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A Formação (d)e um Benfica Europeu

por MonstroDasCuecasRotas, em 25.06.15

         

Ver o Benfica ser campeão deixa-me imensamente feliz, com um sorriso parvo que passeio pela rua nos dias seguintes, massaja-me o ego, envaidece-me, mas... não me realiza totalmente. Não faço parte do grupo de adeptos que parece perder a ambição e o sentido crítico se o título estiver nas nossas mãos. Não consigo dizer que ninguém faz falta só porque somos campeões nacionais, ou porque fizemos a dobradinha, ou o triplete. Como se tivéssemos concretizado tudo aquilo que o potencial do Benfica poderia permitir, como se nada restasse para ganhar. Não encerro aí o potencial ganhador do Benfica. Não empequeneço o Benfica a esse ponto.

         

O primeiro Benfica que conheci, aquele que fez de mim benfiquista, que fascinava mais do que qualquer outro, era uma potência europeia. Uma verdadeira equipa de topo europeu, de Meias-Finais e Finais de Liga dos Campeões. Uma potência europeia na verdadeira acepção da palavra, na história passada, mas também na recente, no estádio, na qualidade da equipa, na mística, na alma, na cultura e identidade do clube. Esse Benfica, por razões várias, foi-se desvanecendo com os anos. Felizmente e pouco a pouco, tem recuperado muito do que foi perdendo, mas acaba sempre a pairar no ar um certo derrotismo antecipado relativamente a outros voos, algo que me incomoda bastante. O destino parece ter-se cumprido, batemos no tecto dos sonhos.

         

O Futebol mudou bastante desde a Lei Bosman, todos sabemos, prejudicando sobretudo os clubes de futebóis periféricos, como o nosso. Quer isto dizer que o Benfica jamais poderá jogar o mesmo jogo que os outros grandes europeus que têm a sorte de fazer parte de ligas de topo? Sim, quer. Quer dizer, então, que o Benfica jamais poderá recuperar o seu histórico estatuto europeu? Não, não quer. Qual será então o segredo para dar a volta ao estado de coisas actual, para nos reinventarmos?

         

 O segredo será precisamente o de não jogar o mesmo jogo que esses clubes, ser criativo, inverter a estratégia. A criatividade aqui necessária não reside em encontrar outras soluções, reside no absoluto comprometimento com que se deve colocar em andamento a única solução possível: a Formação. À qual junto os valores nacionais em geral, que nasceram a aprender o significado e a importância do Benfica, em inúmeros casos tão benfiquistas como nós, desde tenra idade. Noutros, cedendo ao benfiquismo já em idade adulta, como Carlos Manuel ou Simão, mas sendo parte integrante da consciência colectiva portuguesa, desde que nasceram.

         

Antes de mais, para que não me interpretem mal e porque nenhuma mensagem sobreviverá ao preconceito se não o disser, devo deixar bem claro que quero, como sempre quis, qualidade no Benfica, venha ela de onde vier. Não quero que deixemos de apostar nos Gaitan's, Salvio's, Samaris's, Jonas's ou Júlio César's, não deve estar aí a janela de oportunidade dos jovens da casa, deve estar sim no lugar de outros jogadores de qualidade mais duvidosa, que continuam a chegar todos os anos em quantidades inaceitáveis.

         

Falar de formação é, hoje em dia, cada vez mais complicado. Pelo preconceito e pelas frases feitas, cujo sentido real é diminuto. Existe uma espécie de lei universal do futebol, que inexoravelmente determina não se poder ganhar apostando na formação. Afinal de contas, repete-se, o clube português que nas últimas décadas mais tem apostado nos jogadores da casa não tem conquistado grande coisa. Diz-se uma vez, duas, dez, e, quando damos por ela, nem o questionamos. Criamos automaticamente um quadro mental a que recorremos sem pensar: Formação = Perder. Como se o Sporting tivesse ganho apenas 2 campeonatos nos últimos 33 anos porque foi apostando nos Figo's, Ronaldo's, Quaresma's, Moutinho's, Viana's ou William's. Terá sido realmente esse o problema do Sporting? Não terá sido a falta de qualidade, sobretudo de quem vinha de fora, que acabou por obrigar o clube à aposta excessiva em jogadores da casa, mesmo quando não tinham qualidade para tais andanças? Como se a pior classificação da história do clube não tivesse ocorrido num dos períodos em que mais se gastou dinheiro para trazer jogadores estrangeiros “feitos”. Criou-se o mito de que a culpa é da formação, quando, em todos estes anos, foi o último dos problemas do Sporting. Foi, antes, inúmeras vezes a única solução para compensar de algum modo a falta de qualidade generalizada dos plantéis.

