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Já passaram uns dias, outro jogo está à porta, mas o efeito da noite europeia continua presente. Continuo extasiado com tudo aquilo, adormeço e acordo com o desfile daquelas imagens, não tivesse o Benfica essa capacidade única para me tornar numa criança de novo. Ver o Benfica vencer uma equipa de topo na prova máxima do futebol europeu, fora de casa, com a garotada a dar chocolate e a decidir o jogo, jogando com o histórico branco da camisola alternativa mais bela das últimas décadas, é algo que me acompanhará durante longos anos. Foi tudo perfeito, o cosmos começa finalmente a querer colocar as coisas no sítio para que este sonho se concretize.
Mas desta vez quero particularizar os elogios, porque há um jogador que me enche as medidas, como eu já não me lembro de ver ninguém no Benfica conseguir.
É moda hoje dizer-se que Gaitán é o jogador mais talentoso da equipa. Ora, como não confundo talento com valor de mercado, que depende sempre da idade, sou obrigado a discordar. Gaitán é um extraordinário desequilibrador, mas não está no mesmo patamar de Jonas. Não, porque seja limitado de alguma maneira, mas porque Jonas está num patamar só dele, no que à capacidade intelectual para jogar futebol diz respeito. Tudo bem, eu sei que Gaitán também é o melhor jogador do mundo, tal como o Júlio César também é, e que a bola de ouro de Semedo em 2018 é uma mera formalidade, mas Jonas é o melhor do mundo mais um bocadinho. Na verdade, Jonas será o melhor do mundo mesmo quando tiver 80 anos, apenas não terá a capacidade física necessária para acompanhar o intelecto, o que dará a oportunidade a outros de o serem. Outros que até poderão ser mais dotados tecnicamente, mais rápidos, mais fortes, mas nunca terão o talento do Jonas para pensar um jogo de futebol. É impossível.
A maioria dos seus jogos são Tratados vivos, em movimento, sobre como bem jogar futebol, sobre a leitura de jogo no futebol. Não são os pés de lã que mais impressionam, o talento puro para tratar a bola com conta, peso e medida em todo os seus gestos técnicos, ou o facto de fazer golos com o pior pé que outros não fariam com o melhor, ou a capacidade para desequilibrar no jogo aéreo mesmo não tendo a envergadura física de outros, ou a responsabilidade que considera ter e assume para entreter as bancadas, ou o facto de dançar entre os rivais, dando muitas vezes a sensação que irá perder a bola, mas sem que tal acabe por acontecer. O que mais impressiona com Jonas é a realização do seu pensamento, é sentirmos que os recursos técnicos são o acessório, a consolidação daquilo que realmente o torna especial: a inteligência.
Jonas é o jogador que se ri daquilo que se ensina aos miúdos, do 1-2, de primeiro receber e depois virar. Com o Atlético, equipa exemplar na forma como pressiona com agressividade, perdi a conta às vezes que tirou adversários do caminho abdicando da recepção, com uma simples simulação de corpo. Antes da bola lhe chegar, já sabe como vai tirar o adversário do caminho, sem sequer lhe tocar. A visão periférica é de outro mundo, basta observar a rapidez com que em curtíssimos espaços de tempo olha para um e outro lado, para perceber que está sempre ao corrente de tudo o que se está a passar à sua volta. É daqueles jogadores que vai com a bola num 3 para 3 e não cede à tentação de libertar rapidamente a bola no colega, por receio que lhe chamem egoísta, é capaz de perceber que a melhor jogada é usar o apoio dos colegas para terminar a jogada sozinho, peçam as bancadas o que pedirem. Jonas rima com decidir bem, com ler bem.
Depois há algo ainda mais fascinante e que acontece com poucos jogadores. Na bancada ou na televisão, temos o hábito de dizer "faz isto", "faz aquilo", "dá agora", "olha aquele solto na esquerda", "não tens hipótese, dá atrás", etc, e há jogadores que parecem ter uma facilidade superior para perceber à altura do relvado aquilo que o adepto está a ver de uma perspectiva muito mais favorável. Jonas é um desses jogadores, mas leva-o para outro grau, consegue arranjar soluções que o comum adepto, lá de cima, nem sabia que existiam, nunca as viu, daquelas que nos apanham tão de surpresa que até provocam gargalhadas. O futebol de Jonas, de uma ponta à outra, é prazer puro, só se pode ver com um sorriso na cara. Elegância, criatividade, eficácia, garra. Jonas é o protótipo do futebolista ideal.
Como se não bastasse, é o tal jogador à Benfica que idealizo. Não o jogador à Benfica a quem basta correr muito e ser viril para assim ser considerado, mas o jogador que está ao nível do Benfica em todos os sentidos: no espírito de sacrifício, mas também no talento, no saber estar, na percepção de onde está, na consciência do carácter especial do clube que representa, na epicidade com que sabe ser ídolo de quem ama o Benfica. Jonas é o espírito de sacrifício de Luisão, o talento de Aimar, o saber estar de Júlio César, a epicidade de Cardozo. Jonas é um ídolo à antiga, é o Paneira moderno. Até de botas pretas joga, veja-se bem o quão raro é no futebol moderno. Jonas é o tipo que de meias em baixo, e com aquele andar de rei deste mundo e de todos os outros, ajeita o material ao ser substituído na maior das calmas. Jonas questiona a minha sexualidade, não há limite para o nível da sua epicidade. Por tudo isso, é a grande figura desta equipa, a mais memorável, a mais especial, a mais Benfica.
Era uma vez…
Um pasteleiro de seu nome Jorge, conhecido como o melhor pasteleiro na zona na arte de fazer pastéis de nata. Aqueles pastéis de nata tipicamente portugueses, que encantavam qualquer um que tivesse a oportunidade de os apreciar. A história do Jorge é algo caricata, ele foi subindo na vida a pulso, de empresa em empresa, até que surgiu a oportunidade de integrar a maior pastelaria de Portugal.
A pastelaria era a mais conceituada e reconhecida em Portugal (doravante pastelaria B) e tinha uma imagem muito positiva além fronteiras, devido a mais de 100 anos de história e de sucessos alcançados ao longo da sua vida, no entanto encontrava-se numa situação algo moribunda, à deriva e sem conseguir alcançar nos anos precedentes todo aquele sucesso que lhe era reconhecido. Andava a perder prémios, prestígio e reconhecimento para uma outra empresa situada mais a norte (doravante pastelaria P), que aliava qualidade a uma postura menos correta no nicho de mercado em que se encontra, algo que as autoridades competentes deixaram passar em branco (e amarelo, e mulato, e etc.), porque as suas pastelarias se faziam acompanhar de um café com leite e uma frutinha da época, capaz de fazer qualquer um atingir momentos de puro prazer.
