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O Benfica disputou ontem o último jogo de preparação antes da Supertaça. Rui Vitória disse que a equipa titular iria ser perto daquilo que ia usar no jogo contra o Sporting, mas que não ia ser a mesma. Para este jogo, o Benfica apresentou-se em campo com Júlio César na baliza, André Almeida a lateral direito e Sílvio a lateral esquerdo, com Luisão e Lisandro López a formarem a dupla de centrais. No meio-campo estiveram Fejsa e Pizzi, com Talisca e Gaitán nas alas. A dupla de avançados foi composta por Jonas e Jonathan Rodríguez. As duas principais novidades foi a entrada de Lisandro  para o lugar do lesionado Jardel, e de Jonathan para o ataque.

 

Os primeiros 10 minutos foram divididos. O Benfica a tentar ter bola, mas a não correr riscos a jogar a sair de trás, fazendo posse de bola principalmente quando chegava a zonas de mais segurança. O Monterrey começava a aperceber-se que ia ter espaço para jogar, principalmente no espaço entre a defesa e meio-campo do Benfica e nas costas da defesa.

 

Aos 13 minutos, Pabón, jogador do Monterrey aparece isolado, mas Júlio César defende. Aos 18 minutos, e após procurar o espaço interior, Talisca remata com perigo, mas a bola passa por cima. Perda de bola de Pizzi aos 21 minutos, e o Monterrey em contra-ataque quase marca, valeu mais uma vez Júlio César.

 

Pouco de interessante se passava no jogo, até que aos 27 minutos Fejsa recupera muito bem uma bola e avança no terreno. A equipa desdobra-se bem, aparecendo Jonas e Gaitán a combinar, mas Gaitán quando devia ter rematado tenta a assistência e o lance acaba por se perder. Aos 30 minutos o Benfica pressiona muito alto a saída a jogar de um pontapé de baliza do Monterrey, Jonathan consegue recuperar a bola e cruza a área, onde aparece Jonas a cabecear mal.

 

Aos 33 minutos de jogo, voltamos a ter um jogador do Monterrey isolado, após se desmarcar entre Lisandro e Sílvio, mas acaba por rematar ao lado.  Por volta dos 37 minutos, contrariedade na equipa do Benfica. O capitão Luisão sai lesionado, com queixas na zona abdominal, e entra Samaris, recuando Fejsa para central. Perto do intervalo, o Benfica consegue trocar a bola, aparecendo Pizzi a rematar de fora da área, mas a bola vai por cima da barra. O jogo acabou por chegar ao intervalo sem mais nada de interessante acontecer e com o 0-0 no marcador.

 

Esta primeira parte foi quase uma cópia do jogo contra o América. Equipa a ter alguma segurança na posse de bola, principalmente quando conseguia chegar com ela aos médios ou quando a recuperava no meio-campo, mas mesmo assim apenas criou lances de maior perigo com recuperações de bola alta e não em ataque continuado. A posse de bola foi muito lenta, com muito pouco dinamismo e velocidade. As saídas a jogar voltaram a piorar, com a equipa a jogar cada mais longo na frente e arriscar cada vez menos. A defesa foi apanhada com muitas bolas nas costas, principalmente entre Lisandro e Sílvio. Nota-se também cada vez mais um buraco entre o meio-campo e a defesa, mesmo com Fejsa em campo. A defesa não tem estado tão subida como se calhar devia, e tem havido pouco controlo da profundidade.

 

Rui Vitória continua a insistir em Pizzi a 8, com um meio-campo com dois homens. Se nos jogos em casa e contra equipas mais fracas ele ainda consegue esconder as suas fragilidades naquela posição, em jogos mais a doer, não dá mesmo. André Almeida foi mais do mesmo nesta primeira parte, não conseguindo dar nada ofensivamente à equipa, e Sílvio do lado oposto com tanto corredor para explorar, também não esteve bem. Com o jogo interior de Gaitán, ele tem muito espaço para avançar, mas depois com a necessidade de vir para dentro com a bola, não consegue dar a profundidade desejada. Talisca fez um péssimo jogo, onde apenas num remate de fora de área conseguiu criar perigo. Péssimo a nível do passe e nas restantes acções do jogo. Já se viu, e não é de agora, que Talisca não pode jogar na ala, mesmo passando muito tempo a jogar mais interior. Jonas voltou a fazer um jogo longe do que nos habituou. De Jonathan, o que posso dizer é que o melhor que tem conseguido mostrar é a boa capacidade de pressão que consegue fazer, porque de resto pouco mais. Deve ter tocado umas 10 vezes na bola durante a 1ª parte. Também se viu que Lindelöf pouco conta, com a saída de Luisão o treinador do Benfica preferiu apostar em Fejsa a central do que fazer entrar aquele que será, eventualmente, o 4º central do plantel.