         

É bom lembrar que o futebol português venceu quatro Taças/Ligas dos Campeões e que nesses quatro triunfos predominavam jogadores da casa/nacionais. Eram equipas que incoporavam na perfeição a cultura do clube que representavam. Tudo aquilo tinha um significado que os jogadores vindos de fora não poderiam conhecer e/ou respeitar na sua total dimensão. O último Benfica europeu, o de 88 e 90, mesmo não ganhando, repousou no mesmo princípio.

         

Depois temos o exemplo moderno supremo que prova definitivamente aquilo que uma aposta sustentada na formação pode fazer por um clube. O Barcelona. De todos os gigantes europeus é aquele que mais aposta na formação e é tão só o clube mais vitorioso do século XXI. O mito de que "ninguém ganha nada a apostar na formação" ganha toda uma nova dimensão de ridículo quando pensamos no Barça. É escandaloso o número de jogadores da casa com os quais os catalães acabaram a vencer múltiplas vezes a prova máxima de clubes do futebol mundial, os quais custaram valores irrisórios ao clube, comparativamente aos respectivos titulares dos seus rivais directos.

         

E é chegando aqui que cada palavra deve ser usada com todo o cuidado, os diversos preconceitos já fazem fila para ridicularizar tudo isto. Como é óbvio, jamais poderemos lutar de igual para igual com o Barça, seria idiota da minha parte achar que sim. Por muito que se apostasse nos maiores talentos da casa, faltaria sempre a capacidade financeira para os complementar com os Dani Alves’s, Rakitic’s, Neymar's e Suarez's. A questão aqui é que a única forma de, pelo menos parcialmente, pelo menos nalgumas posições, nos equipararmos à qualidade dessas equipas é apostando nos jogadores que hoje custam pouco mais que zero e são nossos até decidirmos que sejam nossos e que amanhã teriam um valor de mercado insuportável se tivéssemos que os ir buscar fora de portas. Depois há outro impossível, claro: poderíamos segurar esses talentos anos suficientes para ganhar quatro títulos europeus? Não, num mercado periférico seria impossível. Mas não deve nem pode ser impossível segurar uma geração os anos suficientes para que se faça uma gracinha uma vez, pelo menos. Não digo, duas, três ou quatro. Digo uma.

         

A juntar a isso, que já não é pouco, há um detalhe fundamental: a identidade, a mística, a alma. É humano e não há volta a dar, só um jogador que ama um clube desde a infância poderá senti-lo ao ponto de colocar nalgumas ocasiões os objectivos e projectos desportivos do clube acima do seu estatuto de "profissional", termo que hoje, na minha opinião, tantas vezes utilizamos para encobrir o que não passa de meras lacunas morais. Da formação pode sempre sair um Paulo Sousa ou Manuel Fernandes, os tais “profissionais”, mas só da formação poderá sair um Rui Costa ou Bernardo, jogadores a quem os olhos brilhavam só de falarem no Benfica, porque a isso estavam habituados desde crianças, porque iam para a cama sonhando que o terceiro anel os idolatrava. Só a formação nos pode oferecer talentos desta qualidade, virtualmente a custo zero, sem que acabem por fazer os possíveis para deixar o clube à primeira proposta que tenham de um clube mais poderoso. O David Luiz ou o Enzo, por exemplo, gostavam muito do Benfica, até ao dia em que se lembraram que eram “profissionais” e não olharam a meios para nos deixar. Não há projectos desportivos a médio prazo que resistam com este tipo de mentalidade.

         

O Futebol é um negócio, mas não é só um negócio, urge compreender-se isto de uma vez por todas. Ou melhor, poderá ser um negócio tanto mais rentável quanto mais tiver como objecto central a identidade, a mística, o emblema, o sentimento... Uma equipa plena de identidade benfiquista trará necessariamente para o clube um capital desportivo-financeiro superior àquele gerado por uma equipa de meros profissionais, sem a devida ligação às bancadas. A noção de identidade deve andar de mão dada com a noção de profissionalismo. Não devem substituir-se, devem complementar-se. A equipa e a bancada não podem viver em mundos separados. Só assim um clube sem os meios dos tubarões europeus poderá fazer-lhe frente de alguma maneira.