Com a chegada do Jorge à pastelaria B, esta sofreu um safanão tal que começou novamente a voltar a encantar os seus clientes, a ganhar prémios e a mostrar o porquê de ser a mais conceituada e o porquê de merecer ser a maior e melhor pastelaria do país! Com altos e baixos entre 2009 e 2015, altura em que Jorge esteve à frente da pastelaria B alcançado alguns êxitos devido aos seus pastéis de nata maravilhosos, a pastelaria conseguiu colocar-se como a maior potência doceira nacional e o futuro prometia alguma estabilidade e confiança. Entre este período existiram algumas crises entre Jorge e a entidade patronal, que acabou por lhe dar a mão e manter no cargo mesmo contra a vontade de grande parte dos clientes que demonstravam algum descontentamento devido à qualidade dos seus croissants ter vindo a decair e a desiludir, batendo no fundo em 2013. A partir daí assentaram os pés no chão e até 2015 foi um regabofe de prémios e prestígio alcançados, que Jorge voltou ao trono com os seus pastéis de nata, altura em que… Foi vê-lo partir naquela estrada.
A empresa rival da área metropolitana de Lisboa (doravante pastelaria S) decidiu ir atrás do Jorge, e num golpe de charme conseguiu contratá-lo com um chorudo ordenado, deixando ao mesmo tempo a pastelaria B ferida no orgulho. Há lá coisa mais gostosa que conseguir uma estrela para a empresa, ao mesmo tempo que se enfraquece a empresa rival! Os pastéis do Jorge também são gostosos, mas isto é um gostoso daqueles que acontece muito raramente quando há um eclipse solar, e a empresa S bem que precisava de um ânimo renovado, depois de anos e anos na penumbra e na sombra das principais doçarias nacionais B e P. O Jorge também não fica isento de culpas, demonstrando toda uma falta de humildade e respeito perante quem lhe deu muito mais a ganhar que a perder, defeitos que lhe tinham sido apontados ao longo dos anos, sendo também por aí que os seus pastéis de nata serviam algumas vezes para um brilharete interno, mas além fronteiras acabavam por ser esmagados e fazer má figura. O seu ego era enorme mas os factos não o justificavam, e Jorge nunca viu isso dessa forma nem aceitaria algo nesses termos. Para si mesmo, ele era o maior e melhor pasteleiro de Portugal (até que o mundialmente reconhecido e emigrado José).
Passado todo este episódio e assente a maior poeira, o grande líder da empresa B, Luís, procura desesperadamente um substituto para Jorge. A clientela levou uma facada no coração ao perder o seu pasteleiro de renome nacional a seu lado já há alguns anos, e chorava pelos pastéis de nata maravilhosos que nos últimos anos tinham voltado em força às mesas da pastelaria B. Era Jorge ou o caos, nas fileiras da pastelaria B. Sem meias medidas e numa postura cuja intenção de Luís seria demonstrar que Jorge alcançou o sucesso devido à empresa e não o contrário, ele tomou uma decisão da sua (quase) inteira responsabilidade. Fazendo orelhas moucas a tudo e todos que o rodeavam, escolheu para substituto de Jorge um homem que trabalhava numa empresa mais a norte, em Guimarães, chamado Rui.
Rui é um pasteleiro mais novo e com menos experiência, tinha ganho algum bom nome devido ao trabalho feito na empresa de Guimarães, onde com poucos recursos tinha conseguido manter alguma qualidade no trabalho apresentado. A sua maior virtude tinha sido a aposta com sucesso em ingredientes caseiros, que mais tarde dariam um belo retorno financeiro à empresa. Contrariamente aos pastéis de nata que o Jorge confecionava, Rui habitualmente era especialista na arte dos croissants, algo mais internacional e requintado, utilizado na maior parte das grandes pastelarias europeias e mundiais. Já tinha trabalhado numa das sub empresas da pastelaria B, era conhecido e homem da confiança do patrão Luís, e foi em si que recaiu a escolha para assumir o cargo. Os clientes e associados da pastelaria B não ficaram muito satisfeitos com a escolha, na sua maioria, porque não lhe viam o perfil e a qualidade necessária para manter a batuta, e consequentemente o Luís perdeu alguma (muito pouca, diga-se) falange de apoio.
Eu, como cliente associado que sou da pastelaria B, confesso que fiquei contente quando na altura foi comunicado oficialmente este facto. Era um dos dois pasteleiros da minha preferência, juntamente com outro de seu nome Marco, que rumou à Grécia. Defendo que a pastelaria nacional está boa e recomenda-se, estes dois nomes estavam disponíveis e julgo que dariam conta do recado se lhes fosse dada essa oportunidade. Estava confiante que a mudança para os croissants seria o rumo certo por ser o meu alinhamento pasteleiro preferido, e via qualidades na confeção do Rui.
Poucos meses se passaram, o Rui fez o seu estágio na América, começou a trabalhar a doer, e eu sinceramente estou com algum receio neste momento. Acredito que pode dar certo, lá no fundo acredito, mas já acreditei muito mais. O que se tem visto nos últimos tempos a sair da mui nobre pastelaria B, não faz jus ao nome que acarreta. Os doces têm sido bons q.b. à rasquinha, já perdemos um dos prémios de início do ano e logo para o Jorge e a empresa S que bateu cá forte no orgulho. Seguem-se aqueles que para mim são os sete ingredientes mortais para o que aconteceu, acontece e infelizmente acho que acontecerá no mundo da empresa B:
Veremos o que acontece no futuro. Eu já confiei mais que a minha estimada pastelaria B tinha feito uma boa escolha, e que o homem escolhido tinha capacidade para o cargo. Continuo a ir lá tomar o pequeno-almoço diariamente, mas ainda denoto muita falta de açúcar para me adoçar o paladar ao meu gosto.
A palavra já não é vulgar para ninguém. Está na moda. Esteve durante muitos anos associada a outro clube, mas parece ser tendência no Benfica.
Esta época o Benfica decidiu colocar em prática aquilo que o presidente tem proclamado há vários anos - o desinvestimento equilibrado no futebol e a integração de jovens da formação no plantel principal. Os muitos milhões realizados em transferências ao longo dos anos certamente que contribuíram para a consolidação das finanças do clube, promovendo uma abordagem cada vez mais sustentável, e os jovens da formação já não serão vendidos prematuramente, envoltos em supostos empréstimos e cláusulas duvidosas, mas sim incluídos no plantel principal.
