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Foi no sul de Portugal que se iniciou a pré-época do Benfica, com a participação na Algarve Football Cup, torneio triangular que incluía ainda as equipas do Vitória de Setúbal e do Derby County. Os comandados de Rui Vitória começaram a época da mesma maneira que a terminaram: levantando um caneco. Depois do empate a 0 contra o Vitória e goleada ao Derby County por 4-0, Luisão ergueu mais uma taça.
Ao contrário da pré-época passada e mesmo estando privado de vários jogadores fundamentais, a equipa encarnada apresentou-se num nível mais alto, mostrando já algumas rotinas interessantes. Também deu para perceber a enorme qualidade individual que este plantel tem para a nossa realidade, principalmente nas posições mais atacantes, onde até podemos afirmar que há qualidade em demasia.
Estes jogos deram mesmo para perceber isso, já que os jogadores não têm muito entrosamento, principalmente os que jogaram de Fejsa para a frente, uma vez que quase nunca actuaram juntos ou com regularidade (isto é, os que transitaram da época passada). Colectivamente, mesmo com vários jogadores novos, deu para ver várias ideias que Rui Vitória já nos apresentou na época passada, durante grande parte do tempo apesar de, por esta altura, serem feitas de uma forma mais rudimentar e com um ritmo mais baixo, o que é natural.
Defensivamente, uma defesa alta com cada vez mais referências zonais (apesar de alguns jogadores teimarem em individualizar algumas vezes), um bloco médio alto com pouca profundidade e amplitude, tentando fechar principalmente os corredores centrais e controlar bem a profundidade. Defesa em linha, tentando colocar os avançados contrários em posição irregular, com algumas coberturas na zona central. Pressão que vai alternando entre muito alta e com forte reacção à perda e o baixar um pouco, deixando a equipa adversária construir até certo ponto, faltando perceber como vai ser quando existir mais pernas dos jogadores, principalmente dos 4 da frente e do 8 que são quem se adiantam mais no terreno.
Ofensivamente, nada muito diferente do que vimos por aqui no ano passado. Uma primeira fase de construção em ataque combinativo (sem uma grande referência ofensiva faz com que haja menos jogo directo), onde continuamos a privilegiar a segurança muitas vezes, retirando a construção aos centrais e fazendo recuar os dois médios, quer para zonas laterais ou para zonas centrais do campo, mesmo que haja pouca pressão adversária. Quando a bola chega a zonas mais adiantadas, enorme mobilidade na frente, com diversas trocas posicionais, com os extremos a jogar muitas vezes dentro e trocando de posição, com os laterais subidos e a alternar entre o interior e também o exterior, com o segundo avançado a descair nas alas ou a baixar para receber ou atacar a profundidade, dependendo também um pouco isto de quem está em campo, já que as características individuais mudam sempre um pouco aquilo que acontece em campo. Por exemplo, nos extremos, Carrillo tem muito mais facilidade em sair da direita e procurar outros terrenos, enquanto Salvio não. Depois, mobilidade nos dois avançados, sem nenhum ser referência, mas com Mitroglou em campo é certo que isto irá ser alterado, pelas características do grego e também devido a Jonas.
Individualmente, apresentaram-se jogadores nestes jogos já em muito bom nível, com bom ritmo e a mostrar muita qualidade. Na baliza, Paulo Lopes cumpriu, não comprometendo, mas tanto ele como nós sabemos que acabará por ser o 3º guarda-redes, com a recuperação de Ederson e Júlio César.
No quarteto defensivo, Nelsinho a aparecer em grande nível, fazendo recordar aquilo que foi até se lesionar no joelho. Dois excelentes jogos, onde ofensivamente deslumbrou. Quem também deslumbra ofensivamente, é Grimaldo. O lateral espanhol tem uma enorme capacidade com bola e em perceber o jogo ofensivo, dando muito à equipa. Faz movimentos que muitos nem julgam existir e com estes dois laterais em boa forma, a equipa estará muito forte naquela zona. Sem nunca esquecer André Almeida, que jogou e cumpriu como é seu habitué. Reinildo deu para ver pouco. Um corte ou outro, uma boa subida, mas não irá ficar no plantel. Na zona central da defesa, jogaram Jardel, Lisandro, Kalaica e Luisão. Jardel cumpriu como é habitual, sendo que Luisão está como tipicamente na pré-época, algo pesado e com pouco ritmo, sendo que a idade já pesa. Depois, tem cada vez mais a tendência de querer fazer tudo e descompensar a defesa, sendo que quando é batido, já não tem velocidade para ir buscar o adversário. Lisandro foi o de costume: muitos cortes, muitas antecipações, muito espectáculo, muita correria, atritos com os adversários, várias falhas posicionais e más abordagens a alguns lances. Kalaica mostrou-se muito forte no ar e com qualidade no trato da bola, mas também esteve muito tempo parado e nota-se a falta de ritmo. Falta ainda Victor Lindelöf, que a continuar como na época passada, terá lugar garantido no quarteto defensivo titular.