         

E aqui regresso ao início do texto. Enquanto este Benfica não se realizar, o seu potencial continuará inexplorado. É um clube demasiado grande, que gera demasiado sentimento, para que um projecto deste tipo possa ficar guardado numa gaveta, sob o pretexto de que competir internamente nos sacia e a Liga dos Campeões serve apenas para participar ou, no máximo dos máximos, ser eliminado nos Oitavos ou Quartos-de-Final, não estando nem aí para isso, pois os maiores da nossa aldeia contiuamos a ser nós. Não foi com esse tipo de pensamento, pequeno e amedrontado, que nos tornamos outrora num colosso europeu. Ganhar internamente não é um sonho, é um objectivo claro, quase uma obrigação. Ganhar, ou perto disso, externamente, isso sim, é um sonho. E para os sonhos não se deve procurar desculpas para não os concretizar, deve encontrar-se o caminho para lhes dar vida. E depois por lá ficar, não apenas passar por lá. Devemos criar condições para que se torne um hábito e o clube já só consiga, para estar bem consigo mesmo, viver nesse patamar, com gerações de talentos a sucederem-se umas às outras, continuando a obeceder às leis do mercado, mas sobrevivendo às mesmas, renascendo constantemente sob a mesma forma, a única forma que sempre caracterizou as maiores equipas da história do Benfica.

 

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publicado às 14:14


6 comentários

De Vasco a 25.06.2015 às 16:45

"O mito de que "ninguém ganha nada a apostar na formação" ganha toda uma nova dimensão de ridículo quando pensamos no Barça."

Não. Ridículo é dar o exemplo (sempre o mesmo, aliás, porque é o único) de um clube formador milionário. Ridículo é pensar que o Benfica pode seguir a mesma estratégia do Barça. Há duas diferenças fundamentais:
1. O Barça tem as melhores escolas do mundo. O Benfica não.
2. O Barça tem capacidade financeira para manter os melhores jogadores da sua formação. O Benfica não.
Arranja lá outro exemplo de clube que ganha troféus nacionais e internacionais com a percentagem de jogadores da formação no 11 que o Barcelona tem. Acho giro isto de, de repente, acharmos que descobrimos a pólvora: "Espera aí! Vamos apostar na formação, que assim é que se ganha! Os outros clubes com a mesma capacidade financeira do Benfica são todos estúpidos e ainda não perceberam!" Infelizmente, não é verdade.

"não deve nem pode ser impossível segurar uma geração os anos suficientes para que se faça uma gracinha uma vez, pelo menos."

Pode, pode. O Benfica até pode formar 3 Iniestas por ano. No ano seguinte, estão vendidos. O Ronaldo aguentou um ano no Sporting. No Benfica teria sido igual. Nem um João Cancelo se aguenta cá, quanto mais um Iniesta.

"só um jogador que ama um clube desde a infância poderá senti-lo ao ponto de colocar nalgumas ocasiões os objectivos e projectos desportivos do clube acima do seu estatuto de "profissional""

Isto é outro mito. O Rui Águas é filho do capitão dos bicampeões da Europa. Foi para o Porto. Do Benfica são os sócios e adeptos. E, mesmo esses, gostaria de ver o que fariam se lhes oferecessem 2 ou 3 milhões por ano para passarem a apoiar outro clube. Os jogadores são profissionais. Não perceber isto é uma ingenuidade perigosa. O máximo que um clube pode ambicionar é um jogador que honre o contrato, dando tudo em campo. Profissionalismo paga-se. Amor não se compra.

O Benfica nunca foi um clube formador. Dos bicampeões da Europa, creio que só o Simões era da formação. O que o Benfica sempre teve foi boa prospecção. Descobria jogadores em África, no Barreirense, no Setúbal, no Vizela, etc, etc...

Mesmo clubes que sempre foram formadores, e que foram grandes na Europa quando era, de facto, possível manter uma geração para fazer uma gracinha, deixaram de ganhar. O Ajax, clube formador que tem 4 taças dos campeões, uma taça uefa, uma taça das taças e três supertaças europeias, deixou de fazer grandes prestações europeias desde 1995. Em que ano foi tomada a decisão sobre o caso Bosman? 1995. O Ajax europeu acabou aí. Não é coincidência.