Polémicas à parte, a direcção do Benfica entendeu que podia abdicar do anterior treinador. De repente surgiu a necessidade de provar que não existia uma dependência de alguém que até parecia ganhar maior dimensão do que o próprio clube, algo que nunca pareceu incomodar o Benfica. Alguém a quem se permitiu e ofereceu tudo. De repente, o Benfica decidiu provar que venceu com Jesus e não devido a Jesus.
Sem surpresa, Rui Vitória foi o treinador escolhido. Antigo treinador da equipa de juniores do Benfica, conhecido por “apostar” na formação em Guimarães, Benfiquista e amigo de Vieira. É uma escolha exclusiva do presidente do Benfica, que se sente no direito de se isolar nesta decisão, já que acertou em 2009 com Jesus.
Anestesiando os adeptos através de reportagens de autopromoção, a estrutura foi vendendo a ideia de uma enorme máquina de competência, criando um modelo que permite a um treinador ser vitorioso. Hoje vemos claramente que não é assim.
A saída de Jesus permite, para já, tirar várias conclusões acerca da forma como o Benfica prepara as suas épocas. Continua a não existir uma linha de orientação relativamente à forma como o clube se movimenta na pré-época.
O pack de contratações que se apresenta no Seixal, qual casting do Ídolos, voltou a chegar, o que me leva a concluir que o suposto desinvestimento é uma farsa. O Benfica não decidiu gastar menos, nem contratar melhor. Todos os anos continuam a chegar jogadores que não vestem, sequer, a camisola do clube. Todos os anos se realizam contratações que me fazem comissão na orelha. Obviamente que estes negócios são decisivos para as contas do clube. Continuar a ignorá-los não é solução.
Vieira garantia em Junho que Rui Vitória teria as mesmas condições que Jesus. Hoje também vemos que isso está longe de ser verdade. A direcção encostou-se ao facto de manter, praticamente, o plantel campeão, esquecendo-se que este já era curto com Jesus e que precisava de reforços cirúrgicos, mas significativos. O Benfica vende Enzo em Janeiro, mas rapidamente se percebe que Pizzi não seria solução. Nem com a prolongada lesão de Salvio e a venda de Sulejmani, o Benfica decide trazer um extremo de qualidade inegável. Mais. O Benfica termina o mercado de transferências atrás de Siqueira, o mesmo lateral sobre o qual não foi exercida a opção de compra em 2014. Depois de considerar várias alternativas e de analisar o mercado com a devida calma, o Benfica não faz mais nenhuma contratação. Dos muitos jogadores que chegaram, poucos ficaram no plantel e ainda menos terão funções relevantes na equipa. Chegamos ao último dia e percebemos que os problemas que tínhamos em Maio são os mesmos de hoje.
É compreensível a alteração da política e que Rui Vitória não sinta que tem “autoridade” para exigir reforços, mas assiste-se actualmente a uma quebra gritante da qualidade global do plantel. Um exemplo esclarecedor: em 2014 o Benfica tinha Gaitán, Salvio, Markovic e Sulejmani para as alas. Hoje tem Gaitán, Victor Andrade, Gonçalo Guedes e Carcela. Naturalmente que não se impõem investimentos desmedidos, nem que um jovem da formação seja forçado a render no imediato, mas tem de existir um meio-termo. Esta loucura de 8 ou 800 é injustificável, sobretudo num clube que é bicampeão.
Questiono-me se os dirigentes do Benfica estiveram demasiado distraídos este Verão. Se com as batalhas pessoais que João Gabriel decide travar nas redes sociais, não tendo pudor de utilizar o nome do clube para se socorrer, se com os espectáculos a que o funcionário Pedro Guerra (Fernando Santos para os mais distraídos) se dispõe no canal do clube, onde agora defende ferozmente a aposta na formação, contrastando com a sua prévia opinião de que “o Benfica não é o Sporting”, ou se estariam maravilhados com as entrevistas de Domingos Soares de Oliveira, que no último mês ainda não tinha garantido a existência de um milagre financeiro, apesar de todos os anos existir uma insólita necessidade de vender jogadores. Certo é que passaram três meses e a estrutura não conseguiu resolver nenhuma das principais lacunas do plantel. É de lamentar que as reportagens do Nuno Luz não tenham conseguido captar estes momentos.
Percebe-se, portanto, que, mesmo sem Jesus, nada mudou. O Benfica continua a ser gerido ao sabor do vento, com base em crenças, instintos e impulsos. Não existe nada que caracterize a liderança e o projecto que a estrutura tanto se tem esforçado em vender aos adeptos. Não há nada que identifique o clube. Continuamos na mesma política de fogo-bombeiro: é preciso deixar que tudo corra mal, para se chegar à conclusão que é preciso fazer alguma coisa. Depois de acontecer, decide-se agir. Foi preciso o Benfica ser humilhado na Emirates Cup de 2014 para que jogadores como Júlio César, Samaris e Jonas finalmente fossem contratados, por exemplo. A habitual incompetência e negligência do Benfica nas pré-temporadas foi castigada com a perda de um título oficial, num jogo em que uma equipa se preparou para vencer e a outra andou perdida nas Américas à procura e à espera de qualquer coisa.
Desta forma, é possível concluir que, no final, quem faz a diferença é o treinador. Chegamos a esta altura e percebemos que o que realmente definiu o Benfica durante os últimos anos foi a influência do treinador. A estrutura do Benfica foi Jesus, que mesmo com os seus defeitos e alguma incompetência, conseguiu esconder e camuflar muito do desnorte presidencial. Por este motivo, a estrutura foi uma das culpadas de tornar o clube refém do anterior treinador, já que a exclusiva competência da direcção há muito que é conhecida. Criou-se, assim, o mito de que só Jesus é que poderia fazer a diferença, quando existem outros treinadores competentes que podem fazer o mesmo. Porém, esta direcção parece empenhada em tornar isso impossível. O problema não foi Jesus sair, mas sim quem ficou e entrou.
Esta época tem "Vieira" escrito na testa. Para o bem e para o mal, em Maio, saberemos todos muito bem para onde olhar.
Júlio César, Nélson Semedo, Lisandro, Jardel, Sílvio, Fejsa, Samaris, Gaitán, Ola John, Talisca e Jonas. Éderson, Carcela, Diego Lopes, Bilal Ould-Chikh, Mitroglou, Murillo, Pelé, Taarabt, Marçal, e Francisco Vera. De um lado, temos os jogadores que foram titulares na Supertaça, no outro temos os jogadores contratados para esta época. Nomes em comum? Nenhum.
