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A transferência que dominou grande parte do mercado nacional durante o mês de Agosto, terminou finalmente em bem, nos últimos minutos disponíveis para a inscrição de jogadores. Rafa Silva deixou o Sporting de Braga e transferiu-se para o Benfica a troco de 16,4 milhões de euros (a transferência mais cara da história entre clubes da liga portuguesa). O caminho inverso será feito por Rui Fonte e Junior Benítez. Rui Fonte a titulo definitivo e Benítez por empréstimo durante a próxima época.
Depois de ter começado no Atlético Povoense, e de ter passado muitas épocas no Alverca antes de rumar ao Feirense - clube onde muito brilhou e que lhe valeu a ida para Braga -, Rafa chega agora ao maior clube português. Não foi um trajecto fácil para o jogador, mas ele sempre lutou pelos seus sonhos, sempre acreditou que poderia um dia chegar a este patamar e agora está a ser recompensado.
Era o melhor jogador do campeonato fora da esfera dos 3 grandes e não foi por acaso que todos eles tentaram contratar Rafa Silva. Contudo, a escolha do jogador português, e segundo rezam as crónicas, estava bem definida. Rafa queria continuar a vestir de vermelho e branco, mas agora defendendo o tricampeão nacional, dando assim continuidade à sua ascensão no futebol português. Em Braga, fez 127 jogos pela equipa principal em 3 épocas e umas semanas, marcando 26 golos. Era a figura maior da equipa minhota. Também os seleccionadores portugueses não têm passado ao lado do talento de Rafa, já que tanto Paulo Bento, como Fernando Santos, apostaram nas convocatórias do jogador de Vila Franca de Xira para representar a selecção das Quinas. Conta com 9 internacionalizações até ao momento, e esteve nas convocatórias finais para o Mundial 2014 e Euro 2016, onde se sagrou campeão europeu.
Sobre o jogador Rafa, tem-se criado no futebol português uma ideia generalizada por muita gente e que eu ainda não consegui entender. E muito menos concordar. Diz-se que é um jogador que precisa de espaço, que só sabe jogar em transições e que caso não tenha espaço disponível para correr, não rende. Depois vão-se buscar uns clichés, umas frases feitas e banais e, em alguns casos, ainda uns números e estatísticas para justificar isso. Como já disse, discordo completamente dessa ideia que quase toda a gente decidiu assumir como verdadeira. Se me perguntarem se é um jogador fortíssimo em transições ofensivas por tudo o que consegue e se é o melhor do campeonato nessa vertente? Eu respondo que sim, sem dúvida. Se é só isso que ele tem para nos dar? Não. Sem qualquer dúvida também. Paulo Fonseca treinou no ano passado Rafa, em Braga, e quando lhe pedem para destacar dois dos pontos mais fortes do jogador, ele afirma que um deles é a capacidade de jogar entre linhas (o outro é a aceleração do jogo). Com certeza que, alguém que só saiba jogar com espaço e em correrias, como dizem, não pode ter como um dos pontos mais fortes saber jogar entre linhas...
Rafa Silva é um jogador muito versátil e criativo, que pode jogar nos três corredores atrás do avançado, mas penso que, neste momento, é a partir do corredor esquerdo que mais rende. Fisicamente é um jogador muito bom, porque tem uma agilidade tremenda, uma capacidade de aceleração e explosão muito forte e uma velocidade extraordinária. É capaz de acelerar o jogo a qualquer momento, aguentando o ritmo durante os 90 minutos. Onde perde, é nos duelos corpo a corpo em que entra, fruto de ser mais franzino e baixo que quase todos. Contudo, consegue muitas vezes esconder isso com a forma como protege bem a bola e ganha a frente dos lances. Dono de um baixo centro de gravidade, tem uma capacidade absurda para conduzir a bola em progressão colada ao pé, ao mesmo tempo que consegue decidir o que fazer nesse momento. É mesmo temível nestes lances, e mesmo sem bola parte sempre bem para o espaço onde pode dar solução, atacando a profundidade muitas vezes com sucesso. Tem uma excelente relação com a bola a todos os níveis (passe, drible, recepção, toque de bola ou condução), conseguindo movimentos que são um regalo. Há dois que gostaria de assinalar especialmente: o drible curto e as recepções orientadas. A forma como sai no drible, mesmo com pouco espaço, é fantástica, conseguindo ultrapassar muitas vezes os adversários. Já nas recepções, tende a enquadrá-las sempre para o movimento seguinte, ganhando muito com isso.