Hoje, a área de recrutamento do Benfica tem de ser o mundo inteiro. Voltar a ter uma equipa competitiva só com jogadores portugueses é impossível. Fechar-se apenas no Seixal, então, é suicídio.

Isto:

"Vieira: «60 ou 70% do plantel vai ser formado no Benfica em 2020»"
http://www.record.xl.pt/Futebol/Nacional/1a_liga/Benfica/interior.aspx?content_id=861552

É um delírio. Nem o Barcelona tem sequer perto de 70% de jogadores formados no clube.

Um clube como o Benfica deve apostar na formação, na prospecção e na contratação de jogadores experientes. Este ano, com Bruno Varela em vez de Júlio César, Nelson Oliveira em vez de Jonas e João Teixeira em vez de Samaris, tínhamos ganho mas era o caralho. Só com essa mistura se ganha alguma coisa. E, sim, o Sporting demonstra isso mesmo. Dois campeonatos em 33 anos. Produziram excelentes jovens. Os únicos campeonatos que ganharam foi com jogadores como Schmeichel, Jardel, André Cruz, Acosta, Paulo Bento, João Pinto, etc.

De MonstroDasCuecasRotas a 25.06.2015 às 17:32

Caro Vasco, compreendo que um texto grande possa acabar por cansar e algumas coisas importantes passem ao lado.

É curioso que não se possa dar o exemplo do Barcelona, porque "é sempre o mesmo", mas, do outro lado, toda e qualquer conversa sobre formação acaba a falar-se "sempre no mesmo", no caso, o Sporting.

Sim, eu sei que os jogadores que se desenvolvem fora da academia do Barcelona são todas aleijadinhos em comparação com os jovens do Barça. "Ah e tal, eles têm jovens de todos os países..." Pois têm, mas a maioria dos que acabam na primeira equipa são espanhóis. Há um toque divino nos espanhóis que saem de lá, concerteza. Os jovens espanhóis nasceram com o cu virado para a lua, estão num patamar evolutivo superior em comparação com os portugueses.

Não preciso arranjar exemplos de outros clubes, basta-me dizer que de todos os grandes clubes europeus, aquele que ganha mais é o que mais aposta na formação. Se calhar, é sorte. Podia perfeitamente usar a mesma estratégia de outros, mas no o faz. E ganha mais. Será sorte? Ou será... Identidade?

Seja como for, não estou a falar exclusivamente da formação, mas para isso era preciso ler o texto na vertical e no diagonal. Não vou escrever outra vez só para gastar as teclas.

Infelizmente, não é preciso esperar um ano para que os Iniesta's da formação do Benfica estejam vendidos. Ainda na equipa B, já estão vendidos. 1, 2, 3 anos espera-se pelos que vêm de fora. Mas é precisamente isso que deve mudar e é também por isso que escrevi o ue escrevi. Não é o Cancelo que não se aguenta cá, é o Benfica que não tem vontade de o aguentar. Mas isso é outra conversa.

Quanto à parte de amar o clube desde a infância, fui bem claro e toquei nesse mesmo ponto que referiste. Profissionais são todos, mas uns são mais do que outros. Achar que o Bernardo ou Rui Costa fariam o papel vergonhoso de um Maxi, chantageando o clube com os rivais, é ingenuidade. Aliás, seria até desconhecimento da história e aqui refrio-me muito concretamente a Rui Costa. Faz lembrar aquela canção, e desculpa-me a linguagem, que diz "são todas umas putas menos a minha mãe,todos paneleiros menos o meu pai". As pessoas devem perder o hábito de projectar nos outros aquilo que sabem que fariam em situações similares. Ao dinheiro todos cedem, mas...

"Só a formação nos pode oferecer talentos desta qualidade, virtualmente a custo zero, sem que acabem por fazer os possíveis para deixar o clube à primeira proposta que tenham de um clube mais poderoso. " É a minha opinião, estás no teu direito de não acreditar nela.

"O que o Benfica sempre teve foi boa prospecção. Descobria jogadores em África, no Barreirense, no Setúbal, no Vizela, etc, etc..." Óptimo, se não tivesses lido o texto na diagonal terias percebido que não tenho nada contra isso e até o defendi.

Quanto a isto:

"Voltar a ter uma equipa competitiva só com jogadores portugueses é impossível"

"Este ano, com Bruno Varela em vez de Júlio César, Nelson Oliveira em vez de Jonas e João Teixeira em vez de Samaris, tínhamos ganho mas era o caralho."