Rui Vitória herdou para o início da corrente época um plantel bicampeão, mas que viu sair o titular do lado direito da defesa, um dos avançados, Lima, e ainda temos o caso de Salvio que sofreu uma grave lesão no joelho. Para juntar a isso, o treinador do Benfica não pôde contar com o capitão Luisão para o jogo da Supertaça. Já durante a época passada, em Janeiro, o Benfica tinha vendido Enzo, e a equipa sentiu-se disso na 2ª volta, não tendo tido até agora um substituto à altura. Resta ver que desde a saída de Enzo, o Benfica tem menos pontos no campeonato que o Porto, mesmo com Jorge Jesus no comando da equipa. O plantel já era de si algo fraco, todos temos a noção disso, com lacunas. Quer se queira quer não, Jorge Jesus nos dois últimos anos conseguiu montar um colectivo extremamente forte e que conseguiu mascarar muitas das lacunas que vários jogadores tinham. Não há que esconder isso, tinha muitos defeitos mas também muitas virtudes, e eu até devo ser uma das pessoas no mundo que menos gosta do agora treinador do Sporting.
Ora bem, a estrutura do Benfica achou por bem dar um avanço de um mês e meio. Para além de não se aperceber que a pré-época tinha sido preparada de um modo amador - assunto que ainda abordarei, mais uma vez -, decidiu que esta equipa só se devia começar a reforçar a sério na semana da Supertaça, mas antes disso decidiu contratar 11 jogadores, e que apenas um tem contado até agora, Carcela. Como se isso não bastasse, ainda deixou sair titulares sem se acautelar a tempo. Destes 11 jogadores que chegaram, muitos nem estão no clube, ou sequer se apresentaram. A estrutura do Benfica tem que perceber que são estes Marçais, estes Pelés, estes Veras, que roubam o lugar a jogadores da formação, não os craques que saem, e não se pode pensar que um Enzo sai e João Teixeira assume logo o lugar. Estamos com quase um mês e meio desde o início dos trabalhos e o Benfica jogou um jogo oficial sem 4 titulares do ano passado – 5 se for contar com Eliseu, mas como foi opção técnica não entra neste lote - e sem nenhum reforço na equipa. Lembrem-se, o campeonato começa esta semana.
Rui Vitória, tem estado a desiludir-me e muito, não vou mentir. Esperava muito muito mais, porque a jogar assim, nem com Ibrahimovic e Suárez na frente. Não tem conseguido retirar quase nada dos melhores jogadores da equipa, nem fazer com que outros mostrem algo. Há muito de mau que se pode falar do jogo da Supertaça, muitos equívocos, muitas coisas que não se entendem e acima de tudo, um péssimo futebol que o Benfica tem praticado. No entanto, também muita da responsabilidade não se pode culpar exclusivamente a ele. As condições que ele teve até agora foram bastante duvidosas. O fardo que ele herdou é muito grande e pesado. Deveria ter sido acautelada a forma tranquila como a equipa trabalharia. Estar 6 anos com um treinador e depois chegar outro, não é nada fácil, há muita coisa que é preciso mudar. O padrão de exigência dos adeptos é agora, naturalmente, maior para com o treinador. Só esta semana teve direito a um verdadeiro reforço, teve uma pré-época difícil e a equipa chegou a Portugal na semana em que disputaria um título, e que representava muito para os adeptos do Benfica.
«Estivemos 16 dias fora e foi razão para muitos falarem de falta de organização da pré-temporada. Esses têm complexo de clube pequeno»
Esta foi uma das frases que Luís Filipe Vieira disse durante esta semana, e que me tocou particularmente. Não que tenha sido dirigida a mim, claro, sou apenas um simples adepto do Benfica que pensa pela sua cabeça, mas que foi dirigida a todos os que tentam entender algo e pensar pela sua cabeça. O que acha agora o presidente do Benfica depois de ver num jogo oficial, um jogo que estava um troféu em disputa, um jogo que contava bem mais que uma simples taça, ver aos 30 minutos um Samaris ou um Fejsa que já não podiam com o rabo? Isto de se vir falar e bater palmas a tudo é muito bonito, mas sem a exigência e a crítica construtiva, as coisas não melhoram. Para se melhorar, primeiro é preciso perceber que se erra, mas a estrutura do Benfica nunca vai admitir que errou nesta questão, porque precisava daquele dinheiro como de pão para a boca. Três semanas sem nenhum jogo, poucos jogos de pré-época, jogos em condições muito duvidosas para os jogadores, horários muito diferentes dos normalmente praticados, muitas viagens, o chegar a Portugal já na semana de jogo, quando os jogadores precisariam ainda de se voltar a habituar aos novos horários e clima, foi de uma incompetência atroz, ainda para mais quando a equipa viu chegar um novo treinador. E isso teve custos, não para a estrutura do Benfica, mas para a equipa e treinador, como se viu no Domingo.
Os reforços irão chegar naturalmente agora, serão bons jogadores, e isso será quase o começar de uma nova pré-época para o treinador do Benfica, isto na semana do inicio do campeonato. Quem é que ainda não tinha percebido que o Benfica precisava de reforços que entrariam de caras na equipa titular? É preferível comprar pouco e bem, que muito e mal. Preferiria um jogador que fosse titular de caras da equipa, do que todos aqueles nomes que todos os verões vemos chegar à Luz e que pouco contam. A estrutura do Benfica que não pense que por termos sido bicampeões fazem tudo bem, e que não há nada que melhorar. Que não pense que estamos na frente por termos sido bicampeões e os outros é que têm de correr atrás de nós. É preciso exigência, trabalho, não andar a viver de anos anteriores, e não utilizar sempre o mesmo discurso para qualquer situação que aconteça.
Que no fim da época nada disto pese, e que o Benfica ganhe tudo o que ainda há para conquistar internamente, é só o que peço.
Sou uma pessoa extremamente pessimista. Por vezes gosto de me convencer que sou apenas realista (e sou!), mas tenho tendência para ser demasiado negativo. Levo a Lei de Murphy demasiado a sério. Talvez por isso tenha alguma dificuldade em “confiar” no Benfica. Vou quase sempre preparado para o pior e dessa maneira custará menos se correr mal. Ou pelo menos tento acreditar nisso. Sinto que vivo o Benfica de uma forma complicada. Pouco saudável, vá. Procuro um equilíbrio que sei que nunca irei encontrar. Sou capaz de delirar com uma vitória, como colocar tudo em causa depois de um empate com uma má exibição. É o Benfica, é normal.
Gostava de ser aquele adepto que puxa imediatamente um cântico de apoio no estádio quando sofremos um golo, que acha que é possível recuperar de uma derrota aos 70 minutos ou que acredita que o Luisão vai marcar de cabeça após livre de Petit num derby a terminar o jogo. Esse tipo de coisas.
