faz o 1-0 na partida.
Com o golo, o Benfica subiu a intensidade em campo e apertou ainda mais o Nacional. A ala esquerda estava endiabrada, com Grimaldo e Gaitán a causarem muitos desequilíbrios no bloco defensivo da equipa madeirense. Muito forte o Benfica por esta altura, recuperando muitas bolas assim que as perdias e não deixando o Nacional ter oportunidade de ter posse de bola ou fazer transições ofensivas com espaço.
Terminados aqueles momentos a seguir ao golo de grande empolgação, baixámos um pouco mais o ritmo de jogo, fazendo uma posse de bola mais contida e segura. O Nacional continuava a não conseguir criar lances de perigo. Aos 35 minutos surge uma grande jogada e oportunidade de golo para o Benfica, com Grimaldo de calcanhar a assistir Jonas, que falha onde não costuma, atirando ao lado da baliza.
Aos 39 minutos acontece o 2-0. Passe longo de Gaitán e Jonas isolado a faz o segundo golo do Benfica no jogo, colocando o tricampeonato ainda mais perto. Contra-ataque perigoso para o Benfica em superioridade numérica aos 43 minutos, mas Mitroglou demora demasiado e permite que o adversário recupere, faça falta e acabe com o lance. No conversão do livre, Talisca atira por cima.
E pouco depois chegou o intervalo, com o Benfica a vencer por 2-0.
Apesar de termos entrado bem, mostrámos dificuldades em furar o bloco do Nacional e em conseguir criar situações de golo até a Gaitán ter inaugurado o marcador. A equipa foi-se alargado mais para tentar fazer com que a equipa madeirense se esticasse mais no campo. Iam-se falhando muitos passes nos momentos de criação e tomando várias más decisões, o que pode ter sido fruto do nervosismo. A partir do primeiro golo, a equipa estabilizou e conseguir estar mais assertiva na criação, pressionando também mais e conseguindo várias jogadas que poderiam ter dado golo até ao fim dos primeiros 45 minutos. Muita posse de bola e recuperação rápida, reagindo muitas vezes bem à perda. Defensivamente, o habitual: bloco defensivo subido, campo curto, encurtar dos espaços e poucas oportunidades concedidas. Algumas falhas na linha, mas que de nada resultaram. O Nacional apenas conseguiu chegar uma vez com algum perigo junto da baliza de Ederson.
Ederson foi um espectador, não teve trabalho. André Almeida e Grimaldo estiveram muito mais tempo a atacar que a defender. Grimaldo tem muita qualidade nos movimentos que faz no ataque, dá diversas soluções ao jogo ofensivo do Benfica, quer com bola ou sem bola. Defensivamente, ambos não tiveram grandes problemas. Grimaldo fechou sempre bem por dentro, apenas se atrasando uma vez ou outra vez na linha defensiva. Jardel e Victor Lindelöf imperiais, mais uma vez.
Fejsa esteve bastante activo na pressão e recuperação de bolas, participando também na construção, onde demonstra mais dificuldades. Ocupou bem os espaços como é habitual. Talisca fez alguns bons passes, mas muitas vezes foi aquele jogador molengão que todos detestamos, tanto para a frente como para trás. Nico apareceu em grande forma, fazendo uma excelente primeira parte. Tanto ele, como Pizzi, tiveram muita liberdade para se movimentarem por diversas zonas do campo. Pizzi também esteve bem, com os seus típicos movimentos interiores e que resultaram, por exemplo, no primeiro golo.
Jonas e Mitroglou também fizeram uma boa primeira parte. O avançado grego, mesmo sem se dar muito por ele e até perder vários lances, teve uma importância vital nos dois golos marcados. Jonas nota-se que está algo fatigado, mas a classe e qualidade é sempre espalhada pelo campo.
Rui Vitória não fez qualquer alteração ao intervalo. Logo no minuto inicial o Benfica quase faz o 3-0. Cruzamento de Jonas e Mitroglou a atirar um pouco por cima da baliza do Nacional. O Benfica voltou a entrar forte, dando continuidade à primeira parte, mas rapidamente apareceu uma contrariedade. Fejsa estava com dificuldades físicas e Samaris foi chamado a jogo aos 52 minutos.
Depois de uma entrada fulgurante, o Benfica começou a baixar o ritmo de jogo aos poucos. Tentava congelar mais a posse de bola, privilegiando a segurança e não uma vertigem e verticalidade tão grande na procura pelo golo. Tudo a ser feito de forma mais lenta e mais posicional.
Numa altura em que houve uma maior pressão do Benfica em campo, aparece o 3-0 aos 65 minutos. Recuperação de bola em zona adiantada do terreno, a bola vai ter com Jonas que oferece o golo a Mitroglou, que de baliza aberta acerta na trave. Na recarga, Gaitán aproveita e faz o golo, acabando com praticamente todas as dúvidas em relação ao tricampeonato.