Quando joga a partir dos corredores, procura sempre movimentos para o interior, mostrando-se como solução entre as linhas adversárias, e onde quer receber bola (não gosta de se esconder do jogo) para depois decidir. Depois de receber, tende a procurar a melhor solução, quer seja o passe ou drible, mas nem sempre a encontra, e este é um dos aspectos que precisa de melhorar um pouco. Em Braga, muitas vezes faltavam-lhe os apoios para combinar, já que os avançados fugiam quase sempre para a profundidade e poucas vezes vinham em apoio, o que ainda estimulava Rafa a seguir individualmente ou passar para a profundidade. No estádio da Luz, penso que as coisas serão diferentes. Enquadra-se muito bem dentro do bloco e fruto de andar sempre de cabeça levantada antes de receber, das recepções orientadas e da capacidade de drible, costuma sair com facilidade do adversário. Apesar da sua enorme capacidade técnica, ainda há momentos que precisa de jogar mais pelo colectivo e não tentar o bonito ou ir apenas individualmente. Tem de receber os estímulos para tal, já que com todas as suas características será ainda mais temível nas combinações. Não é um jogador que goste de andar muito perto das linhas do campo, nem que passe o jogo a fazer cruzamentos.
Protege muito bem a bola mesmo com o seu corpo franzino e sabe jogar bem de costas, o que facilitará a adaptação caso jogue algumas vezes atrás do avançado. Aparece bem em zonas de finalização, mas ainda tem pouco golo, fruto da pouca calma neste género de situações. Precisa de melhorar nesse aspecto, já que aí crescerão os seus números de tentos dentro das balizas adversárias. Não é um jogador que tente muitas vezes os remates de longe, preferindo entrar com bola, como se percebe. Tem dificuldade nas bolas aéreas, onde raramente consegue ganhar algum deste tipo de lances.
Defensivamente, sabe posicionar-se sem bola, mostrando bons princípios aprendidos. Contudo, nem sempre ajuda tanto como às vezes é necessário, descuidando-se um pouco. Fecha o corredor por dentro quando a bola está do lado contrário, mas muitas vezes mais aberto e avançado do que seria de esperar, justificando-se isto com a preparação antecipada da forte transição ofensiva. Nem sempre reage bem à perda da bola. Há lances em que reage muito bem, outros em que prefere ficar e por isso é necessário que o estimulem para melhorar nesse aspecto, já que caso melhore e com a sua agilidade, velocidade e aceleração, recuperará muitas vezes o esférico logo depois de o perder.
É um jogador bastante calmo e que muito raramente perde as estribeiras. Está sempre muito concentrado, é determinado, humilde e deixa tudo em campo.
Rafa custou muito dinheiro, muito mesmo, mas é um jogador que eu gosto imenso e em quem vejo margem para progredir ainda muito mais e subir o nível. Claro que não faltam extremos ao Benfica e com Rafa ainda se aumentou o leque que há para dois lugares, onde temos: Cervi, Pizzi, Salvio, Živković, Carrillo e Rafa. Gonçalo Guedes também pode entrar ainda neste lote, apesar de ser mais visto como suplente de Jonas, ou talvez já não. Falando de novo em Rafa Silva, pode também jogar numa posição mais central, apesar de aí o dono ser Jonas, o melhor jogador do campeonato. É a partir da esquerda que mais acredito que possa jogar, fazendo com muita qualidade os movimentos para o interior que Rui Vitória tanto pede. Vai dar também muito mais qualidade em transição ofensiva, algo onde a equipa tem pecado um pouco. Se vai ser já titular, sinceramente não sei. Mas que tem qualidade para o ser, não duvido minimamente. É inacreditável a panóplia de soluções que o treinador do Benfica tem para a frente de ataque. Arrisco-me a dizer que é algo nunca antes visto em Portugal, e nem por sombras. É obrigatório meter esta gente a render, porque a qualidade individual é imensa. Mas também é preciso saber gerir os egos, já que não vai ser fácil para tanta gente com qualidade ficar de fora do 11 titular.
*Não posso colocar gifs dos muitos momentos dos vários jogos que serviram de base a este artigo, e que ajudariam a justificar o que digo, devido à tão falada questão dos direitos televisivos. Por isso, deixo dois vídeos do Youtube.
Do futebol ao hóquei, do basquetebol ao voleibol, uma visão livre, imparcial e plural do Sport Lisboa e Benfica.
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