Por todos estes motivos, sinto que provavelmente não sou a pessoa mais indicada para escrever este texto ou para vos dizer que acredito na vitória do Benfica. Isto é, no fundo, um desabafo.
Torna-se desnecessário assumir todas as semanas que o jogo desse dia é “muito importante”. Porque é sempre. É certo que surgem sempre motivos diferentes, mas cada jogo ganha um peso e um significado particular porque isso faz parte da nossa cultura. Espera-se a vitória. Vencer e convencer. Ganhar à Benfica. É isso que se exige. Todos os jogos são muito importantes, mas este é muito importante.
Esta Supertaça é apenas um jogo, apesar de não o ser. Depois de dois meses quase surreais, surge o nosso momento. O momento em que teremos de justificar e dar resposta a tudo o que aconteceu. Com o cérebro, mas também com o coração. Correndo o risco de ser estupidamente dramático, este jogo não é só um troféu, um derby ou um início de época. Não o consigo ver dessa forma, não faz sentido assim. Precisamos de mostrar que estamos vivos, mas que não vivemos obcecados com terceiros. Que temos ainda mais vontade de continuar a vencer, que não somos reféns de ninguém e que a resposta, como sempre, é apresentada em campo. É, sobretudo, um teste à nossa honra.
É também um teste de peso para Rui Vitória, que terá a responsabilidade de corrigir e melhorar o que tem sido feito até agora, passando a mensagem certa para os jogadores. Sendo o nosso treinador e estando perfeitamente alinhado e identificado com a identidade e filosofia do clube, também ele quererá, certamente, mostrar que somos superiores.
Podia descrever detalhadamente todos os motivos que tornam este jogo numa ocasião nuclear, recorrer a chavões e frases feitas ou apresentar situações semelhantes em que fomos felizes, mas parece-me curto e até escusado. Todos temos consciência do que este jogo significa e caberá à equipa do Sport Lisboa e Benfica dar uma resposta à altura do clube.
Nunca nenhuma equipa perdeu um campeonato por falhar na Supertaça, mas vamos começar a vencê-lo ao conquistar estre troféu. Porque é o Benfica, é normal.
Começou ontem a caminhada dos jovens do Benfica B na 2ª liga. Nesta abertura, a equipa B deslocou-se a Olhão para defrontar o Olhanense. O resultado final foi de 1-1, com os jovens benfiquistas a serem muito superiores, principalmente na 2ª parte, valendo aos algarvios a grande exibição do seu guarda-redes.
Esta equipa B do Benfica é muito jovem, mas com muito talento. Neste jogo vimos vários jogadores que ainda são juniores a jogarem a titulares. Estes jogadores estão a queimar etapas e é muito bom que encontrem maiores dificuldades no jogo, para se desenvolverem.
O jogo foi jogado num campo que é um autêntico batatal. A liga devia preocupar-se tanto com estes relvados como se preocupa com os sintéticos, pois um campo naquele estado consegue ser ainda pior que um sintético. Muito difícil a missão para o Benfica num campo daqueles, visto serem jogadores muito mais técnicos e uma equipa que joga mais em posse.
Foi um bom jogo do Benfica. As laterais defensivas, assim como na equipa A, são o ponto menos forte da equipa. Alexandre Alfaiate é um central de origem e dá pouca amplitude. Rebocho na esquerda é muito lutador, mas precisa de evoluir muito mais. João Nunes é um jogador que sempre gostei muito, desde que o vejo nas camadas jovens do Benfica. É um líder natural, mostrou-o neste jogo, sempre a comandar a defesa e a definir as subidas ou descidas da defesa. Fez dupla de centrais com Lysctov, e não estiveram mal, pese algumas dificuldades de entrosamento entre os dois. João Nunes vem de um Mundial de Sub-20 onde esteve fantástico, e este ano terá oportunidade de mostrar todo o seu valor, caso queira um dia chegar à equipa principal.
O trio do meio-campo que jogou neste jogo é muito forte, apesar de ter dois juniores, Renato Sanches e João Carvalho. Paweł Dawidowicz é o jogador mais recuado, aquele que jogou na frente da defesa e começa a primeira fase de construção. Como é seu hábito, esteve muito forte no desarme, mas precisa de evoluir muito no passe, ser mais rápido e ser mais assertivo. Sou um grande admirador de Renato Sanches e João Carvalho. Renato é um portento físico, é um jogador que ainda é júnior e ontem aos 90 minutos de um jogo de seniores andava a fazer piscinas de uma área à outra. Fisicamente raramente perde um lance, mas tenho notado que ainda não conseguiu nos últimos anos dar aquele passo em frente na parte técnica, e que tanta diferença podia fazer. A sua capacidade de transportar jogo com a bola no pé é muito forte. Perde é ainda várias bolas, não tomando muitas vezes a opção mais correcta, mas até apareceu melhor no passe. Ainda é novo, tem ainda tempo para melhorar e será naturalmente um dia jogador de equipa principal. João Carvalho é um jogador muito dotado tecnicamente e super inteligente. Sabe fazer tudo em campo, e bem. Sabe aparecer onde deve, temporizar, fazer grandes passes, driblar, e isto tudo aliado a ser o jogador mais inteligente da equipa, faz a diferença. Tem algumas fragilidades físicas, mas consegue fazer com que isso não se note muito. Finalmente, parece que ser mais forte fisicamente ou ser mais rápido, não é importante para decidir quem joga na formação do Benfica.
Na frente jogaram Victor Andrade e Diogo Gonçalves nas alas e Sarkic a avançado. Andrade é um jogador que se nota ter mais andamento que os outros, mas é muito previsível, acaba por fazer sempre o mesmo, e perde muitas bolas, mas quem o viu no ano passado e o vê agora, nota uma grande melhoria. Diogo é um extremo mais objectivo, que tem sempre a baliza em mira, e num jogo de tanta posse e tentativas de desequilíbrio nas alas, a equipa ressente-se um pouco com a previsibilidade que ele dá. Sarkic também ainda precisa de melhorar mais, pois ainda tem muitas dificuldades perante a marcação dos centrais, o que é normal para um jogador tão jovem e com menos poder físico que os centrais. Tem movimentos muito interessantes e finaliza com qualquer pé.
Hélder também mexeu bem na equipa. Entraram Hildeberto, Clésio e Elbio Álvarez durante a segunda parte, e a equipa melhorou. Tenho esperanças em Hildeberto Pereira, pode fazer a diferença na frente, mas precisa de ganhar outras coisas no seu jogo e não fazer apenas a diferença na sua explosividade e capacidade física.