Com o 3-0 veio também a festa nas bancadas. Em campo, o Benfica tentava apenas gerir o jogo até ao apito final, sentindo que o campeonato já não fugia. O Nacional pouco ou nada fazia, e os pequenos problemas causados eram resolvidos pela defesa. Tínhamos muita posse de bola, mas mais lenta e a passar por todos os jogadores. Rui Vitória faz a segunda substituição aos 73 minutos, fazendo entrar Raúl para o lugar de Mitroglou.
Mais uma recuperação de bola em zonas adiantadas do terreno e mais uma oportunidade para o Benfica, mas Jonas não consegue finalizar depois do toque de calcanhar de Gaitán.
O Nacional já se partia muito no campo, dando mais espaços ao Benfica, mas também não existia muito interesse para os aproveitar por parte da equipa encarnada, preferindo passar o tempo com a bola controlada. Raúl poderia ter oferecido o golo a Jonas aos 79 minutos, mas preferiu o lance individual e a bola perdeu-se.
Rui Vitória faz a terceira alteração aos 81 minutos, fazendo entrar Paulo Lopes para o lugar de Ederson e dando assim a oportunidade a um dos pilares do balneário do Benfica de ser campeão nacional. Havia cada vez mais espaço na defesa do Nacional e os lances de ataque do Benfica em transições iam-se sucedendo. Depois de várias lances que não deram em nada, aos 84 minutos surge o 4-0. Passe de Jonas e Pizzi a fazer de primeira o 4-0.
Quando já tudo esperava pelo apito final, o Nacional reduz já depois dos 90 minutos, mas isso já pouco ou nada interessava para o desenlace final do campeonato.
Pouco depois, Nuno Almeida apitou para o final do jogo e o Benfica sagrou-se Tricampeão!
Apesar de termos entrado com vontade de fazer o terceiro golo rapidamente, fomos depois acalmando o ritmo do jogo. Com o terceiro golo, o jogo acabou definitivamente e os jogadores passaram o tempo a esperar pelo fim do jogo. O Nacional arriscou mais e partiu-se em campo, e mesmo sem forçar muito ou até nada, poderíamos ter marcado vários golos em contra-ataque e ataque-rápido, mas que não aconteceram fruto de várias más decisões quando já todos queriam marcar. Algumas desconcentrações e falhas tácticas, mas percebe-se que os jogadores a partir de uma certa altura, já estavam a entrar no modo de festa e a pensar no apito final. Não há muito mais a dizer, fomos trocando a bola com segurança, passando por vários jogadores e sectores.
Ederson até ser substituído foi quase sempre um espectador. Um ou outro lance a sair e a ganhar a bola, quer seja em cruzamentos, quer seja no chão. Grimaldo continuou a atacar bastante, com os seus típicos movimentos, mas nem ele nem André Almeida foram tantas vezes ao ataque, resguardando-se mais. Victor Lindelöf e Jardel estiveram mais uma vez bem, uma ou outra falha, mas nada de muito grave. Nos minutos finais já havia algum desleixo defensivo colectivo na equipa.
Fejsa esteve poucos minutos em campo. Notava-se que estava em claras dificuldades físicas. Talisca subiu um pouco de produção, fazendo vários bons passes e não perdendo tantas bolas. Gaitán continuou muito bem, fazendo talvez o seu melhor jogo nesta fase final de campeonato. Pizzi também esteve bem e mereceu o golo que marcou. Mitroglou falhou com a baliza aberta o lance do 3-0, mas a bola depois foi ter com Gaitán. Notava-se nele já fadiga que lhe prendiam alguns movimentos. Jonas foi sendo o habitual, andou a dar soluções, a distribuir bons passes e a espalhar a qualidade em campo.
Samaris foi para o lugar de Fejsa. Tentou também pressionar alto e ganhou várias bolas. Raúl entrou com muita vontade de marcar, o que o levou a tomar más decisões. Deu mais velocidade e mobilidade à frente de ataque. Paulo Lopes teve a tão merecida ovação e medalha de campeão.
Este jogo trouxe aquilo que tanto a equipa merecia: o tricampeonato. Não vou falar muito deste jogo, acho que já não vale a pena, visto estar feito o resumo de cada uma das partes, mas fazer um género de balanço.
Foi um campeonato muito difícil, que esteve praticamente perdido, mas numa reviravolta fabulosa, a nossa equipa conseguiu fazer história. Se me contassem em Outubro ou Novembro que íamos ser campeões, não acreditaria. Então se me dissessem que iríamos bater o recorde de pontos do campeonato, ainda menos. Foi uma recuperação fabulosa, onde a equipa se uniu e melhorou muito em determinados aspectos, crescendo de jogo para jogo.