No meio-campo, Fejsa a apresentar-se a bom nível, limpando toda aquela zona. Samaris teve pouco tempo de jogo e pouco deu para ver, para além da sua normal disponibilidade para o jogo. Celis no pouco que jogou, surpreendeu muita gente, mas não a mim, sendo exactamente o que eu esperava, mediante a análise que lhe fiz. Vamos ver o que o futuro lhe reserva neste plantel. Outro jogador que também esteve muito bem, foi André Horta. Que bom que é ver o menino em campo a espalhar a sua qualidade, e tanta que ela é. Ainda tem dificuldades em perceber algumas coisas que o meio-campo a 2 pede, mas o futuro para ele é bem risonho, pois tem imensa qualidade e ainda vontade que chega e sobra. João Teixeira teve oportunidades e eu até nem esperava que ele estivesse aqui na pré-época, pois até gosto mais do Guzzo que está na equipa B. No primeiro jogo, teve dificuldades em se mostrar, mas neste segundo já se mostrou mais nos 25 minutos que jogou. Não sei como Rui Vitória vai resolver a situação do 8, ou se irá chegar ainda mais alguém, já que têm existido alguns rumores nesse aspecto.
Nos extremos, é inacreditável a qualidade que Rui Vitória tem ao seu dispor. Neste torneio, vimos Pizzi a ser o que foi no ano passado nesta posição do lado direito, procurando o espaço central e equilibrando muitas vezes a equipa. São processos que estão bastante assimilados e não sei se Rui Vitória irá abdicar da titularidade dele ali tão cedo. Carrillo, apesar de alguns pormenores, está pesado e com grande falta de ritmo, contudo, é a meu ver elemento fulcral para o Benfica, assim que atingir a boa forma. Quem também apareceu bem, foi Franco Cervi. Tem uma enorme qualidade o extremo argentino e um pé esquerdo que deslumbra. Não tem medo de assumir, apesar de alguns exageros, movendo-se também bem pelo campo. Salvio ainda não está totalmente bem e sabe-se do quanto ele precisa de estar com bons índices físicos para fazer valer as suas maiores valias. Sempre a tentar acções de 1x1, sabendo que é menos efectivo em movimentos interiores. Bem a procurar zona de finalização e menos bem a tentar resolver muitas vezes sozinho, indo sempre para a linha. Živković pouco jogou, mas deu um cheirinho com aquela assistência, apesar de ter jogado do lado esquerdo, onde menos rende.
Na dupla mais atacante foram utilizados Luka Jović, Gonçalo Guedes, Rui Fonte e Óscar Benítez. Gonçalo Guedes jogou nas costas de Luka Jović e acho que é aí que ele é mais perigoso, quer pelas suas movimentações, quer pelo seu faro pela finalização que sempre mostrou, sendo um jogador bastante vertical. Quem também jogou aí, foi Benítez. Na análise que lhe fiz, até disse que ele podia jogar mais na frente, mas era na direita que mais tinha sobressaído, mas neste torneio esteve bem naquela posição, aparecendo também com um ritmo mais alto e beneficiando de na 2ª parte existir mais espaço, mostrando algumas valias como a velocidade, o drible curto e a capacidade de pressão. Pelas suas características, acho que se pode adaptar a várias posições, mas é preciso ver mais dele e ver também a enorme concorrência. Luka Jović esteve algo apagado, dando só um ou outro cheirinho do que é capaz. Rui Fonte apareceu muito bem, mostrando vários bons movimentos e marcando um belo golo. Contudo, temos de nos lembrar que aqui só jogam dois jogadores, e ainda nem foram utilizados os 3 melhores avançados: Mitroglou, Raúl e Jonas.
Não sei se queria estar na pele de Rui Vitória e ter de fazer os cortes neste plantel. Será uma tarefa muito difícil, principalmente no sector atacante, onde a quantidade e qualidade abunda e de que maneira. Não sei como ele irá resolver isto e quem irá sair, mas é certo que iremos ver sair e dispensar jogadores com muita qualidade e que até dariam muito jeito aos nossos rivais da Liga NOS. Acabará sempre por ser injusto, não é possível agradar a todos, mas decisões terão de ser tomadas. No meio-campo, também há que tomar algumas posições e definir situações de alguns jogadores, sendo que na defesa está tudo mais ou menos definido, penso eu.
Apesar da imensa qualidade, continuamos a contratar muita gente e a ter muitos jogadores nos nossos quadros. E ainda faltam os jogadores do Euro sub19 – e tão bons que alguns deles são! – sendo material de equipa principal. Veremos como corre o estágio em Inglaterra, altura que já se tomarão decisões e se perceberá melhor quem afinal vai contar e não contar. É importante nesta fase continuar a solidificar dinâmicas, os jogadores subirem os seus índices físicos e o treinador continuar a passar aquilo que quer ver no campo.
* Não fizemos as análises habituais aos jogos porque foram transmitidos na Sport TV e já se sabe os constrangimentos que temos em relação a isso.
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