Gostei do jogo que vi, é sempre bom ganhar, mas neste momento não é o mais importante para estes jovens. Importante é eles crescerem, terem dificuldades que pela primeira vez muitos sentem ao colocar o seu futebol em campo. A capacidade que eles têm precisa de ser posta à prova, é preciso que eles percebam o que têm de fazer para continuarem a fazer a diferença no futebol sénior, pois aí as facilidades não são as mesmas que na formação.
É continuar a trabalhar assim, talento há muito.
Depois de conquistar o bi-campeonato, Luís Filipe Vieira viu sair o treinador para o grande rival de Lisboa. Apesar da história não ser ainda totalmente clara, o que se deu a entender foi que Jorge Jesus sentiu que não era mais desejado no Benfica e preferiu sair. O presidente do Benfica ter-lhe-á oferecido as mesmas condições contratuais, mas o treinador preferiu dar novo rumo à sua carreira. A história das exigências dos jogadores da formação e de um máximo de 25 jogadores no plantel que tinham sido exigidas a Jorge Jesus, foram desmentidas pelo próprio, e isso vale o que vale.
Se isto poderia ser um caos para muita gente, para o presidente do Benfica não o pareceu tanto. Com a saída de Jorge Jesus, foi permitido a Luís Filipe Vieira tentar dar o tão desejado novo rumo para o Benfica - desinvestimento e aposta na formação -, depois de 6 anos em que teve inúmeros sucessos mas também insucessos, no entanto foram 6 anos que elevaram imenso o nível de exigência do Benfica, para patamares que não se viam há décadas. Para o comando técnico foi escolhido Rui Vitória, um homem da confiança do presidente, que já tinha passado pelas camadas jovens do Benfica e que vinha de trabalhos positivos, tanto em Paços de Ferreira como em Guimarães, lançando para a ribalta inúmeros jovens talentos oriundos da formação, aquilo que Vieira tanto deseja.
No entanto, para perceber a missão de Rui Vitória é preciso ver para além do óbvio. O futebol não é uma ciência e também não é mecânica onde se substitui uma peça por outra e as coisas continuam a rolar sem sobressaltos. O futebol é algo mais simples, mas também muito volátil. Em todos os clubes do mundo quando se procede a uma alteração no comando da equipa depois de muitos muitos anos com o mesmo técnico, os primeiros tempos são sempre complicados. Para se agravar a situação, chega-se com uma pré-época já programada e feita muito longe de casa, em condições muito complicadas e tudo a troco de uns bons milhões de euros que tanto jeito dão. Para agravar ainda mais, o Benfica passa quase 3 semanas de treinos sem um único jogo particular, apenas treinando, e só já na digressão pela América disputa o seu primeiro teste. As outras grandes equipas também o fazem, mas é preciso perceber o contexto desses plantéis milionários e das suas soluções.
Para esta época, era importantíssimo o Benfica ter tido uma pré-época serena, com boas temperaturas, sem grandes viagens. Isso seria possível no conforto do Seixal, onde se ia facilitar a integração do novo treinador e a assimilação dos novos métodos de trabalho do mesmo, por parte de jogadores que estão habituados a algo diferente. Aqui, a tão propalada estrutura do Benfica falhou em toda a linha e, provavelmente, falhou porque nunca esperou uma alteração no comando técnico da equipa, para além dos óbvios motivos financeiros.
A tão propalada estrutura não garante títulos, a tão propalada estrutura facilita a obtenção de títulos, dando condições para os mesmos serem possíveis. Ao contrário daquilo que Jorge Jesus tantas vezes dizia, a estrutura nunca foi apenas ele. Ele era mais um elemento da estrutura, o mais importante, pois o que define uma boa ou má estrutura são os resultados.
Na minha opinião, o que caracteriza esta pré-época não é apenas a saída de Jorge Jesus, é um estágio e uma série de jogos que deram um cachet milionário, mas que podem custar uma época decisiva na afirmação definitiva do Benfica a nível nacional depois de um bi-campeonato. Os dirigentes do Benfica não podem pensar que depois de dois campeonatos seguidos partem com uma vantagem sobre todos os outros, que não é preciso melhorar nada, que tudo está bem e que não há pressão, porque no Benfica vai haver sempre pressão para ganhar. Esta época juntou-se tudo no Benfica, um novo treinador, um estágio em condições duvidosas, e ainda a saída de jogadores decisivos na manobra da equipa. Assim é muito complicado, seja para que equipa for.
Rui Vitória é neste momento um técnico dividido. Entre o alterar de forma drástica a forma de jogar do Benfica e ficar mais confortável na sua missão, ou dar continuidade ao trabalho de Jorge Jesus, algo extremamente complicado, porque a forma de jogar do Benfica era extremamente complexa.
O Benfica fez a sua escolha, cometeu os erros em cima apontados, mas é hora de cerrar fileiras, trazer verdadeiros reforços e dar tempo a Rui Vitória para tentar dar o seu cunho pessoal.
Recentemente a imprensa fez caso de que Nico Gaitán tinha ficado chateado pela braçadeira de capitão ter ido para Samaris e não para ele quando Luisão saiu do campo. Apesar de não me acreditar muito que tenha sido esse o caso, é sobre esta mesma questão que venho aqui falar.
O Benfica está a perder referências. O anterior sub-capitão saiu do clube, Rúben Amorim que também fazia parte deste lote está de saída.
Luisão é intocável na braçadeira, tem feito bem o seu trabalho dentro do campo e a nível de balneário nestes últimos anos, apesar de já ter tido algumas atitudes de que não se deve orgulhar. Os lugares atrás dele na hierarquia estão agora indefinidos, apesar de já se ter uma ideia de quem poderá ocupar essas vagas.
Sou da opinião que a longevidade no clube não deve ser o factor principal na atribuição dos lugares de capitão. Envergar a braçadeira é, muito mais que apenas ter anos de casa, é preciso ter características próprias. No entanto, sei que esta questão gera sempre algum desagrado, principalmente a jogadores que acreditam que por estarem mais tempo no clube devem ter sempre preferência, o que até se percebe, mas nem sempre o futebol é como queremos.
Sou também contra esta ideia do futebol moderno em que o melhor jogador da equipa tem de ser também o capitão. Acho isso uma ideia completamente errada, e então nas camadas-jovens isso acontece em quase todas as equipas.