 

 

Aqui, o problema da linha defensiva e do espaço entre a defesa e o meio-campo. Jogador do adversário com bola, a preparar-se para fazer um passe longo para as costas da defesa. Luisão e André Almeida a formarem uma linha e depois Lisandro e Sílvio mais atrás. O capitão faz sinal a Lisandro com o braço para eles os dois subirem, mas eles não o fazem, e o Benfica leva com uma bola nas costas. O passe nesta altura ainda não saiu e o jogador do Monterrey já se está a movimentar e a avançar no terreno. Se os jogadores do Benfica estivessem em linha, o avançado do Monterrey estava em fora-de-jogo. Os médios poderiam também ter pressionado mais o portador da bola.

 

 

Duas vezes em que a equipa podia tentar sair a jogar e não o tentou, tendo Júlio César batido a bola para a frente.

 

 

Temos aqui três exemplos do que é o grande afunilamento do jogo ofensivo do Benfica em posse de bola. Assim, e sem largura nas alas, ou situações de 2 para 1, é muito difícil criar-se perigo. No primeiro lance vemos mesmo André Almeida e Talisca bem no meio do terreno, e nem um jogador aberto na ala para depois de tentar bascular o jogo para cá.

 

 

O jogo interior dos médios ala em praticamente todas as tentativas de sair a jogar, deixando as alas para os laterais.

 

 

Jogada simples de saída a jogar do Monterrey, que consegue entrar com a bola na ala. Fejsa vai dobrar André Almeida na ala, ficando um enorme buraco no meio-campo, com Pizzi muito longe e André Almeida a não tentar rapidamente fechar o espaço de Fejsa. O Monterrey desdobra-se bem e aparece com um jogador solto à entrada da área, que remata com muito perigo quase sem oposição. Só quase no momento do remate, Pizzi chega perto e nenhum defesa do Benfica saiu para tentar estorvar o jogador adversário. Sobre este lance, José Calado, comentador da BTV, descreveu-o como muito bom por parte do Benfica.

 

 

Médio do Monterrey a avançar com a bola sem grande pressão por parte dos jogadores do Benfica, Sílvio muito aberto na ala e com muito espaço entre ele e Lisandro. Bola fácil entre o lateral e central, diagonal do jogador da equipa mexicana que se isola.

 

 

A pressão alta que a equipa do Benfica faz sempre que o guarda-redes adversário tem a bola, tentando sempre obrigar a que ele jogue longo na frente. 

 

 

Uma coisa que tem mudado no Benfica, é o número de jogadores que defendem e que estão atrás da bola. Nesta jogada, podemos ver os 11 jogadores do Benfica atrás da linha da bola.

 

 

Mais uma vez, a equipa do Benfica a pressionar com vários jogadores muito perto da bola, mas a defesa do Benfica muito longe do meio-campo e baixa no terreno, assim como desalinhada. 

 

 

Para a 2ª parte, não houve substituições, tendo entrado a mesma equipa que tinha acabado a 1ª parte. Aos 48 minutos, e após recuperar uma bola, Lisandro preocupa-se mais em colocar a mão na cara do adversário do que em bater a bola e acabar com o lance, tendo o árbitro marcado falta. Livre lateral, ninguém do Benfica ataca a bola e aparece o jogador da equipa mexicana a fazer o primeiro golo da partida. Logo de seguida o Benfica quase empata, com um jogador adversário perto de fazer auto-golo, mas a bola vai ao poste.

 

O jogo continuava aquilo que foi na 1ª parte, com a diferença de que o Benfica não conseguia pressionar tanto e começava a haver ainda mais espaço entre os sectores. A equipa começava a mostrar também muito cansaço. Aos 56 minutos Pizzi tenta cortar uma bola de carrinho, mas acaba por tocar com a mão na bola, sendo assinalada grande penalidade. Funes Mori faz o 2-0 para os mexicanos. Logo de seguida, Rui Vitória faz entrar Lindelöf, Nélson Semedo, Carcela e Nélson Oliveira, para os lugares de André Almeida, Pizzi, Talisca e Jonathan. Lindelöf foi para central, Nélson Semedo para lateral direito, Samaris e Fejsa formaram a dupla de meio-campo, Carcela a médio direito e Nélson Oliveira a fazer dupla com Jonas na frente. Nélson Semedo mostrou mais em termos ofensivos em 30 segundos, que André Almeida na pré-época toda.

 

O jogo acalmou muito, ambas as equipas baixaram a pressão, deixando jogar mais o adversário. Samaris era o único que continuava em rotação mais alta. Nada de importante se passou em quase toda esta segunda parte. Jogo em ritmo baixo, jogadores a passo e um mau futebol. Rui Vitória aos 78 minutos tirou Jonas e lançou Nuno Santos, passando Gaitán a apoiar Nélson Oliveira no ataque. Os 80 minutos, os mexicanos fazem o 3-0 no marcador, que foi o resultado final.

 

Esta 2ª parte foi terrível para o Benfica, como o próprio resultado indica. Equipa completamente desligada entre si, cada um quase a jogar como se não houvesse nada trabalhado, nada de jogadas delineadas, três golos sofridos, passividade defensiva e ofensiva, tudo horrível. Se na 1ª parte Júlio César conseguiu evitar os golos, nesta nada conseguiu fazer. O cansaço e as condições justificam algo, mas não tudo.