...resta-me concluir que isto não serviu de nada:

"Antes de mais, para que não me interpretem mal e porque nenhuma mensagem sobreviverá ao preconceito se não o disser, devo deixar bem claro que quero, como sempre quis, qualidade no Benfica, venha ela de onde vier. Não quero que deixemos de apostar nos Gaitan's, Salvio's, Samaris's, Jonas's ou Júlio César's, não deve estar aí a janela de oportunidade dos jovens da casa, deve estar sim no lugar de outros jogadores de qualidade mais duvidosa, que continuam a chegar todos os anos em quantidades inaceitáveis."

No fundo, para ti o importante era fazer prevalecer as ideias feitas, mesmo para isso tivesses que ridicularizar algo que eu nunca disse. Não é grave, para a próxima meto a negrito.

De Vasco a 25.06.2015 às 20:38

"É curioso que não se possa dar o exemplo do Barcelona, porque "é sempre o mesmo", mas, do outro lado, toda e qualquer conversa sobre formação acaba a falar-se "sempre no mesmo", no caso, o Sporting."

Não é verdade. Também dei o exemplo do Ajax.

"Há um toque divino nos espanhóis que saem de lá, concerteza. Os jovens espanhóis nasceram com o cu virado para a lua, estão num patamar evolutivo superior em comparação com os portugueses."

Não. O que se passa é que o Barcelona tem as melhores escolas do mundo. O Benfica não.

"Não preciso arranjar exemplos de outros clubes, basta-me dizer que de todos os grandes clubes europeus, aquele que ganha mais é o que mais aposta na formação. Se calhar, é sorte."

Não. É o facto de ter as melhores escolas do mundo e capacidade financeira para manter os seus melhores jogadores. Duas coisas que o Benfica não tem. A estratégia do Barcelona é óptima para o Barcelona. Por isso é que os outros clubes, que não andam a dormir, não a seguem. Não é falta de vontade, é falta de condições. Ou têm dinheiro e não têm escolas, ou têm escolas e não têm dinheiro, ou as duas coisas. Dizer que o Benfica devia seguir a estratégia do Barcelona porque eles são o clube que ganha mais equivale a viver nas barracas e ter a ideia espectacular de ir morar para a Quinta da Marinha, porque lá é que se vive bem. Está bem visto, não temos é capacidade para isso. O Barcelona é o único clube do mundo a ter formado todos os três candidatos a uma edição da Bola de Ouro. O Sporting, nos últimos 30 anos, formou dois bolas de ouro. O Benfica formou zero. Vamos então basear o nosso futuro numa área na qual, em mais de 100 anos de história, nunca fomos consistentemente bem sucedidos.

"Achar que o Bernardo ou Rui Costa fariam o papel vergonhoso de um Maxi, chantageando o clube com os rivais, é ingenuidade."

Rui Águas, Paulo Sousa, Jorge Ribeiro. Fizeram papéis vergonhosos. Achar que todos os jovens formados nas nossas escolas são príncipes de personalidade irrepreensível é que é ingenuidade. Como a própria História demonstra. O cartão de sócio do Benfica, infelizmente, não garante carácter. Recordo que Vale e Azevedo é do Benfica desde pequenino.

"No fundo, para ti o importante era fazer prevalecer as ideias feitas, mesmo para isso tivesses que ridicularizar algo que eu nunca disse."

Não. Como ficou bem explícito, eu não estava a discutir apenas as tuas ideias. Estava também a discutir o que parece ser a estratégia do Vieira. Daí ter citado a frase do Vieira, e não tua, «60 ou 70% do plantel vai ser formado no Benfica em 2020». 70% de um plantel de 24 jogadores são 17 jogadores. É um número absurdo. Até para o Barcelona.