Critiquei muito Rui Vitória e continuo a achar que tinha razões para o fazer nos primeiros meses da época. Poderia e se calhar deveria ter sido mais compreensivo, pois não estava preparado para esta realidade e a herança era muito pesada. Achei que não havia volta a dar neste campeonato, que íamos perder muitos pontos contra equipas pequenas, mas felizmente estava errado. E que bom é errar quando é assim. Muita gente diz que as ideias são as mesmas do inicio de época, que nada mudou em campo, que é praticamente tudo igual, mas eu discordo completamente. Muita coisa foi mudada e para bem melhor. Quem não se lembra do caos que eram aqueles lançamentos defensivos, o misto de referências individuais e zona na defesa, a primeira fase de construção com pontapé longo, os inúmeros cruzamentos, etc etc. Algumas escolhas iniciais muito duvidosas e ao sabor do vento, como as chamadas de Clésio à titularidade ou a rotatividade de jogadores sem sentido nenhum, mostrando que Rui Vitória estava perdido. As coisas foram mudando e a paragem de Natal foi essencial para que isso acontecesse. Só Rui Vitória poderá dizer e explicar o que aí aconteceu. Muitas coisas que aqui se apontavam, foram aparecendo, e a equipa subiu muito de produção.
Algo muito importante foi a chegada de Renato. Escrevi no artigo dele em Agosto que era o jogador com melhores características para ser o 8 no plantel e conseguir furar as linhas adversárias. Ele chegou e provou isso mesmo, apesar de ainda ter algumas falhas, como é natural. Sobre Renato, não fiquei surpreendido, mas esperava mais dele, confesso. Digo isto porque espero mesmo muito dele! Há anos que o vejo a jogar no Benfica e ele tem capacidade para ser ainda muito melhor. Fisicamente e a progredir com bola, é notável, precisa de perceber que o jogo não é sempre tão físico e tem de usar a cabeça muitas outras vezes. Vai fazer falta, mas tudo de bom para ele na sua nova etapa. Este foi também o ano em que se provou que a formação do Benfica tem talento e ninguém pode duvidar disso. Agora toda a gente é adepta da formação e sempre apoiou, mas as coisas não eram assim. Basta ver a quantidade de gente que defendeu a venda do maior talento da formação do Benfica desde Rui Costa. Há aí muitos jogadores para aparecer e para dar muito ao nosso clube. A qualidade é muita, mas há sempre diversos contextos para se ter em conta. Uma questão para ser discutida noutro dia.
Pizzi foi outro jogador muito importante. Quando passou para a ala direita, a equipa transformou-se bastante e conseguiu ser um dos jogadores mais importantes da nossa manobra ofensiva. Jonas é o jogador mais importante deste campeonato, é um Messi ou um Cristiano Ronaldo no nosso contexto. Que fique cá muitos anos.
Ontem, o Benfica deu a notícia da contratação definitiva de Mitroglou, algo que eu queria mesmo, pois gosto muito do avançado grego. Quando começou a ser melhor servido, melhorou muito a sua produção. Não era com 20 cruzamentos que ele ia fazer a diferença, era com muitas outras coisas.
Outro destaque que quero deixar é Jardel. Aquele que tem sido muitas vezes um patinho feio, mas somando o campeonato todo, voltou a ser o melhor central da Liga. Assim como aconteceu no ano passado. Tem algumas limitações, mas é um central muito competente. Fejsa foi outro jogador muito importante. Não há pai para ele na posição 6 em termos defensivos, percebe o jogo como poucos, consegue fechar os espaços como ninguém neste campeonato e foi um jogador fundamental para este titulo.
Dois jogadores também importantes, foram Ederson e Victor Lindelöf. Jogadores que eu não esperava este nível. Victor Lindelöf foi impressionante, a continuar assim, vai ser de nível mundial. Ederson mostrou uma segurança incrível, aquilo que ele era nos juniores do Benfica desapareceu completamente. Oxalá que fiquem cá para o ano, mas já estão com muito mercado.
Rui Vitória conseguiu unir a equipa a ele. E não gostando de falar muito dos outros, abro aqui uma excepção. Jorge Jesus falou demasiado, foi o pavão que costuma ser e isso virou-se contra ele. Depois, acha que é perito nos mind games, mas ele aí é péssimo, apesar de não perceber isso. Foi vergonhosa a forma como ele tratou Rui Vitória e os jogadores do Benfica sentiram que para além de ter o orgulho deles em causa, também teriam de defender o treinador e jogar por ele também. Mexeu demasiado no orgulho de um balneário bicampeão e isso trouxe-lhe muitos dissabores. Assim que a confiança voltou ao Benfica e os processos começaram a melhorar, esta equipa tornou-se muito difícil de bater, fazendo de cada jogo uma final. Esta recta final, mesmo com muito desgaste, é impressionante.
Este titulo tem muito o dedo de Rui Vitória, conseguiu fazer o que ninguém esperava e merece todos os elogios. Acho que ele ainda tem muito a melhorar, que tecnicamente ainda precisa de crescer em várias coisas, mas é um grande líder e um treinador com postura à Benfica. E que bom que é ter estes valores e continuar a ganhar. Excelente a atitude para com Paulo Lopes.
Mais havia a dizer, mas não quero alongar-me demasiado. Talvez daqui a uns dias consiga escrever algo mais.
Dar também os parabéns ao Sporting pelo digno vencedor que foi dentro de campo, onde mostrou bastante qualidade.
Por último, quero agradecer especialmente a todos os que comentaram o último artigo, e a todos os que acompanharam as análises ao longo deste campeonato, e informar que para já ainda não temos solução para o problema.
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