 

Mais uma vez, Nélson Semedo mostrou em meia hora que consegue ser o lateral que mais dá ao jogo do Benfica. Não consigo entender como é que Rui Vitória coloca André Almeida a lateral, sabendo que lhe vai dar o corredor todo para atacar, visto Talisca estar a jogar mais dentro. Não entendo também porque Gaitán fez o jogo todo, acabando mesmo por se agarrar à coxa perto do fim. Os minutos que se dão aos jogadores também me fazem alguma confusão. Por exemplo, Djuricic mostrou algo quando jogou, mas não voltou a ter minutos

 

 

Sim, é o mesmo lance nas duas imagens, com um passe do guarda-redes mexicano para o seu médio, que recebe a bola e roda, e veja-se o buraco que há no meio-campo do Benfica.

 

 

Os dois médios ala do Benfica, um ao lado do outro. 

 

 

Nélson Semedo entrou e conseguiu criar desequilíbrios na equipa adversária, ou pelo menos tentou. 

 

 

Se o que se esperava era que a equipa fosse em crescendo com os jogos que ia fazendo, o que se verificou foi o oposto nesta pré-época. A humidade, o horário, o cansaço, o calor, não explicam tudo isto. Não vou mentir, estou muito desiludido com o que vi em campo nestes últimos jogos. Leio muito que nos anos anteriores também aconteceu o mesmo, e depois a equipa ganhou, mas infelizmente nem sempre a regra é essa. Há que ser também exigente e saber ver as coisas, e o que se viu em campo foi péssimo. As coisas podem perfeitamente mudar, que isto é apenas a pré-época, mas os sinais foram maus e nem o mais confiante adepto do Benfica terá gostado do que viu nestes jogos.

 

O problema nem é tanto os resultados, é a falta de ideias que se vê em campo. Não vi evolução nenhuma no jogo do Benfica desde o primeiro jogo e isso é o que me preocupa. O Benfica está há 263 minutos sem marcar um golo, e desde que Jonas fez o 2-1 frente ao PSG, em 408 minutos a partir desse momento, a equipa marcou um golo. 

 

Vejo Rui Vitória sem saber o que fazer e perdido. Por um lado deve ter as suas ideias para tentar dar aquilo que ele quer para este Benfica, mas por outro existe a história que vem de trás, e o que herdou do seu antecessor. Não consegui ainda perceber o que Rui Vitória quer para este Benfica, para além de mais posse de bola e segurança. O que muita gente pede é que o Benfica jogue em 4x4x2 e que essa táctica é que é boa, mas não é fácil colocar aquele modelo em prática, porque quer se queira ou não, Jorge Jesus conseguiu construir algo de muito bom e forte. Se o treinador do Benfica não pensa dessa maneira, tem de seguir as suas ideias. As pessoas têm de perceber que não há tácticas melhores, nem tácticas piores, o que é importante é a dinâmica dos jogadores em campo e o que eles conseguem construir e dinamizar. Não é por se ter dois avançados ou três que a equipa vai passar a marcar mais ou menos golos. O Benfica ganhou dois campeonatos seguidos a jogar em 4x4x2, mas também perdeu 3 seguidos para um 4x2x3x1. Não estou a defender nenhuma táctica, o que eu defendo é a qualidade, os bons métodos, bom colectivo, bons processos de trabalho, bom modelo de jogo, boas dinâmicas em campo, e isso sim, é o que traz sucesso.

 

Esta pré-época mostrou também que o Benfica precisa urgentemente de verdadeiros reforços, daqueles que entrem de caras na equipa titular. E com o que se viu, se calhar são precisos mais do que o que se esperava, e é obrigatório ir ao mercado. Em relação ao planeamento da pré-época, Rui Vitória não tem culpa de ter sido horrível, mas em relação a isso já falámos em outros artigos.

 

A única coisa boa, é que tenho a certeza absoluta que na Supertaça a equipa não vai conseguir fazer pior que a imagem que deixou nesta digressão e vai melhorar. Venha de lá essa Supertaça e que a equipa esteja a guardar para os jogos oficiais tudo aquilo que não mostrou nesta pré-época, e isso é o que eu, e todos nós desejamos. 

 

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publicado às 21:14


4 comentários

De T. a 05.08.2015 às 01:12

Muito distanciamento entre sectores.

Sector médio a jogar vezes de mais em linha, o que impede a existência de vários níveis de cobertura. Assim, um simples passe para uma zona entre os médios e os defesas, e toda a linha média fica ultrapassada, com o adversário a virar-se e a atacar a defesa de frente. MUITO PERIGOSO!

Avançados a jogarem muito perto um do outro, nenhum deles recuando consistentemente para dar cobertura e apoio aos médios (funcionando como quinto médio).

Talisca à direita nunca vai render. E a defender alheiou-se algumas vezes, não se juntando ao meio para defender.

Lisandro e Lindelof... ai que dor.

Sílvio a dormir.

Estou preocupado!

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