Jardel, Nico Gaitán, André Almeida e Paulo Lopes seriam na teoria os maiores candidatos ao posto atrás de Luisão. Jardel parece mesmo ficar com a vaga de sub-capitão, pelo que se deu a entender na pré-época, e eu concordo. Gaitán não me parece ter perfil ideal de capitão, mas irá fazer parte do restrito grupo, como já se viu. Paulo Lopes não irá jogar muito, ao que tudo indica. Será alguém que irá passar para os outros jogadores o que é o Benfica, mas vou-o deixar fora deste lote, apesar de todo o respeito que ele merece. Há três jogadores que estão há menos tempo no Benfica e que para mim poderiam ser candidatos a este grupo restrito. São eles: Jonas, Samaris e Júlio César.
O grego tem um grande discurso, é um exemplo dentro do campo, dá tudo o que tem e mostrou ao longo do tempo ser um enorme profissional. Se nos primeiros tempos deixou dúvidas, agora tem-se revelado um grande elemento, e parece-me que pode ser uma futura referência no nosso clube. Outro é Jonas, que é um jogador com muita tarimba no mundo do futebol. Alguém com muita classe, que já passou por muitos dos maiores palcos mundiais e é visto como um exemplo por todos. Júlio César será também um jogador referência no Benfica, pela sua experiência e por tudo o que já passou e fez no futebol.
Posto isto, e apesar de ser Rui Vitória a decidir isso, a base mediante o que eu acho e o que Rui Vitória terá na sua cabeça, poderá ser algo assim: Luisão, Jardel, Samaris/Gaitán e Jonas/Júlio César.
E para vocês, que jogadores fariam parte deste restrito grupo?
Durante as últimas épocas, discutiu-se muito um suposto fim de ciclo no futebol português e uma consequente passagem de testemunho na hegemonia do mesmo. Creio que a generalidade dos benfiquistas concordarão comigo se disser que é demasiado cedo para concluir essa passagem de testemunho, mas não posso dizer o mesmo em relação ao fim de ciclo. O fim de ciclo é um dado adquirido. O Benfica, com os sucessos das últimas épocas, causou um efeito de tal forma negativo na moral do FCP que a fórmula que esteve na base de décadas de sucesso parece ser já coisa do passado. Cada acto da nova gestão desportiva se traduz na assunção de que já não se consegue derrotar o Benfica usando a estratégia de sempre. O FCP da "estrutura", o exemplo europeu de gestão desportiva, que comprava barato para vender caro, que dominava o mercado nacional, que construía equipas à volta dos símbolos da sua mística, é coisa do passado, acabou. O Benfica ainda não consumou um novo paradigma, mas consumou o fim do anterior. O principal rival é hoje um clube vergado à força das circunstâncias, obrigado a seguir um rumo que talvez nem os próprios dirigentes saibam muito bem qual é e muito menos saberão os seus adeptos. Ganhando ou perdendo, o clube mudou drasticamente, restando apenas saber com que consequências para o seu futuro. É que o dinheiro está a aparecer de algum lugar e quem lá o coloca não ficou rico por caridade.
Maxi Pereira é um excelente exemplo da mudança, por todas as razões, e tão pouco é preciso falar da idade. Em primeiro lugar, é um jogador que valeria sempre mais no Benfica do que valerá no FCP, por tudo o que os adeptos acreditavam que ele significava, por ser sub-capitão, ter margem para errar e consequentemente jogar com um almofada de confiança que em nenhum outro clube poderia ter. O Benfica seria o único clube que aceitaría vê-lo envelhecer com dignidade, sem o tratar como mercadoria ao primeiro sinal de falta de pernas. Em segundo lugar, nem mesmo no Benfica justificaría o salário que irá receber no rival.
Mas claro que o FCP não olhou para as coisas desse modo apenas, percebeu que a força desta acção estaría mais do ponto de vista da nossa destruição do que da sua construção. É uma jogada que procura resultados pela negativa, não pela positiva. Gastar-se-à muito para ganhar algo que será sempre inferior àquilo que o rival perderá. Mais do que uma contratação, é uma tentativa de enfraquecimento do rival. Deste ponto de vista, nem é algo novo, já que viver em função da rivalidade com o Benfica, sempre caracterizou os portistas - daí que quando o clube ganha, não se se celebre o portismo, com genuina alegria, mas se celebre acima de tudo o ódio, a negação, do Benfica, dos mouros, da capital, do centralismo - mas ceder ao ponto de contratar um dos jogadores mais atacados pelos adeptos e pela própria máquina de propaganda do clube, um jogador que poucas semanas antes aconselhou os azuis a lembrarem-se da forma menos clara como têm ganho os seus campeonatos, mostra bem o grau de desespero a que se chegou e o quão irrelevante a famosa mística se tornou para os responsáveis do clube.
E com isto, queria sobretudo chegar aqui: o Benfica parece seguir o seu rumo sem ceder a este tipo de postura, não alimentando o clima de guerrilha. Pecou em não ter retirado de imediato a sua proposta de contrato quando Maxi decidiu aproveitar a fraqueza dos benfiquistas com a ferida chamada Jesus ainda aberta e fazer chantagem nos jornais com uma possível ida para os rivais. Tirando isso, a postura tem sido basicamente inatacável. O Benfica tem-se mostrado convicto nos seus objectivos, no seu rumo e nos seus métodos, que, por sua vez, nada têm a ver com ataques aos rivais ou retribuições de alfinetadas. Esta pré-época tem sido um ataque feroz ao Benfica, a meu ver pior que o verão quente de 93, porque é um ataque que vem de ambos os lados, mas temo-nos aguentado como se exige a um clube com a nossa dimensão. O Benfica deve ser isso, vivendo pela positiva, com a preocupação primária de se construir e não destruir os outros , com um rumo claro que jamais coloque em causa a independência e sustentabilidade futura do clube. Pelo Benfica de hoje e de amanhã. A nossa força não é a de sermos os mais ricos, nunca foi. É que, como diria um tal de Cosme Damião, "No imediato o dinheiro vence a dedicação. No futuro, a dedicação goleia o dinheiro". O primeiro passo para voltarmos a ser o Benfica nos relvados é sermos o Benfica fora deles. Assim tem sido e que assim continue.