De Michael Krueger a 25.06.2015 às 22:23

Comentário lúcido e com total concordância.
Não é com 5 ou mais jogadores da formação que se vai lá. Tem de haver jogadores extra Benfica que tenham qualidade para, junto com 2 ou mesmo 3 jogadores da formação, construir um plantel competitivo para todas as competições em que se entra.
Sou um defensor na aposta de jogadores da formação, já em outros blogs demonstrei isso, mas, cada vez mais, faz mais sentindo o que foi dito nesta opinião.
Temos de ter um Luisão, um Samaris, um Gaitan, um Jonas, etc., que tenham a qualidade, e nestes casos já a experiência, para que os jovens formados não sejam lançados às feras sem sentido.
Temos valores no Seixal que podem fazer parte do plantel da próxima época:
- Lindelof (o André Almeida sueco)
- Ivan Cavaleiro (se ainda não foi vendido)
- Gonçalo Guedes
Há outros que espreitam e que mostraram valor na época passada, tanto na equipa B como em empréstimos:
- Ruben Pinto (pilar importante no Paços, basta ver que foi com a chegada dele que o Sérgio Oliveira "explodiu")
- Rui Fonte (no Belenenses não marcou muitos golos, mas foi uma peça fundamental no ataque, funcionando como um pivô atacante)
- Hélder Costa (ao longo da época foi crescendo e mostrou que tem qualidade e maturidade para um plantel sénior de uma equipa como a do Benfica)
Outros mais (João Teixeira por exemplo) há, mas que ainda precisam de ganhar "calo".
Claro que pode e há opiniões diferentes a respeito deste tema, mas concordo numa parte do artigo em que fala da oportunidade que se dá aos Cortezes, Luis Filipes, Bébés/Tiagos, etc., em detrimento de um jogador da formação. Não digo que o "puto" (qualquer que fosse) ficasse no plantel, mas pelo menos não custava saber que se pagou por um jogador que é uma vergonha como os muitos exemplos que houve ao longo destas épocas.
(continua no próximo comentário)

De Michael Krueger a 25.06.2015 às 22:25

(continuação)
Há exemplos para os dois casos, aposta e não aposta: o que não foi aposta e depois é um grande jogador, Bernardo Silva, e o que foi aposta e afinal não é grande jogador, Nelson Oliveira.
No caso do Bernardo Silva, foi um jogador que pouco jogou, mas mostrou que tinha "pinta" de jogador com um futuro risonho. Foi campeão nacional e ganhou a taça de Portugal e a taça da liga. Por razões "estranhas" é emprestado a um clube credenciado e acaba vendido a meio da época. Podia ser um caso bem feito, pois o pouco que jogou não convenceu o treinador e o preço pago por si não era de rejeitar. O que acontece? Faz uma época em que demonstra que é um grande jogador e no Europeu da sua categoria é até ao momento o melhor jogador. O que se tira daqui? Apostar em Talisca (apesar de ter a certeza que será um excelente jogador) valeu mais para o treinador que apostar num jogador semelhante, até na idade, que vinha da formação. Agora são os adeptos que "choram", porque um jogador como Bernardo Silva só aparece de 10 em 10 anos.
O exemplo do Nelson Oliveira é um caso de estudo, pois tenho a certeza que seria um soberbo jogador e por isso é muito triste ver o desperdício em que se transformou:
Jogador de qualidade acima da média. Aposta de futuro do clube e na primeira época de águia ao peito ganha uma taça da liga e vai a um Europeu. Depois "força" a saída em dois anos sem que nada tenha demonstrado nesses empreéstimos. Volta ao clube e pede ao treinador uma oportunidade. Este concede-lhe poucos minutos e a verdade é que mostrou mais do que o Bébé/Tiago e Jara que eram "concorrentes", mas a seguir pede para ser emprestado, devido há pouca utilização, e até ao final da época nada mostra para que se dê uma outra oportunidade. Que conclusão se tira deste exemplo?
O Nelson tem qualidade, mas não tem cabeça. Ou seja, física e tecnicamente tem tudo para ser um avançado demolidor, mas mentalmente é muito fraco. É influenciável (vai atrás da cabeça do empresário e do pai que só vêm €) e ao mínimo desaire vai-se abaixo, como exemplo quando esteve em França em que até sair a convocatória para a selecção nacional vinha a jogar muito bem e a marcar golos e depois de um comentário no facebook nunca mais conseguiu trilhar o caminho da afirmação.
Estes exemplos são demonstrativos de que a aposta nos jovens do Seixal tem de ser bem planeada (o futebol já não é romântico) e baseada em valores morais, tanto da parte do clube como da parte do jogador.

Obrigado e Saudações

De Ironias a 28.06.2015 às 16:42

Alguns jogadores que aparecem na foto que ilustra este post sobre a "identidade" e "mística" que falta aos jogadores estrangeiros: Rui Águas, Dito, Pacheco...

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