Se Maxi decidiu tornar-se no maior traidor da história do Benfica, odiado para sempre pelos benfiquistas e visto por todos como não mais do que um qualquer mercenário, outros jogadores souberam deixar a sua marca no coração dos benfiquistas... até ao fim dos tempos e mais além:
Pablo Aimar, um dos jogadores mais elegantes da história do futebol, pendurou as pantufas. Porque era de pantufas que jogava. Quando recebia com a ponta do pé aquelas bolas longas vindas das suas costas, como se de um passe de 5 metros de tratasse, como fez naquele maravilhoso golo à Académica. Quando conduzia a bola gesticulando para os colegas ao mesmo tempo que bailava em frente aos adversários para os tirar do caminho, como naquele brilhante golo ao Paços de Ferreira. Quando brincava aos cabritos, recepções e golos sem deixar a bola cair, como naquela memorável noite com o Setúbal na Luz. Quando reinventava o significado dos passes de letra, com aquele toque de bola só dele, como fez em Guimarães. Tenho orgulho em dizer que comprei a camisola com o nome e número de Aimar quando na altura se dizia que poderia estar de saída do Benfica. Para mim não importava, porque Aimar, esse sim, é o protótipo daquilo que considero o jogador à Benfica: abnegado, dedicado, corajoso, talentoso e leal. Como Coentrão, como Paneira, como Rui Costa, como teria sido Bernardo, se o tivessem deixado. Não chega correr muito e ser viril para ser um jogador à Benfica. Pelo menos para mim.
Mais raro do que o talento de Aimar, só a humildade com que vivia esse talento, genuinamente. Depois de Rui Costa na minha adolescência e juventude, Aimar é provavelmente a minha maior paixão futebolística, o jogador que mais admirei, que mais me fez sonhar ser um determinado jogador do Benfica, que mais me tornou de novo menino. Jogador de um carisma difícil de explicar, Aimar era simplicidade e classe, humildade e categoria. E tudo isso, Aimar foi-o no Benfica, clube pelo qual sempre demonstrou uma admiração profunda e sincera. O único consolo, meu e de tantos benfiquistas, será vê-lo servir o Benfica fora das quatro linhas. Porque sabemos que será altamente competente seja qual for a área que agarrar? Não, porque é dos nossos e estará perto. Porque é o Aimar, mais do que um jogador à Benfica, uma figura à Benfica.
A equipa do Benfica partiu hoje para o Canadá, onde irá disputar a International Champions Cup. O primeiro jogo será contra o PSG na madrugada de sábado para domingo à uma e meia, e finalmente todos iremos ver a bola a rolar em jogo.
Para este estágio, Rui Vitória levou 30 jogadores, sendo eles:
Guarda-redes: Júlio César, Paulo Lopes e Ederson.
Defesas: Lisandro López, Luisão, Eliseu, Sílvio, Jardel, André Almeida, Nélson Semedo e Marçal.
Médios: Fejsa, Samaris, Gaitán, Ola John, Pizzi, Cristante, Talisca, Gonçalo Guedes, Lindelöf, João Teixeira, Guzzo, Taarabt, Nuno Santos, Djuricic, Carcela;
Avançados: Lima, Jonas, Jonathan Rodríguez e Nélson Oliveira.
Depois de observarmos esta lista, podemos ver que já foram riscados vários jogadores que não contam para esta época. César, Rúben Amorim, Pelé, Mukhtar, Diego Lopes, Murillo, Derley e Rui Fonte não vão continuar no plantel. César estará a caminho do Flamengo, Pelé é pretendido pelo Granada, Mukhtar pode voltar para a Alemanha, Rui Fonte estará a caminho do Braga, Murillo já foi oficialmente emprestado por um ano ao Tondela, enquanto Diego Lopes e Derley deverão jogar na Turquia por empréstimo.
Destas dispensas, a menos esperada é a de Mukhtar, jogador que até haviam algumas esperanças que este ano se afirmasse no Benfica. No entanto, a concorrência para os lugares onde ele poderia jogar é muita. Tanto para as alas ofensivas como para a posição atrás do avançado, há muitos nomes. Depois também se fala que o jogador não se adaptou bem, e que está com saudades do seu país. Um empréstimo a um clube alemão, onde jogasse regularmente, poderia ser uma boa opção. Rúben Amorim também seria algo surpreendente, mas como o jogador não foi chamado para se apresentar, é normal ele não fazer parte das contas. César e Derley foram contratações falhadas, e depois de um ano no Benfica, vão sair.
Podemos ver que destes 8 nomes que foram dispensados, 3 deles foram contratados para esta época. Pelé, Diego Lopes e Murillo, são jogadores que chegaram este ano ao Benfica e que já estão dispensados. São este tipo de contratações que não fazem qualquer sentido, estes jogadores é que são caros e não aqueles que custam vários milhões mas que depois rendem. Há que parar com este tipo de contratações, contratar tudo o que mexe não é uma coisa boa, e deve-se tentar ser muito mais cirúrgico nas contratações, guardando o dinheiro para verdadeiros reforços e acabar de vez com o carrossel Benfica. Depois dizemos que não temos dinheiro, e percebe-se o porquê de ele se gastar.
Rui Vitória vai levar todos os jogadores que chegam da formação do Benfica. Alguns deles podem ser muito boas surpresas para quem não os conhece e não acredita muito neles, vamos ver se aproveitam esta oportunidade.
Djuricic, Nélson Oliveira e Jonathan terão aqui também uma oportunidade para se mostrar. No caso dos dois primeiros, pode ser mesmo a última. Djuricic é um jogador de quem gosto bastante, aquela técnica não engana, mas precisa de trabalhar muito. Tem de perceber que o futebol não se joga só quando se tem a bola, e ser mais agressivo e intenso em campo. Mentalmente precisa também de crescer, mas só de ir nesta digressão pode ser um indício de que pode vir a contar para Rui Vitória.
Pena esta digressão acabar já bem perto da Supertaça, e pena o Benfica ainda não ter disputado nenhum jogo amigável até agora. Talvez tivesse sido melhor para assim haver menos dúvidas em relação ao plantel.
Olhando para o plantel de 30 jogadores, penso que o Benfica precisa de pelo menos 3 jogadores que sejam verdadeiros reforços. Caso algum titular saia, então será preciso mais. Um ou dois laterais, dependendo da questão Sílvio e do que Nelsinho e Marçal mostrarem. Depois alguém para as alas ofensivas como Rui Vitória disse na entrevista, e talvez um avançado que possa entrar de caras na equipa, podendo fazer companhia a Jonas. Vamos ver o que algumas incógnitas nos mostram neste estágio.
Diz-se que alguns jogadores do plantel agora já não servem, porque só valiam por estarem inseridos num modelo de jogo muito forte que o anterior treinador tinha. Concordo, em parte, mas também se não tinham qualidade, não iam jogar assim, e também agora não temos treinador para os colocar a jogar a bom nível? Depois também há a outra face da moeda, jogadores que não contavam, e agora podem contar, sendo reforços para o Benfica.
Vamos ver o que este estágio nos mostra, e aí sim, as dúvidas deverão ser tiradas de quem fica ou sai, e que posições estão carenciadas. Que a bola comece a rolar.
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